quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

sem título que se funcione.

"A situação mais comum, cotidiana, te faz ver que você não é tão pouca coisa. Ou talvez também o é.
Outras situações te fazem ver que você é um bocado diferente, ou pelo menos se sente.
A vida toda te faz faz ver o quanto ela não é nada fácil de se entender. Te fazem ver que não é um autômato que a finge.

Os dias e as conversas que se sobrepõem acumulam dúvidas - sobre você e seus atos/gostos/gostares. Pensares/imaginares/sorrires...sobre palavras e sentimentos que não deviam, mas acabam tornando-se plurais e deveriam, talvez, fluir singulares de sua boca. Deveriam, talvez, satisfazer a necessidade de palavra de quem os precisa, os evita, os ignora. Deveriam, talvez em segundo plano, lembrarem-se que o mundo todo é, ainda, plural. Disso tudo se culpa e sente também.
Disso tudo se sente e se foge, também.
Disso tudo se dói, se suspira e se procura em si mesmo e nos desenhos que resolveu começar.
Nisso tudo se acha, se vê e se dissolve.
Esperando que a passagem se pague, torce para que um outro lugar seja possível, tal qual o amor/paixão/sorrisos/abraços que você viu escondido debaixo da colcha de retalhos que era da sua vó e que ainda teima em mantê-la."

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

"Entender pessoas é algo que ninguém sabe ou gosta de fazer. Cheguei a essa conclusão. Mesmo que consigamos, não vai ser algo de que nos orgulhemos, já que sempre vão sobrar dúvidas.
Pessoas que nos foram sempre positivas e que aparecem, como que do nada à nossa porta, com cara de bosta e humor de assoalho. Pessoas que resmungam sem porquê e contaminam conscientes. Que imploram por ajuda sem saber, mas não sorriem quando são consoladas. E se sorriem, fingem um sarcasmo burro e pegajoso. Falso em essência.

Como sempre escrevi, a eterna teimosia em acreditar que o que se pensa e sente vai vir em recíproca. Vai ser transmitido pelo ar afora, vai contaminar corações e mentes...toda essa balela tilelê do caralho. Não vão, por mais que esperemos isso.

De qualquer forma, sigo feliz, já que aprendi outra lição."

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

"Sair com mais de um destino e um meio único de transporte. Sair para olhar e ouvir o que a cidade te deixa à mostra, o que ela insiste em te mostrar e você teima em não admitir.
Um bom punhado de ruas que te permitem deslizar, andar e cair.
Um outro punhado, por enquanto maior, de árvores e sombras e folhas que te acolhem no caminho.

Foi possível ver a cidade agindo de noite. Existindo, num domingo à noite, com todos seus componentes que nem sempre se evidenciam nas imagens cotidianas. Talvez mais evidentes nas imagens que nos chegam de outras capitais. Outras capitais mais cantadas, de forma urbana, que se amoldam às vivências que resolvemos inserir e que se adaptam às vivências nossas de cada dia.

No sossego que a música escolhida te traz, refazem-se condutas, promessas e apostas. Define-se parâmetros e coisas a serem refeitas. As ruas, vazias, de certa forma, te levam a parar nas esquinas e imaginar outras ruas tão singulares quanto aquelas que criaram a intersecção.

Nessa noite toda conheci uma janela nova. Lá tive um vislumbre de um potencial alguém. Na mesma janela, deixei também uns suspiros e uns olhares distantes. Suspiros meus pra mim mesmo.
Quando voltarei ainda não sei.
Nem quero saber."

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

"A chuva agora vem em intervalos imprevisíveis, sempre surpreendente e reconfortante. Intervalos que se mostram necessários, precisos. Tenho achado sempre um bom motivo na chuva. Uma razão justa que me faça não desgostar ou maldizer os temporais de primavera quase verão.
Acaba que tenho mais visto e ouvido que tomado essas chuvas todas, de longe, do alto, quando, em certas horas, gostaria de estar me encharcando lá embaixo, levando pedradinhas de granizo na careca. Da janela tenho assistido às chuvaradas que molham a escrivaninha, que me fazem tirar o passarinho da janela e tirar as tomadas da parede."

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"Na hora de ficar quieto todos se perguntam os porquês. Me perguntam o que houve, o que me fizeram, quem foi e que dia.
Mas tem hora que só ficamos quietos. Só. Por ficar mesmo, por não ver necessidade em falar mais. Não há a urgência de dizer. Basta o calar. Calar da voz e dos ouvidos. Um estado de silêncio em duas vias, da parte de quem diz e de quem escuta.
Uns chamam de tristeza, outros depressão, alguns de orgulho ou frescura. Mas acho que não se trata de nada parecido.
Tem hora que penso ser só passageiro, tem hora que tenho medo que tudo que já foi volte a assombrar. E no fim das contas, chego à conclusão que não é nada mais que uma vontade de ouvir o que faz som por dentro. Ouvir o que fica abafado enquanto escutamos os outros e aos outros.
É hora de ouvir-se mais."

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A função das coisas

"Outro dia me veio à cabeça a função das coisas, mais precisamente do alpendre.
Alpendre, varanda, sacada...todos com as mesmas. várias funções.
No caso, agora serviria para fingir que sumi, que desfiz em poeira, pra longe desse ruído que me cerca: tevê, máquina de lavar, torneira. Tudo isso rodeia de uma forma tão ensurdecedora que chegar a fazer suar, palpitar. Com certeza seria um bom lugar pra se esconder, no escurinho, olhando a rua, os carros, as gentes, seja no mesmo nível, seja lá de cima, do alpendre suspenso do prédio.

Serve também para sentar depois do almoço, aquele almoço. Sentar e deixar o tempo passar enquanto se saboreia os últimos estalos dos temperos. Sentar para não "fixar a vista" depois de comer, pra não passar mal - sempre diz a minha mãe. Sentar e pensar que rumo tomará a tarde, a noite. O domingo ou mesmo a segunda-feira corrida. um bom alpendre, quaisquer cinco minutos revigoram como banho de cachoeira ou cerveja gelada na ressaca.

Falando nisso, foi no meu alpendre-varanda que tomei as melhores cervejas de minha vida, com meus grandes amigos, que sentem a falta de tal cômodo tanto quanto eu. E foi sentado no sofá ali espremido que trouxe pão quente e café recém coado para aquela que realmente mereceu. Café com pão com Coltrane. E aquilo venceu até a chuva que caía tentando nos intimidar. Me vence no quesito saudade até hoje.

Alpendre é para sentar no canto, desenhar no chão e engatinhar. É pro cachorro esfriar a barriga numa tarde calorenta. É para lavar no sábado cedo e ficar olhando a água evaporar rápido. É pra mudar móvel de lugar, debruçar na grade, sentar nos degraus. É para juntar todo mundo e tirar foto, é pra onde duas pessoas sempre vão, numa festa de casa cheia, se por acaso ainda não são um casal.

Queria um alpendre assim, portátil, para carregar para o serviço, para lugares onde ele se faz necessário.
Lugar onde o silêncio é cobertor, onde a saudade senta do lado e o amor flui pelos poros."

terça-feira, 16 de novembro de 2010

e assim, renascendo, se compra o pão de manhã.

"É hora de andar com as próprias pernas, sem esperar que outras te acompanhem. Não que isso seja ruim, mas que no momento não urge. Não deixa o tempo mais lento, não no sentido que preciso ter.
É a hora de pular o muro e correr pelo terreno cheio de mato da descoberta e da falta de pressa. Tal como fazíamos quando pequenos. O universo do conhecer não tem limites e te empurra cada vez mais adiante. Nesse universo, estar só ou acompanhado é opção. E ambas são excelentes escolhas.
Escolhas de amar de forma imprudente, leviana, talvez. Escolha de seguir o caminho e escolher pela adversidade do cascalho e rispidez da água gelada.
Resolução indefinida do que se quer, mas certeza absoluta de onde se vai e como vai chegar. Certeza plena de calos e tropeços. De chuva fria, de noite lamaçenta. De lua pálida lá em cima, mas de campo limpo e silencioso cá embaixo, em frente aos olhos.
Outros olhos que te vigiam de longe e de perto, mais perto que se gostaria, mas escondidos da vista que se encheria de júbilo e surpresa e medo.
Vidas de todos os tamanhos e origens, sem pressa por vivê-las, sem medo que possam acabar.
Trechos longos a transpor, que vão te consumir em dores nas costas e suor no peito. Cama que te espera, te acolhe como um ninho, chuveiro que te benze, como o céu.
Tudo isso tenho pela frente.
E tudo isso não troco por nada."

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Hora de escrever

"Hora de escrever. Não me pergunte por quê. Só sei que bateu a vontade, creio que na hora certa.
No sábado eu descobri que havia renascido. Assistir a uma aula que, em certo momento, parecia um espelho, um retrato. Um dia todo de desafios, de cobranças e mudanças de atitude. Um dia inteiro em que as ações foram acertadas, infalíveis. Impensadas a seu modo, sem deixar dúvida ou arrependimento.
Ainda no sábado, curti a tarde e a noite, que terminou cedo parecendo que era tarde. Curti as conversas, acontecidas ou não. Curti os sorrisos, os cabelos e as risadas. Tudo regado a chuva, regado a vento e a um horizonte branco de nuvens.

Esse renascimento me levou e ainda leva, durante a semana. Curando as tristezas antes que elas cheguem, abrindo o abraço sem saber quem vai estar dentro.
Me toca de leve, como roçar de folha caindo da árvore, ou respingo de chuva na janela do ônibus - desperta sem assustar.
Esse renascer recarrega o ânimo, estimula a continuar sendo o que se acredita, olhando em frente, para aquilo que talvez se deva.
Encoraja a explicitar seus sentimentos, encoraja a tomar coragem e a perder o medo da perda. Antecipa a alegria, mesmo que advinda de resultados não tão alegres.

Esse renascimento muda tudo. Em mim e ao redor.
Muda o tom da paisagem, o cheiro das coisas e o tamanho das horas.
Encolhe as distâncias, estreita os laços e aperta o coração."

terça-feira, 2 de novembro de 2010

ao mesmo tempo disso tudo, relendo, cansei de pedir.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

de novo. chorar na chuva cansa.

"Enquanto começo a escrever, a merda do facebook está carregando, com todas as promessas de contato e socialidade que nenhuma realidade poderiam te oferecer.
Depois de tantas coisas, confrontando tantas outras coisas, você vê que nada disso te satisfez ou te satisfará. Você vê que é hora de parar de tentar, parar de insistir nisso tudo.
Parece que é hora de admitir sua condição. Que é tempo de se dedicar a aquelas verdades que te confrontam quando tudo que achamos e nos foi dito ser possível, assumindo a veracidade de que nada disso que lhe dizem, sugerem, estimulam ou torçam, seja real.
Talvez seja hora de se botar nos eixos, admitindo a falta cotidiana que somos, aceitando a carência diária que nos preenche. Seria, talvez ideal, reconhecer nossa fraqueza e incapacidade, de poder chegar a quem quer que achemos merecer, e dizer que gostaríamos de estar perto, fazer parte, tocar junto, mútuo.
Não sei o que se passa, não faço a mínima idéia. Gostaria de ter perspicácia ao menos para perceber essas sutilezas e de poder tomar a frente, fazer acontecer da forma que acredito ser digno, respeitoso, sincero.
Gostaria que fosse menos difícil entender as pessoas, e que fosse, igualmente capaz de dizer algo que as suprisse."

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

rasteira

"Dia estranho e calorento. Boa vontade matinal derrubada por gente imbecil. Bom dia ao trocador, bom dia à moça que se sentou ao lado, bom dia ao porteiro e ao segurança. Bom dia ao restante.
Por um tempo durou o sol morno a aquecer as costas, o cheiro do café ali embaixo e a passarinhada fazendo rasante na cabeça da gente.
A mesquinhez se mostra assim que raia o dia. E parece que só eu a vejo. E mostrá-la aos demais causa surpresa. Mesquinhez tornou-se, de tão comum, algo alienígena, novo, quase herético. Absurdo alguém falar disso!
Mas é. Está e faz questão de gritar para chamar atenção, por mais feia que seja. Como dizem, é feia, mas é gostosa - atrai todos a se pegarem com ela.
Bom, o estrago já estava feito e durou o resto do dia, infelizmente e por mais que tentasse arrancar um sorriso e quebrar as pernas desse estorvo.

Bom, o que piora isso é que falta, já cansei de me queixar aqui, alguém. Alguém, que nem o tiozinho do balcão de classificados. Alguém para quem se possa resmungar disso. Resmungar de como as pessoas podem ser sacanas e estragar seu dia num piscar de olhos, sem motivo, só para satisfazer seus malditos egos.
Eu já devia estar acostumado a tudo isso, mas a eterna crença na mudança de paradigma da humanidade sempre me passa rasteira. Normal. Vou me acostumando. Só que seria melhor ir acostumando com alguém por perto pra poder comentar como as coisas continuam tudo na mesma toada.
Bom, no fim das contas, é o que vi hoje: continuamos escrevendo sobre finais felizes. Não importa o que acontecer(depois toma rasteira e reclama)."

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Procura-se

"A secretária do jornal não soube como reagir diante do pedido categórico do cliente, debruçado no balcão.

-Classifique como quiser: namorada, parceira, amiga, consultora, colega, amor ou paixão ou alguém. Desde que escreva e publique - disse.

Procura-se moça bonita, daquelas de tirar o fôlego, de fazer virar o pescoço, de sentir frio na espinha ou arrepio na nuca. Pode ser, também, que essa beleza toda só se mostre para você, sem que ninguém mais ao redor a perceba como você percebe.
Essa beleza não dá pra definir se é física, química ou espiritual. É daquelas que surgem, emanam da pessoa como geada na grama de manhã cedinho. É algo quase fantasmagórico. Por isso arrepia tanto a gente.

Procura-se aquela pessoa que vai te ajudar a viver. Te ajudar a curtir, ainda mais, o viver. A pessoa que só com os olhos ou a voz, te acalma e te faz sorrir de novo, por pior que seja a tensão. É de quem a energia que falei antes surge e se, te alimenta. De onde, provavelmente, vai vir sua pressa, suas vontades, seus gastos e extravagâncias.

Procura-se pessoa que sinta junto, que saiba te ouvir fingir ser poeta. Que sente contigo, ou que leia uma linha bacana do livro por cima de seus ombros. Que debruce no seu colo como gato-criança. Que te distraia sem o mínimo esforço de seus afazeres, que te roube ou te dê tempo. Que reclame pedindo, com manha, que você vá buscá-la se chover. Que a leve se ela se atrasar. Até ali, na esquina, no portão, no ponto de ônibus ou na frente do serviço.

Procura-se quem fique pensando em sumir no mapa, em alguma cidadezica pequena, pequena, cercada de cachoeiras e matagais. Mas que também adoraria ter um apartamento no quinto, sexto andar, com uma varandinha besta, com cadeira, almofada ou rede, onde vocês vão sentar e ver a cidade esfriar e resolver ir dormir na segunda de noitinha, quando o calor expulsar os dois da cama.

Alguém que goste de música. Que dê sorrisos escancarados só de pensar naquela banda. Que te puxe da cadeira pra dançar junto com ela, botando o som lá em cima e os sapatos lá pra baixo da mesa da cozinha. A que faça ou mereça um ataque de cócegas que só pára com falta de ar. Que caia com você no tapete da sala, olhando ambos feito bobo o teto com a lagartixa no cantinho.

Procura-se a solução para uma tarde ou noite mal dormidas, por causa de trabalho, gripe ou amor. O motivo para passeios sem rumo, sem hora e sem nem mesmo se preocupar com o clima. A que fica linda com qualquer roupa, porque é ela que está vestindo. A que chega com o filhotinho no colo e nas mãos a sacola com brinquedo, lacinho, vasilha e coleira. A ração? Ih, amor, esqueci!

Procura-se, mesmo sabendo da aparente raridade desse alguém."

sábado, 16 de outubro de 2010

"Gente escrota e mal educada tem em todo lugar. É o que dizem sempre.
Tá, mas é porque tem em todo lugar que tenho que tolerar? É por isso que tenho que aceitar chiliquinhos de grosseria e babauquice por causa de problemas que, com certeza, são da sua conta e só você sabe quais são?
Não tem jeito de tentar desfazer isso? Desarmar-se? Fazer o oposto do trivial? Já falei isso aqui. Fazer o inesperado até mesmo para você e suas convicções? Difícil? Quer dizer então que já tentou.
Bom, o lance é que isso tudo que se faz, ressoa a sua volta e contamina todo um universo ao seu redor. Estraga o dia de muitas pessoas e você nem percebe. Ou percebe e julga que sua posição te permita e até te justifique tais palhaçadinhas.
Olha, acho que pra curar isso, seria bom pegar um busão, daqueles bem lotados, dar uma volta no centro, de dia, ou de noite, ver o que existe no mundo que engloba e engole o seu num piscar de olhos, todos os dias e que faz tudo que você acha ser a maestria do cosmos a seu favor, se tornar a coisa mais insignificante. É aí que você se vê no espelho. Sozinho, amargurado, perdido.
Torço e não torço para que isso te aconteça, já que decidi, há um bom tempo, que vou mais é fazer o inesperado à opinião do mundo.
Torço também, para que você faça parecido e note o que te acontece ao redor."

terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Numa conversa entre amigos, o papo era sobre coisas que fizeram, que não lhes agradava tanto. Como uma página de livro que deveria, se pudesse, ser arrancada.
O outro argumentava que seria e preferia, simplesmente, ao invés de arrancar tal página, melhor deixar de ler a mesma com tanta frequência, simplesmente deixar sumir a marcação que para ela atraía a atenção.
Completou com a constatação essencial que, desse livro, as páginas não saem e a tinta não borra.

O complicado é que tem horas que as páginas novas, mesmo lidas, permanecem em branco, sem revelarem seu conteúdo. Ficam um bom tempo como que escritas com tinta invisível, que só nos aparece na lembrança daquela primeira leitura. Não há forma de reler com outro olhar, com outra crítica, autocrítica. Não há como grifar, marcar, copiar e entender. Isso só mais adiante, quando crescemos e aprendemos a ler o outro idioma que se esconde nas palavras ali escritas.

Falando em palavras, as do Galeano me acompanharam ontem, ao ouvir a chuva que se arrastava em trovoadas de sintetizador...
"Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais."

domingo, 3 de outubro de 2010

pauleira

"Intensidade. Foi isso que rolou essa semana toda. Semana intensa, desde quinta passada, talvez. Roubada que escapei, beijo, suor, cerveja a rodo, visita à terra dos ancestrais, busão que quase perco, gatinhas, breja cos turta, caminhada extenuante até em casa, coisas que li e escrevi e fiz bem feito, conversas, ajudas, chuvas torrenciais de primavera, gororoba mequidonalds, mais chuva, sapo em vários lugares, umas palas, coração na boca, revelações pra quem sabe alguém ouvir, samba no bairro velho, notícia boa do bairro velho, aniversário à vista, com pizza e breja e friends, camiseta que ficou bonita, pitanga que não pára de aparecer, jabuticabas filhotes, esquema massa no antigo endereço, ansiedade de ver os amigos, de botar o som, de entregar camiseta. Músicas legais demais, tipo trilha sonora do rolê, sentado no ponto de ônibus e vendo a cidade pulsar ao seu (e meu) redor.
Perder o medo, fazer o que se decide assim, no estalo.
Mandar tomar no **, desbaratinar, acordar e quebrar as expectativas de todos com seu bom humor e bom dia, fazendo o oposto do que esperariam de você.Fazer isso prolongar a alegri que começou faz tempo, espalhando e contagiando os outros, perto e longe, conhecidos ou não.
Foi assim que eu fiz esses dias."

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

chuva de setembro de novo

"Choveu de novo. E mesmo estando sozinho, desacompanhado de olhos e ombros para ver e tomar essa chuva, igual uma vez que criei chuva com olhos fechados.
Enquanto chovia eu descobri música boa. Essa música é tão, mas tão bacana, que me remeteu imediatamente à janela, para ver cair a chuva e sentir o cheiro que subia e que todos comentavam.
Da janela então eu vi, no outro prédio, e em outra janela, que mais alguém olhava a chuva, abestado e talvez agradecendo em silêncio a lavação da cidade. Deu um jeito de se sentar e apreciar as gotas respingando nas lâmpadas da garagem. De repente, enquanto eu me perguntava qual seria seu nome, como que se tivesse ouvido meus pensamentos, escuto: "Minhau."
Agradeci em dobro da janela daqui, dando um "oi" sussurrado pro novo amigo, que ainda não descobri o nome. Até lá seu nome vai ser Minhau."

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Assim mesmo, confuso.

"Tenho estado pensativo de novo mas, ao mesmo tempo, gostaria de não estar. Nem assim nem aqui, dessa forma. Gostaria talvez, de estar longe, no tempo e no espaço, pra frente ou para trás.
Só não queria encarar as coisas da forma como elas vêm surgindo. Uma forma incômoda, pedante. Coisas que só fazem ver que há algo de errado, em algum sentido das coisas e pessoas. E pior ainda, esses acontecimentos só reforçam o que sempre tive e tenho em mente; que pessoas decentes não se portam de tal e tal forma, que faço o bem, mesmo que involuntariamente e sem esperar recompensas, que sei que nunca vêm. Tudo que deveria me trazer tranquilidade, conforto ou algum tipo de sensação de dever cumprido só me volta os olhos para as falhas que acabam por surgir.
Não entendo mais. O errado está naquilo que fere, desconsola e tira o sossego ou reside nas ações que surgem apenas delas mesmas. No bem que simplesmente dá um passo para fora da varanda onde senta quieto, esperando sua carona? Tem hora que tudo isso parece bagunçado e fora de lugar.
Pedir música para comemorar suas conquistas que colocam à mostra as maiores falhas e dependência de atenção? Pensar que seus conselhos, por sinceros que sejam, mostram-se mais eficientes se vistos depois de dados. Revistos. Ver que muitos dos problemas que pedem tais conselhos não passam de uma falta deslavada de vergonha na cara. Daquelas que gera uma bronca da tia ou da professora: "Sossega, moleque!"

Tudo cansa, desanima. Tudo, ao mesmo tempo, pede uma conversa longa, sem hora para acabar, num sofá, varanda, mesa de bar ou dentro do carro. Uma conversa que sirva de combustível para conhecer todos os quarteirões do bairro. Todas as ruas do centro daquela cidadezinha pacata.
Nesse momento falta o ouvido a completar o trajeto das palavras, as mãos e os dedos para segurarem um ao outro e não deixar que percam o rumo, já que pisariam em nuvens. Os olhos para certificar com silêncio o entendimento da queixa, da dúvida.
E, por fim, a boca com sorriso em flor.
Fim que pode ser um começo, vai saber..."

domingo, 19 de setembro de 2010

Caraça, nove e tantas da noite

" O lobo não veio. E isso causa em todos os presentes um enorme sentido de frustração. Descarregam no próprio lobo suas reclamações, à falta de um serviço de atendimento ao consumidor. Consumidores, usuários, usurários, onerários do valor natural das coisas. O lobo deve vir. É sua função, antes de ser - mau ou guará - servir aos caprichos do irmão mais velho que esqueceu sua condição.
Esqueci também. Faço parte dessa turma de esquecidos. Mas quero frisar aqui que tento me lembrar sempre do que, em essência, fui e somos. Das formas de ver, de se ver, que permeiam e entranham-se em nós, e que nos esquecemos de usar no dia a dia.
Vejo como somos tentados a nos envolver em tal balbúrdia e nos negarmos a fazer o simples, o que se tornou incomum e imprevisível. Fazendo o incomum surpreendemos e assustamos. Impressionamos mascarando. Ocultando a impressão que porventura tentaríamos passar, permitindo que as visões e vivências alheias definam nossos gostos e funções. Definham, se conseguirmos ver dessa forma, as forças que os passos nos deram, fazendo ruir toda nossa confiança - em nós e nos demais.
Reviramos os olhos buscando ao redor um lampejo de firmeza. Um degrau de pedra lavrada que sustente a força que somos e temos à disposição. Que nos torne, ao toque, também um degrau para quem quer que precise de apoio. Seja para subir e olhar além, seja para se manter no mesmo posto e prepara-se para a sua vez de ser pedra, água, montanha..."

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

setembro e chuva fingida




"Outro dia falei sobre um dia de tarde, onde senti cheiro de pitanga e jabuticaba. Pra provar tenho a foto, das primeiras temporonas, apressadas em aparecer.
Já as pitangas são menos afoitas, mas nem por isso menos urgentes, já que mal nascem, maduram rápido, traduzindo o cheiro das flores em cheiro de fruta madura. Ambos lindos, ambos, me desculpem os mais puristas, um tesão.
Cheiro de pitanga, em flor, eu já vi em perfume de grife. De jabuticaba, só em pote de mel na beira da estrada, pareado aos de laranjeira e eucalipto.

Mas bom mesmo, bonito de se presenciar, é cheiro de fruta nas mãos ou na boca de algum alguém (que de novo não sei nome), quando a jabuticaba estala entre os dentes e o céu da boca. Aroma forte de quando a pitanga deixa melar aquele suco sangrento e cheiroso do momento da polpa mordida. Nessa hora eu sempre, invariavelmente, olho pro céu, que invariavelmente está dum azul, sem fim.
Nessa hora eu percebo, bobo, que estou sozinho, sentado no chão, de pernas cruzadas, falando com os papagaios, lambendo os dedos manchados de vermelho-açucarado."

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

né?

"É tanta coisa que tem me acontecido que ainda estou digerindo e organizando tudo. Isso me atrasa pra escrever, já que alguma coisinha que não sei o nome nem de onde vem me vive me dizendo para pensar primeiro, e depois escrever algo. Não faz sentido.
Essa coisa-sem-nome parece achar que precisa-se planejar para escrever algo legal. Não sei de onde tirou essa idéia. Besta.
Mas o que é verdade é que nessas últimas duas semanas só ganhei surpresas.
Tem hora que me pego olhando de cima, meio que como desse para ver o alinhamento das coisas; como se desse pra ver tudo se ordenando, chegando no lugar.

A cada dia uma novidade, seja em forma de notícia, conversa, cerveja ou sapo gordo num brejo inesperado.
Pode ser também um sapiquinho pequeno, pequeno, do tamanho da unha da gente, um pastel de siri ou um filme bacana que bota pra pensar.
E pode ser tudo isso junto.
Juntado com acordar às cinco da matina e ir dormir às 4 da outra matina, num dia cheio de coisas para serem feitas, com olhares que te guiam para sorrisos que te botam pensando como seria bom dar um beijo na boca que contém esses sorrisos, fazer cafuné nos cabelos que emolduram o rosto onde mora a boca e abraçar aquele todo com uma gentileza firme que dê vontade de se recostar e aproveitar o abraço durante uma tarde lenta, morna e luminosa."


terça-feira, 31 de agosto de 2010

Acordei assim

"Hoje tive um sonho bom.
Nesse sonho tinha uma saudação e um abraço, que trouxe junto um beijo na bochecha, super macia, por sinal. Daí veio outro beijo, daqueles meio atravessados, que foi pra perto da orelha. De lá os lábios desse alguém traçaram seu caminho até os meus, levantando aromas de flor por onde passaram. Flor de pitanga.
Um beijo manso, quase em câmera lenta, intercalado pela coisa mais bela que já ouvi em sonho, e que vou escrever aqui e dizer para o primeiro alguém que merecer. Sussurrada ao pé do ouvido, como um segredo de estado.

- É muito bom poder sentir teu gosto junto do meu.

Sem mais para o momento, extasiado fico, pensando quem seria esse alguém do sonho e se alguém igual virá.
Quando descobrir eu conto."

domingo, 29 de agosto de 2010

...

"Depois do sumiço de três dias, me chego à cadeira e vejo notícias e novidades de tirar o fôlego.
Não que o sumiço não o tenha me tirado antes, como nas fotos do post abaixo. Tirou e repôs, inflou de novo os pulmões que ofegavam por vento. Vento que me abafou os ouvidos para ouvir o silêncio lá longe, no cerrado.
Vento que sacudiu os bambus ao lado da casa, fazendo arrepiar e ansiar pelo jantar fumegante. Esse mesmo vento levou as nuvens para outro lugar que precisasse delas e nos deixou embaixo de um céu que, sem muito esforço, me deixou sem palavras.
Talvez fosse o vento, também, responsável por um presente inesperado, uma lembrança da grandeza do todo que contém o vento. Um presente frágil, juvenil, mas com uma força estupenda, uma energia impossível de contenção, que irradia pelo teu braço e te inebria e te amolece.
- Obrigado, pensei olhando para meu pulso, onde algo mais pulsava em sintonia.

Espero que essa grandeza que senti, assisti, toquei e agradeci, sirva a quem eu sei estar precisando.
Que sirva de abraço. Daqueles de saudade, preocupação e abrigo.
Que faça cafuné. Daqueles gentis e brincalhões.
Que aqueça. Como café e lenha no fogão.
Que anime. Igual fazem sorrisos misteriosos.
Que te empurre para a cama com uma certeza um pouco maior de que as coisas vão se resolver."






Meu eu de antes; que alguma dessas palavras te afaguem e acalmem.


quarta-feira, 25 de agosto de 2010

caneca vazia de café

"Tá esquisito. Estranho e desconfortável.
Desde quando acabou a aula e pisei nos corredores? Talvez, não sei precisar. Não, antes um pouco...zumbido nos ouvidos, vontade de que o mundo se calasse e eu pudesse ouvir só o vazio na minha cabeça e o frio na minha barriga. Dessa forma eu poderia, quem sabe, descobrir a causa de ambos.
Frio na barriga igual quando entrava aluna nova na sala e você se apaixonava imediatamente. Igual mas diferente, porque não estava em sala e não tinha aluna nova. Diferente também porque é algo que justamente tenho me feito evitar; gostar e pensar em ficar a fim de alguém agora. De igual mesmo só o frio na barriga.
Senta no ônibus não há música no rádio que te faça sentir melhor ou que remeta a lugares mais legais. Tudo na rua fica melancólico apesar do céu azul, lindo.
Volta a mesma imagem na mente, da professora apresentando a Fernanda, lembro até hoje. Era mesmo uma gatinha, que não deu a mínima para o que eu ou alguém mais pudesse estar pensando. Mas enfim...
O negócio é que tem algo entalado e não consegui identificar onde está e o que é.
Deve ser o dilema que tanto falam, entre a razão e o coração, aquelas coisas todas coisas que ninguém entende, nunca. Será que é uma necessidade orgânica de ter alguém, que bate de frente com a vontade de ter foco para fazer o que precisa.
Existe um meio termo nisso? Existe uma condição que concilie? Existe um lugar que acolha os dois sentimentos?
Se for realmente um gostar, porque esse gostar "oculto"? Se for um conflito, que partes estão em atrito? E se referindo a quem? O quanto os olhos têm que ser mais abertos para que se consiga enxergar tais formas?
Ou será que tenho é que fechá-los de uma vez por todas?"

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Simples assim.

"Você anda na rua e ganha um sorriso inesperado de uma mina linda e nada discreta quanto a te olhar. Só isso já basta para te botar nas nuvens durante o resto do entardecer.
Você ajuda as pessoas sem interesse e recebe uma demonstração de apreço tão bacana, que te deixa boquiaberto, pela raridade de tal coisa nos dias de hoje.
Você recebe um convite inusitado, que te faz ver as coisas por outro viés, o que te faz acordar de uma maneira diferente.
Presencia mostras sutis do reconhecimento de suas competências, e isso te dá mais gás na corrida.
Consegue fazer seu serviço render de uma maneira incomum, sem precisar, para isso, correr ou se atolar em papéis. Aí você percebe que sabe o que te ensinaram e o que porventura tenha aprendido sozinho.
Percebe que perdeu a preguiça de levantar os olhos para olhar o céu, azul e quente dessas tardes de agosto.
Nota que passou a apreciar os sabores, aromas e texturas mais do que antes, quando anestesiava seus sentidos com cerveja e comia por comer.
Sente que tem um entendimento muito mais refinado das coisas, que só aparece quando se está calado, observando detalhes.
Nota que o vento está mais doce.
Que os cachorros estão abanando mais o rabo.
Que logo vai ter jabuticaba e pitanga.
Que logo vai dar pra pegar a estrada, tanto para perto quanto para longe.
E que quando for, vai ter gente feliz por isso.
E ainda, que vai trazer um monte de fotos.

incrível o que uma volta no quarteirão te faz..."

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Duvido que não vai abrir um sorriso


"Somos egoístas sim, sempre. Quanto a dinheiro, chocolates, amigos, livros e escovas de dentes. Egoístas quanto a sapatos e retratos. Três por quatro.
Egoísmos pessoais, profissionais e tudo mais. Egoístas com palavras, cores, sabores e lugares.
Até com amarguras e pesares somos egoístas. A minha dor é e sempre será maior que a alheia. Eu sofro mais, eu sinto mais, eu apanho e sou mais injustiçado que qualquer outra alma nesse mundo ou em outro.
Somos ou ficamos assim? Deixamos isso surgir e crescer involuntariamente ou adubamos essa erva a cada dia, hora, passo ou noite que sucumbimos? E por que não conseguimos desenraizá-la do canteiro? Por que sempre sobra espaço para esse egoísmo assentar?
Somos egoístas até com aquilo não nos é mais direito, não nos é mais comum ou passível de estimar, guardar, das vistas alheias ocultar.
Lembranças, medos, raivas e até sorrisos! Onde já se viu!? Não partilhar um sorriso deve levar direto ao inferno, aquele lá, quente que tanto dizem.
Mas aí te pego numa pergunta: e abraço? Você já viu alguém que não partilhe um abraço, um beijo ou um cheiro? Um brinde, uma risada na praça ou uma céu estrelado no escuro.
Isso tudo eu nunca vi ser segregado, pelo menos pra mim, que sempre que tenho a ventura de achar ou ser presenteado com algo assim, já vou logo espalhando aos quatro, cinco, todos os ventos em todas as janelas, que se não estiverem abertas, que faço abrir para berrar o que encontrei!
Espalho a fofoca dos meus achados diários; gente, bicho, planta e céu. Brigadeiro, refrigerante, figurinha e tomatinho-mijão nascido sem querer no canteiro. Tronco de jabuticabeira branco em flor, rabo abanando com o dono de barriga pra cima, lasanha, nhoque, gengibre e música.
Um algo morno que te esconda protegendo, te acalme incendiando ao redor, que coloca tua alma nos eixos e teu coração na oficina..."

Fui...

"Agora há pouco cheguei à conclusão que não vou mais.
Não vou correr atrás de quem parece estar esperando por isso.
Não vou mandar mensagem, email, recado ou sei lá mais o quê.
Não é nada pessoal, quer dizer, pessoal entre eu e alguém, é pessoal só pra mim.
Eu, faz pouco tempo, não senti mais firmeza, sabe? Senti, na verdade, que te agrada ver que gostam de você. Tem hora que parece que te agrada falar um "não" debochado na cara de quem, por acaso se declare. Por isso não vou.
Não vou também esperar sentado que a providência me traga as coisas. Vou buscá-las, bem à vista de todos. Tal qual fiz esses dias, sem receio ou timidez.
Vou buscar o que é meu por direito, estando meu nome escrito ou por escrever.
As ferramentas e oportunidades já existem, basta arregaçar as mangas e começar a cavar.
Para isso sim, eu vou. Aliás, já estou a caminho e não pretendo parar ou voltar atrás. Tampouco esperar por quem quer que seja.
Se por acaso precisar, tente seguir meus passos e subir as pedras que transpus. Não sei se vai conseguir, mas nada o impede de tentar; ficarei até feliz por servir de inspiração.
Chegou a hora de ir, mas não onde você ou qualquer outro possa esperar."

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Liste-se

"Tem hora que vemos como as coisas são simples, como se traduzem em coisas simples. Como são coisas simples em essência.
Uma amiga me disse hoje: "a vida ensaiou umas respostas que sabia que iam agradar!" e é isso que justamente penso e peço agora, para mim e para todos, para uma pessoa em especial, que a vida nos dê essa resposta boa. Que nos permita esse agrado, esse afago, para que possamos continuar fazendo o que nos fez chegar até aqui, hoje, agora. Para que nos permita fazê-la cheia de coisas simples e maravilhosas. Belas e terrivelmente complexas.
Múltiplas.
Deixo aqui meu pedido a quem interessar possa. E a quem resolver caiba.
A minha parte eu deixo aqui, anotada, transcrita dos meus olhos que marejaram agora há pouco, por lembrança e por incapacidade para forçar o bem a acontecer.

Deixo aqui minha lista:
- um abraço apertado, daqueles que cobrem a gente, nos permitindo sumir do mundo por uns instantes;
- uns beijos, variados, que despertem e adormeçam, cada um à seu modo e hora;
- um bom punhado de olhares mornos, dedos cúmplices e cafunés inebriantes;
- sorrisos sem rótulo, orgânicos, colhidos no pé;

Imagino agora quem já fez a sua lista de amanhã ou "de amanhã-em-diante"; se não fez, tudo bem, copia a minha, ou me avisa, que eu trago tudo isso em dobro!"

terça-feira, 10 de agosto de 2010

tal qual a luz na foto.



"No final das contas, eu não sei muita coisa mais não. Não sei se esse "não saber" é voluntário, propositado, por assim dizer. Não sei se é referência própria, se é ao modo como levei, levo ou gostaria de levar as coisas. Não identifico se é um descaso pelo dia-a-dia.
Mas esse "não sei" não é pesado nem negativo. É normal. Tem hora que vem como um vento que faz bater a porta, tem outra que mais parece um passarinho que passou voando lá fora na janela.
Acho que é a incapacidade de prever e a constatação de que não se pode direcionar.
É um impulso mudo, invisível, que puxa como se fosse uma corda muito, mas muito longa. Tão longa que nunca se sabe ao certo quem ou o quê está no nosso caminho. E se esse caminho pelo qual, teoricamente, devemos ou seguimos, é simples e sem pontas, sinuoso e espetado.
Como um amigo uma vez falou sobre algo que nos mostra que não temos noção do alvo a ser atingido, mas sim que somos a flecha lançada e que estamos indo em alguma direção, que seja.
Espero que toda essa inquietação inerte que sinto continue e que a placidez não se dissolva.
Isso me faz mais firme, no chão e nas nuvens.
Isso me dá mais forte nas brigas e nas paradas.
Isso deixa silêncio de sobra para ouvir essa música toda, linda, que não pára um segundo sequer e que não me sai das vistas como o amor que vem chegando lá no portão."

domingo, 8 de agosto de 2010

O fim da tarde que fez...

"Ontem teve samba do início ao fim do dia. Teve cerveja também.
O céu tava tão azul que dava vontade de ficar olhando pra cima o tempo todo. E o sol, o vento e o cheiro do dia me puxaram pra fora de casa, direto pra rua.
Um dia tão luminoso que só que se via eram janelas abertas, cachorros na rua, de rabo abanando, criançada barulhenta e sorrisos nas calçadas. Todo mundo ficou bonito, feliz e elegante.
Ao mesmo tempo que não tinha, não fez falta uma mão pareada com a minha, ou um punhado de cabelos pra ganhar um cafuné meu. O dia lindo supriu e fez cantar com tanto sorriso e agradecer com tanto calor que as mãos ardiam de tanta palma depois de cada Adoniran Barbosa ou Nelson Sargento ou Cartola que saía daquele violão.
E eu ia atrás da notas, tentando pegá-las, como que com uma rede de quem caça borboletas. ia pegar e botar no travesseiro.
Ia deixar várias no bolso também, para distribuir a quem merecesse ou estivesse precisado.
Talvez tais notas serviriam de trilha sonora para minhas manias de flertar por aí, na luz bonita das seis e meia..."

sábado, 7 de agosto de 2010

samba de aurora


"Escrever de manhã é sinal de unha encravada ou de zica no caminho. Parece crendice popular, sol com chuva, casamento de viúva. Mas então, sinal de que algo muito bom vai acontecer ou algo de muito chato está incomodando. Infelizmente fico com a segunda opção, mas vou tentar não deixar transparecer (mentira).

Acontece que acordei refazendo os passos que dei ontem, certos ou errados, diga-me quem tiver presenciado. A princípio, o que me tirou da cama foi o desvio de rumo, porque "não há outros motivos pra atrasar objetivos mais precisos" que te faça mais mal quanto aquele que te bota fazendo papel de bobo e de algo que você não é.
Aí tudo isso que você escutou sem precisar, sem ter dado motivo ou deixa para que falassem, te faz sentir feito um sapo trouxa que se deixou ser pego e socado dentro dum pote. Te faz sentir um mané, strictu sensu, que, mais uma vez, desvia tão facilmente dos objetivos.
Depois inventa moda, tentar reparar coisas que não aconteceram, à distância e fora de hora. E faz isso sabendo que não vai funcionar.

Sorte que depois de tudo vem um frase, uma só, que te enche os olhos e te faz precisar dum abraço. Daí toca um samba lindo e você vê que isso é que faz a poesia de viver.
E você vê que não fez nada de errado, não magoou ninguém.
Vê que você só foi você."

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Faça bom uso

"Relendo muito do que já resolvi escrever, aqui e em papéis na gaveta, vejo que durante todo esse tempo tenho relido a mim mesmo, a cada parágrafo que sai. Me agradando ou não, os parágrafos me servem de espelho, de apoio e de bronca.
E me relendo eu me resolvo, me defino e me aquieto. Paro de ficar caçando sarna pra coçar e trato de curar as que ainda coçam, seja com ivomec ou cachaça. Não sei qual dos dois tem funcionado melhor, mas garanto que surtem efeito.
Outras coisas também têm surtido tanto ou mais efeitos que o previsto.
Curas milagrosas que se encontram em qualquer esquina, ônibus ou caixa de email. Remédios e pajelanças ancestrais, infalíveis em qualquer caso, seja crise de riso ou ataques de choro. Curam amores doídos, saudades que beliscam e vontades que tiram o sono.
Pra essa medicina, mais que popular e tradicional, não precisa ingredientes miraculosos, trazidos de reinos distantes por andantes cavaleiros. E não tem o risco de ser levado à fogueira por inquisidores invejosos.
Cura-se rápido, mas nem sempre indolor. O choro pode ser parte integrante, porém indispensável e responsável pela cura em muitos dos casos.
Esse remédio não tem na farmácia, mas também não tem contra-indicação. Overdose dele não é letal, mas o oposto.
Recomenda-se tomar com abraços, carinhos, cafunés ou beijocas. Com todos juntos também vale, mas já aviso que esquenta mais que febre e desnorteia mais que pinga.
De qualquer forma, vale a pena."

terça-feira, 3 de agosto de 2010

e não é que é?

"Bom, quando me dei conta que estava ouvindo música, percebi que eram uns doidão lá de Seattle que tocavam o terror no palco e onde quer que estivessem.
Depois, começei a escutar cinco cabeludos da Inglaterra, que tinham um zumbi por mascote. É, zumbi, isso mesmo.
Depois desses, ouvi outros cabeludos, também do Reino Unido, onde o cantor gostava de comer morcegos vivos. Daí descobri uns caras aqui de BH mesmo, que faziam um puta som da pesada! Eram quase vizinhos e eu não sabia. Nessa época me apresentaram uns figuras americanos que tocavam musiquinhas mais curtas, impossíveis de esquecer, igual calçar o allstar pra ir pra escola. Não dei muita bola no começo, mas como eu disse, não parava de cantar as músicas deles um segundo sequer. A partir disso foi uma cacetada de bandas de cabeludos, bem pesadas, umas tinham logotipos tão embaraçados quanto o cabelo dos respectivos integrantes.E se não me engano, essas eram bandas dos estaduzunidos, em sua maioria, rs.
O que mais gostei de ouvir foi um negão canhoto nascido em Seattle e morrido em Londres. Esse
tocava guitarra que era uma beleza! Até hoje arrepio escutando o que ele aprontava.
Conheci gente nova, e com isso, banda nova. Dessa vez foram uns malucos da Califórnia, que tocavam bem rápido e com poucos acordes. Bem legal, dava pra agitar um bocado! Daí ouvi também uns mulekes da Inglaterra, todos cheios de alfinetes e tal...legalzim o som. Mas o som dos quatro de calça jeans e couro era melhor, sem dúvida! Fui procurar mais coisa parecida, e acabei chegando a coisas da Bélgica, Holanda, Alemanha e tal, muito mais rápido, com pouquíssimos acordes também. E como gritavam, os danados! Nessa levada, chegou na minha mão um disco duns conterrâneos, onde até esmeril virava instrumento.
Aos poucos fui descobrindo umas bandas que faziam um som meio que parecido, mas melhor que os caras da Europa. Tinha uma galera da boa em São Paulo capital, ABC paulista, e acabei conhecendo gente que nem eu e que também queria fazer um som parecido, gente de norte a sul do Brasil, só que nós gravávamos em fita. E era um tal de manda fita pra lá, recebe fita de cá...
Nessa mesma época, talvez paralelamente, me veio a vontade, sei lá de onde, de saber o que diabos um véio barbudo, alagoano dos brabo, fazia de som. Foi a melhor coisa que já tinha ouvido até então, depois e junto com o canhoto-guitarrista.
Junto com esse fui atrás de outros malucos que tocavam trompete, piano, sax e afins, tanto gringos quanto brasileiros. Ouvi uns caras que mandavam bem no violão, bem melhor que os cabeludos nas guitarras.
Passei por uns caras, três amigos, garotos ainda, de NY, depois outros dois, que pelo nome deviam ser irmãos, e que a química entre eles era bem bacana. Prodígios, uns caras e uma mina, que eram da Alemanha (mas que não podiam tocar lá), que aprontavam uma zueira dos infernos, boa!
E mais tantos doidões fazendo música sem instrumentos de verdade. Até ir ouvir os caras tocarem no meio do mato, de madrugada eu fui, a pedido de uma ex-namorada.Dessa turma ouvi um punhado de bandas, que hoje sei que são "estilos", "vertentes" e etc, toda essa conversa de gente que manja de som.
Ao mesmo tempo eu ouvia, em casa, meio que às escondidas, um doidão que sumiu pela
Índia e voltou, com a cítara e a tabla; ouvia também o já mencionado velho barbudo, o que irritava a supracitada namorada.
Depois, acho que meus ouvidos tavam cansados de tanta pauleira, que procurei algo mais calmo e mais linear pra ouvir nos fones de ouvido...descobri um paulistano que andava de skate e que fazia umas letras rimadas certinho, com uma métrica espetacular e cheias de elementos bem cotidianos.
Daí conheci mais coisa que brasileiro fazia, com pandeiro, violão e palavras, também bunito que só. Conheci três gatonas, balzacas que cantavam músicas que pareciam do tempo da minha vó. E também uns caras do sul que faziam música que se cantava dando risada e falando palavrão.
O mestre das festas universitárias do nordeste também tocou lá em casa, irritando e acordando muita gente, por sinal. Do nordeste e centro-oeste também ouvi um bom punhado de bandas bacanas pra danar! E aqui em BH descobri mais um maluco de NY que misturava faixas e mais faixas e trechos de vídeo e oscambau, bão tamém! E na sequência descobri um que fazia parecido e até melhor ao vivo, aqui perto de casa e com um controle de videogame.
Disso eu fui parar na Jamaica, ouvindo música boa e cheia de chiados, em disquinhos pouco maiores que um cd - que era o que havia de melhor em "primor e qualidade" na época dos cabeludos. Esses pratinhos de vinil, com uma faixa de cada lado, rapaz, que sonzera tem ali! E dali de volta pros negão dos trompete, foi um pulo. Nessa veio outro paulistano que rima e improvisa com uma facilidade sem igual, e que canta palavras bonitas que dá vontade de ter uma namorada pra usar os versos dele pra ela.
Apareceram também umas minas, bonitinhas, com vozes bem legais, uma tocando harpa, outras violão e cantoria. Uns quatro ou cinco, ou seis negrões, tocando sem ligar na tomada, e por aí tô indo...

Bom, isso é o que eu consegui me lembrar e o que consegui descrever, porque teve nesse meio tempo, uma caçambada de som que acabo de me lembrar, mas que não sei como descrever. Engraçado como a gente ouve tanta coisa, esquece outro tanto...e quando se dá conta, já ouviu coisa pra caramba!
E quanto a você?"

domingo, 1 de agosto de 2010

Chega.

"tem hora que tudo cansa e desgasta. Palavras dispensáveis criando situações desnecessárias. Mal-estar, chateação e vontade de chorar, sem motivo, apenas pelos acontecimentos que resolveram acontecer.
Uma ausência que não se traduz ou se mascara. Uma e várias faltas que se apresentam a cada momento, gerando tristezas e engasgos que não têm nome por quem sejam resolvidos. Essa é a falta, um ombro, abraço, encosto, colo. Falta isso e a cada dia finjo que aprendo a lidar com tal problema. Quero, queria um outro coração, outro diafragma do qual eu pudesse acompanhar o subir e descer das costelas. Um jogo de dedos que apertasse aos meus com força e seriedade. Um par pálpebras que eu pudesse fechar com um, dois ou três beijos roubados.
Me falta alguém a quem roubar beijos.
Só."





P.s.: por enquanto cansei disso, não é nada pessoal.

outro

"Engraçado como surgem mudanças tão significativas de uma forma tão suave. Coisas e acontecimentos que te puxam de dentro do marasmo que deixamos que se forme de tempos em tempos. Nos levam à superfície de nossos olhos, os quais esquadrinham todo o horizonte em busca do conhecimento.
Trazem para perto certezas, decisões e coragens.
Nos botam cara a cara com a vida, para que paremos com a mediocridade de negar os desafios que aparecem.
Aos poucos percebemos que o mundo não é justo. E que também não é injusto. Apenas é.
Caberia a nós julgarmos os resultados? Adequá-los à nossa conveniência?
Fazemos isso sempre, na esperança de um entendimento imediato do desenrolar dos fatos, o que nos faz amaldiçoar aos quatro ventos toda nossa existência.

Demora para que as coisas tomem seu formato devido.
E demora ainda mais para que nós, inquietos e teimosos, percebamos o lugar de cada uma dessas coisas e a sequência que todas elas formam."

terça-feira, 27 de julho de 2010

Retalhos de sono REM

"Ontem e anteontem sonhando bizarrias, estranhezas e até comédias. Devaneios sem um pingo de noção, que misturam todos os lugares por onde passei, todas as pessoas que conheço e todas as emoções que consigo entender que sinto.
Faltas, vontades, saudades, raivas cotidianas, risadas trôpegas com cerveja.
Tudo isso misturado como tintas de diferentes cores pingadas num galão de branco, ou preto. Ouros pretos, cabos verdes, belos horizontes e até poços de calda, tudo misto, tudo fluido e moldável. Moldado de acordo com sabe-se lá o que governa tais viagens noturnas, gente, coisas, lugares e ações completamente fora de lugar e que resultam num quadro sutil e simples. Compreensível apesar da quantidade de elementos.
Isso sem contar todos os outros componentes que vi apenas lá, os quais não me acompanharam depois de desperto."

domingo, 25 de julho de 2010

"As coisas boas acabam aparecendo, devagar, plácidas. Chegam sem que as percebamos e tomam seus lugares, decididas. Trazem sempre consigo uma paz indescritível, que nos faz olhar para o espelho com menos profundidade.
Essas coisas boas surgem na forma de palavras, escritas ou faladas, que brotam sabe-se lá de onde, nas horas em que menos se imagina. Andam em mão-dupla, estacionando sempre que têm vontade.
Coisas boas também são trazidas por amigos, de longa data ou não, de perto e principalmente de longe. Amigos que te dizem o que você nunca está preparado para ouvir. Que te confessam tranquilidades e suspiros. Amigos que te deixam inquieto, doido para vê-los logo, estando eles onde quer que seja, te criando vontades de conhecer novos lugares, de fazer novas andanças.

Até que enfim as coisas boas chegaram; ou melhor, até que enfim eu as percebi aqui, espalhadas por toda a parte em mim."

quarta-feira, 21 de julho de 2010

"A cabeça tá vazia. Bom ou mau sinal?"

terça-feira, 20 de julho de 2010

"se cuida"

"Hoje ainda é dia do amigo. Como se precisasse de uma data escrita para exercer tal estado de espírito. É bom, pois nosso coração nos guia a chamar quem merece realmente, de amigo.
Estreita-se laços sem nem mesmo perceber.
É uma data que merecia um destaque maior, mais efusivo, talvez. Por outro lado, é uma data que comemora-se cotidianamente, sem pudores e sem rigores calendarísticos.
São abraços apertados, preocupações e felicitações sem motivo, pela existência, simplesmente.
São brindes, sorrisos, risadas que surgem de lá de dentro, que nos buscam e nos desafogam.

Ontem ouvi uns músicos nova-iorquinos, os quais reforçam sempre o caráter orgâncio, não só musical, mas pessoal, humano de suas músicas. Música tocada por pessoas para pessoas. Na rua ou onde quer que elas estejam. A essência, na minha opinião, de ser humano, pela nossa necessidade intraespecífica de nos relacionarmos. Não adianta, só temos à nossa própria e única espécie para nos comunicarmos e nos entendermos, por mais que este último seja mais difícil de se atingir.
Aliás, o quão bem nos faz esse entendimento, essa inquietação de querer sempre estar falando, teclando, olhando ou tocando alguém.
Como gostamos, por pior que se portem alguns de nossos conspecíficos, buscamos e precisamos conforto e alegria em nossos irmãos.

Esses músicos, tal como vários outros, me pareceram cansados de todo essa impertinência contemporânea. Cansaram-se de ver carrancas e pesares, pelas ruas pelas quais andam; resolveram mudar isso à sua maneira.

Aqui mudo a toda hora, em toda linha. Mudo de rumo e de foco. Nunca da minha vontade de aproximar, sempre, meus opostos, meus extremos. Amigos do sul com o do norte, da escola com os do trabalho. Os trago para casa e marco com todos no caminho dos outros, esperando que nessa intersecção amizades se reatem, revejam, se confirmem e se fundam.
Tornem-se um, dois, vários, todos."

domingo, 18 de julho de 2010

" Me entristece ligar e ouvir não
Me entristece não ligar e imaginar o sim
Me desnorteia lembrar do bom
Me desanima olhar pra mim

O dia que passa sem alguém
A noite, de estrelas, com ninguém
A nova ordem que se repete
A velha melancolia que se apresenta

Uma tentativa falha de traduzir em poesia algo que nem eu soube digerir. Outra tarde vazia, meio vazia, com e sem vontades, com e sem sorrisos.
Uma necessidade de atenção que transita entre a carência e a infantilidade, que me divide entre análises e abandonos de realidade. Necessidade de conversa que nem sempre se supre com o que tenho em mãos. Necessidade da conversa viva, física, palpável. Carência de abraços, que lembro não ser só minha. Carência de coragem, talvez.
Mas ao mesmo tempo, confusão dentro da cabeça, enjoada que te cutuca. Medo de ligar, ouvir o que não se deseja e piorar por isso. Medo de não ligar e despediçar uma boa hora, uma boa conversa.
Escrever linhas medíocres como forma de dar vazão. Escrever tédio em linhas feias."



sábado, 17 de julho de 2010

Como se faz?

"Estou misturando e confundindo idades. Quantos anos eu tenho se quero me embebedar em casa, num raro fim de semana em que fico quase sozinho em casa?
Quantos anos tenho ao desistir de tomar cerveja e comer coxinha num buteco pé sujo ali na esquina?
Quantos seriam no caso de querer receber amigos, em casa, numa noite de sábado, igual hoje, para algo de comer e algos de beber, vários algos de ouvir? Seriam 18, 20, ou seriam vinte e nove, trinta?
E para ligar o John Coltrane, trilha sonora de café com chuva, quantos anos seriam necessários?
Evitar a rua e ficar por conta de filmes do Truffaut falando de gente morta?
Desistir de abordar uma morena bonita que retribuiu teu flerte?
Reparar demais nas casas e janelas cheias de risadas?

Como fazer para nos entendermos com nós mesmos? Essa eterna briga de vontades, essa peleja de desistências?

Confuso e confuso.
Vou ver tevê com minha nova colcha de retalhos."

quarta-feira, 14 de julho de 2010

"Lua, frio, chá e simpatia. Ao lado, me tirando o sossego desde a chegada, parada na frente do carro, fotografando sei lá o quê. Desde então a vi pelos corredores, no almoço e na janta. Mas foi vê-la sentada no degrau, só que nem eu me sentia, que me despertou a vontade de conhecê-la. Mais simples do que eu imaginava ou tentei fazer ficar. Foi bom, o sorriso era lindo e as bochechas também. Pediam um beijo estalado, que não tive motivo para dar. Valeu cada segundo sentado ali, ou ali, no degrau ou cadeira, vendo-a de frente, lado ou costas. Valeu despedir com um sorriso e um elogio. Completou a passagem por um lugar que tomei como meu, um céu que me esconde e me acolhe, uma imensidão que me amplia a alma e afaga o coração."

domingo, 11 de julho de 2010

"Anteontem, quinta-feira, resolvi subir mais um degrau. Na verdade, subi sem nem mesmo perceber. O tempo foi ficando para trás, com cores diferentes no horizonte e novos sorrisos no álbum. Alguma cumplicidade discreta, possível, talvez.
De cima desse novo patamar, vejo agora meu chão, novo chão. Diferente do antigo chão que costumavam me roubar, e que me passou agora, com a cara dos últimos ladrões estampadas na foto de um amigo.
Vejo também meu novo redor, com suas partes, almas presentes, carinhosas e maduras, sinceras e modestas. Simples no todo. Vejo afinidade, vejo objetivo e me vejo em paz.
Vi no sul de Minas tenho mais uma cidade para visitar e conhecer, que tem no nome a minha cor favorita. Tenho também outro canto, escondido aqui perto, encravado no cerrado, ofuscado por um céu que me tira as palavras. Lá posso ir e ficar sozinho, comigo e com os outros.
Vejo as conversas que não se acabam, sempre deixando coisas por dizer e sorrisos por trocar. Dessas conversas me surge vontade de olhar de perto, de abraçar e olhar de novo. Dessas conversas firmo o pé no novo degrau. Firmo a alma e o coração para não deixarem nunca de bater, pulsar, viver.
"A vida pede para ser vivida." me disse meu pai numa conversa das muitas que sempre temos, das várias que surgem e tomam corpo. É dessa vida que me faço substância, que me moldo e me consolido no estar aqui agora, nem antes/ontem ou depois/amanhã.
Vi também que a passada para uma nova fase não foi só minha. Foi ao meu redor, como se contagiada pela mudança vizinha. Sinto mais segurança em quem realmente dela carece. Mais segurança em si mesmo, frente a mudanças bruscas, de hábito e de rumo.
Vi e continuo vendo afinidade e objetivo. Vejo paz aqui, para mim e para você."

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Idas que parecem voltas


"E aí? Como foi? Pra mim foi ótimo, providencial, até.
Fui num dia, estiquei mais dois, vivi todos feito muitos, demais!
Fui e cheguei, no mesmo passo, com pesos diferentes a carregar. Deixei vários no caminho e na estada. Na estrada de volta, não deixei nada, só a saudade de algo bom que não sei nomear.

Vi de tudo um pouco.
Assisti notas musicais furando a pele, cores saindo dos violões, sorrisos dançando.
Olhei pela esquina da igreja, enorme, incólume e silenciosa. Lá dentro paz em forma de arte, rubis transmutados em gotas de sangue. Sinos majestosos guiados por mãos pequenas, olhando curiosas lá de cima.
Vi calor nas acolhidas, nas novas mãos que apertei, novos abraços que ganhei. Sabores novos, esquecidos por um tempo, que me fizeram esquecer. Mas também me lembraram do calor que pode existir numa tarde de inverno, espremida entre duas noites geladas só no vento - o calor das acolhidas e abraços fez tudo se aquecer.
Futebol na rua, entre o cemitério e o buteco, copo de cerveja e rua de pedra. A rotina que não muda, a missa que chama e a água que abençoa.

Pensei também um bocado. Revi e refiz conceitos, recriei meu passo, meu jeito de andar. Olhei as fotos e tirei novas. Pensei em fotos pra tirar, com a máquina e com a memória. Não escrevi uma linha enquanto estive fora. Daqui para frente elas vão saindo, na medida em que for hora de compartilhar, emprestar para todos nós palavras novas e velhas, para dar alento a quem precisando esteja. Pra dar sorriso a sorrisos chateados, dar abraços em corações, e empurrões para lágrimas, em último caso."

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"De novo essa mania de pensar enquanto observa o que está do lado de fora da janela. Pensar demais e em tudo. De formas até obssessivas.
Pensar no que a mina da frente está pensando, se suas olheiras são de noite mal-dormida ou de choro que não deixa dormir de jeito nenhum.
Pensar se quem está a seu lado está sentindo a serenidade que emana de você mesmo, numa esperança vã de criar contatos, laços momentâneos numa cidade enorme e sem rosto.
Pensar no que o poodle da senhora estaria pensando e querendo dizer ao subir no banco da praça, abanar o rabo e deitar-se, como quem convida o amigo a sentar-se também.
Pensar nas milhares de músicas que devem estar tocando nos milhares de aparelhinhos plugados à orelha de cada um e tentar adivinhar se alguém ouve a mesma música que você, em algum lugar do planeta, que seja.
Tentar não levar os pensamentos a patamares que não cabem, que não ocorrem e raramente vão satisfazer.

Lembrar do horizonte na imensidão de algum campo, que te puxa e te acalma, te lava a alma e oferece repouso entre todos os tons de cor e som que estão ali, todos os dias."

sexta-feira, 25 de junho de 2010

" Sem paranóia e sem perspectiva. Só indo adiante, olhando e tentando enxergar tudo que me apareça pela frente, sem remorso, lembrança ou expectativa.
Se algum desses itens se combinarem, mais força para entendê-los, menos racionalidade para lidar.
Acho que passei a fazer o que julgo bom, correto e inofensivo.
Como música simples num fim de tarde qualquer, um bairro quieto, uma padaria depois da fornada.
Que isso continue, eu agradeço!"

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Café da manhã com paranóia

"Aqui estou de novo, com a cabeça lembrando.
Não vou dizer que ela está lembrando o que não deveria, pois, como já disse, lembranças são assim, têm esse nome e significado justamente para virem à nossa cabeça e serem percebidas.
Se me fizeram mal ou bem, ainda não sei dizer.

Estou aqui, escrevendo estas palavras para justamente não escrever outra coisa em outro lugar, o que tem uma boa chance de me fazer mal. Mais uma vez eu estou com saudades , mas que vieram antes da lembrança tomar corpo, nome. Isso tudo voltou depois de ter ouvido falar de um acidente grave ocorrido lá pelos lados que ela vive. Sei que com ela não houve nada, uma vez que nem estava junto. Mas é inevitável, pelo menos para mim, associar coisas que não fazem sentido. A preocupação vem simplesmente do fato da pergunta que eu disse outro dia, e que ainda quero fazer.
Bom, já que não vou perguntar pessoalmente, pergunto aqui, o questionário que costumamos fazer a pessoas que não vemos há algum tempo e das quais nunca mais tivemos notícias. Não se trata de uma mensagem atravessada, pois nem mesmo sei se essa pessoa lê isso aqui. Também nem sei se gostaria de resposta. Trata-se de aliviar minha cabeça, talvez suprir meus dedos do vício de perguntar.

"E aí? tudo bom? Quanto tempo, hein? Tá morando no mesmo lugar? E o gato e o cachorrinho que você tinha arrumado? E a faculdade? Tá mais animada com o curso agora? E a cidade, mesma coisa? Tem aquela luz bonita ainda? Falar em luz, e tuas fotos? Participou de mais algum concurso? E na sua casa, tudo jóia? Teus pais tão bem? Mande um abraço quando falar com eles! E os filmes? Tem visto coisas boas? E no mais, algum estágio, projeto que está fazendo? Bom, é isso! Um abraço forte pra você! Te cuida!"

É mais um menos isso que tenho a perguntar, sem especular possíveis desdobramentos ou respostas. Eu queria perguntar e perguntei. Satisfez um pouco a paranóia.
Admito que isso soa carente, piegas. Admito que alguém possa ler e, eventualmente achar patético, o que eu não deixo de achar, em parte. Auto-piedade, burrice, drama, infantilidade - chamem do que acharem melhor.

Mas o que tenho certeza é o seguinte: isso é uma parte das coisas que tento cobrir com a máscara-muralha. É uma das partes da vida que inventamos de negar para evitar sentir. Não sei se funciona, mas acho que fazendo isso, por patético que seja, é bem melhor do que me esconder ou negar saudades. Melhor do que me negar a olhar a vida de frente."

terça-feira, 22 de junho de 2010

E teu dia, como foi?

"Hoje ele estava num humor, assim...ordinário. Tão comum em seu bem estar e resignação que as coisas e as leituras renderam bem.
Estava tudo tão azul, normal, sem frio nem calor, besta até certo ponto. Estava bom, pensou quando foi se deitar. Até procurou algo para se inquietar, mas não conseguiu uma palavra que pudesse deixá-lo chateado.
Um dia sem palavras ruins. Bom isso, anormal até.
Perguntou-se como era possível. Um dia sem palavras ruins mostra-se um dia com cerca de cinqüenta por cento menos palavras pronunciadas. Por sua vez, com metade das palavras não ditas, supõe-se que houve, nesse todo dia, menos ocasiões para palavras serem ditas - boas ou más. Buscando-se a causa de menos ocasiões propícias a palavras, pensou em dor de garganta. Mentira, está saudável como há tempos não ficava. Portanto, concluiu, a causa de menos palavras ditas em ocasiões de palavras foi sua falta de pessoas a quem dizê-las.
Percebeu, então, que não houve pessoas em seu dia. Nem chatas nem legais. Não houve. Passou o dia de boca fechada, falando algo sozinho, aqui e ali, comentando uma coisa qualquer consigo mesmo.
Percebeu que, se não houve pessoas boas ou más durante seu dia, na verdade não houve ninguém em seu dia. As palavras que pensa terem sido boas, na verdade não foram ditas, foram pensadas. Nem mesmo sozinho ele falou. E essa ilusão correu ao longo do dia, mascarando a vida à sua frente, de forma que ele não soube relembrar se realmente o dia foi azul, sem contratempos ou chuvoso.
Não sabia onde havia ido, não sabia se havia vivido.
Dormiu bem, vejamos como acorda."

Nota do tradutor

"Esse cara no texto acima se parece muito com o Limão, com a diferença que no dia dele (do Limão) há pessoas boas, sim. Indispensáveis e fundamentais, posso dizer com certeza.
O que talvez tenha em comum, é que ambos se mascaram. Ambos mascaram suas vidas com tapumes ou telas para não vê-la.
E mesmo que as vejam, se obrigam a não pensar nelas, o que acaba os fazendo não pensar neles mesmos.
Mas que bela dupla de imbecis."

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mombojó

"Eu quero ver, quando eu chegar, se eu te chamar para dançar, o que é que você vai dizer..." Porcaria de música que resolvi ouvir que me lembrou de uma ex namorada que, por mais que não me faça mais mal lembrar dela, o ruim é que, quando tenho esse tipo de constatação, geralmente me ocorre que seria uma boa hora para retomar contato. Me bate uma curiosidade amiga incessante, de saber o que de legal essa pessoa estará fazendo, quais as novidades, que rumo sua vida tomou, que passos novos e desafiadores ela teve ou espera coragem para dar! Essa vontade de bater papo, de falar o tradicional "Poxa, quanto tempo, e aí, comé que você vai!?"

No final das contas e meio do parágrafo, percebo que não tenho por que procurar por isso. Se fosse algo procurável, talvez eu teria tido uma pista melhor que uma música que nos foi comum há tanto tempo. Algo mais direto, palpável, talvez. Boto abaixo as vontades de escarafunchar as páginas da internet à procura dela; os papeizinhos que anda, em alguma caixa empoeirada, devem guardar um rabisco de algum telefone, os contatos que poderiam me dar sua pista, sue traço. Me contento com a lembrança.
Ao mesmo tempo lembro que uma lembrança semelhante resultou em não parar para matar a saudade de outro alguém, há muito mais tempo ido. Me fez lembrar que lembrança deve permanecer como lembrança, fazendo bem ou mal.

Troco a música, mudo a direção do olhar.
Tento olhar para dentro, para eu."

quarta-feira, 16 de junho de 2010

MIL VISITANTES!!!

"Que legal ver esse contadorzinho aqui ao lado marcado com 1003 visitas. Deveria significar algo mais do que as visitas?
Fico me perguntando, quantas são realmente visitas? Quantas são enganos?
E dessas visitas não-enganadas, quantas será que agradaram, satisfizeram, preencheram? Provocaram saudade ou lembrança? Irritaram ou desagradaram? Comentários foram poucos, mas substanciais, alguns muito enigmáticos. Todos sempre bem-vindos.

Não sei sobre vocês, mas quanto a mim, fiquem certos que vou continuar rabiscando aqui, enquanto puder."





*Obrigado, de novo.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Na boca do estômago, que arrepia.

"- E então, você vem? - disse para a amiga que há tanto não via.
- Poxa, cara, tô aqui te esperando! Vai demorar?!? - botando pressão no enrolado do fulano.
- Olha, vou te falar sério: fiquei aqui te esperando, mesmo sabendo onde você estava e que não viria. Sabia que não viria, por pena e por vergonha do que aprontou. - assim ficou registrado na secretária eletrônica.
- Não, já disse que não vamos nos ver mais. Aliás, nunca nos encontramos, portanto, não espere que eu apareça. - falou, terminando rápido para acabar algo que não devia ter começado.

É. Tem hora que penso nessas frases, sendo que talvez só tenha dito as duas primeiras, pelo que me lembre. Penso como devem ser ditas, essas e outras - até mais significativas - a todos os instantes do dia. Todos os dias.
De noite os temas talvez tornem-se mais extremos - alegria ou o oposto, preto no branco. A noite é boa pra intensificar as coisas.
Eu fico pensando em frases para dizer, se surgir a ocasião e se eu me lembrar, claro. Claro que não vou lembrar. Ocasião, como a palavra já se apresenta, é ocasião.
Nas ocasiões que tive soube dizer o que precisava ser dito, com a rispidez ou a ternura necessárias, em toda a intensidade que se pode esperar. Ouvi também respostas na mesma forma e teor.

Me pergunto se penso nessas frases por vontade de ter alguém para dizer ou apenas porque tenho imaginação fértil. Acho que um pouco dos dois, dessa vez sem pender para nenhum lado. Posso dizer com certeza que já tive momentos de dizer coisas assim, bonitas e inspiradoras. E posso dizer também que foram apenas momentos, em um caso ou outro. Bons e maus, dignos ou não de saudade. Tive e bastaram.
Houve também quase momentos, quase suspiros e palavras engasgadas, balbuciadas de cabeça baixa. Tive e tenho quase saudades, se é que isso existe. Que já tive um quase amor, isso é fato. Parece estranho, mas tive. Se ainda o tenho? Não sei responder. Acho que não tenho e nem terei a resposta. Nem sei se quero tal resposta.

Quero seguir, perguntando a mim mesmo o como seria das coisas, pessoas e lugares. O estranhar e entranhar antes durante e depois. Entranhar - dá frio na barriga isso.
Quero seguir assim, sorrindo besta para o céu em plena segunda-feira, fingindo que sou o Jimi hendrix do ponto de ônibus, o cronista do quarteirão.
Desse jeito eu levo bem as coisas, ou ao menos tenho levado, aprendendo à medida que sigo."

domingo, 13 de junho de 2010

Frio e 12 de junho

"Lá vem um post reclamão e depressivo. Não, nem tanto assim.
Contente por estar assim, sozinho, hoje? Não, claro que não. Mas reparou que usei 'sozinho' e não 'solteiro'? É, bem por aí...não digo o clássico, antes só do que mal acompanhado, mas digo que espero que uma hora eu divida os dias com alguém de verdade. Estar e juntar e fazer apenas por conveniência ou carência não é minha praia.
Ser junto é mais legal.

Hoje fiz coisas que não fazia há tempos - de visitar a casa de minha vó e minhas tias, conversar com papagaios, comer as primeiras jabuticabas temporonas e botar o jabuti pra andar, entre mil coisas mais. Sentar no sol sem pensar em nada, apenas em deixar-se inundar por aquele calor gostoso, intenso, contrastante com o vento frio da manhã. Chegar na cozinha e respirar fundo os vapores do refogado - alho e cebola roxa. Buscar isso e aquilo, ajudar, levantar e guardar. Esquentar o corpo e a alma. Encher o prato, repetir e repetir de novo.
Modéstia às favas, porque está tudo uma delícia!

Barriga cheia, pé na areia e direto pro bar. Cerveja e conversas. Sem dó e abusando da copa do mundo que me dá essa razão. Finjo que entendo de futebol, palpite e tudo mais. Risadas altas, contagiantes. Como sei e adoro fazer. Simplicidade em tudo, no pastel, no jiló, no copo e na acolhida. Pessoas boas, falíveis, também.

Voltar pra casa, comer de novo - terceiro, quarto tempo de prato. Deitar com preguiça e sem vergonha. Deixar os estudos para mais logo. Se enrolar nos cobertores, fazer o sábado parecer domingo à tarde. Acordar, parar de enrolar e se levantar. Lavar a cara e inventar algo. Tomar algum rumo, arrumar alguma coisa, dobrar uma camisa que seja. Retomar a música, dançar pelo corredor, sorrir pras paredes, feito bobo. Fiz isso sim.

Calçar sapato, pegar a chave e botar o pé na rua sem imaginar se ou aonde vai parar. Seguir, sentir e decidir.
Parar ali, onde hoje já esteve, rever caras sumidas, abraçar, sentir calor nesses abraços.

Fui, voltei, saí de novo, andei um bocado depois.
Parei aqui e ali, sentei, pensei, senti e voltei.
Estou aqui.
Modéstia às favas, ser junto é mais legal. Retomar a música, como sabemos e adoramos fazer."

quinta-feira, 10 de junho de 2010

"Ele já chegou quieto, calmo demais. Sentou no banco de cimento gelado, de costas para o sol, esperando que as portas se destrancassem e ele pudesse se aquietar lá dentro. Última cadeira, segunda fila.
Todos vão chegando, sonolentos e encolhidos debaixo dos moletons. Passam também grupos de outros, talvez mais jovens, e com certeza, muito mais felizes. Isto lhe faz repensar e relembrar tudo à sua volta, daqui até a porta de casa - o que ele tinha esquecido por um momento. Tinha conseguido sumir sem perder-se - concordava e completava frases, ria como se a conversa lhe causasse risadas. Ao mesmo tempo, estava em paz, neutro em si mesmo, sem pensamentos ativos.
Num instante já estava lá dentro, sentado, quieto e inquieto. Estava apreensivo e tentava racionalizar o motivo. Já sabia que não era pelo motivo que imaginava. Lembrou-se de uma ex-namorada que costumava dizer: "Quando fico assim, estranha, é porque algo de ruim vai acontecer." Estranho que o namoro terminou e ele trouxe isso consigo - a inquietação como aviso e as câimbras como castigo. Com o tempo aprendeu a usá-los a seu favor.
Noutro instante, tudo já ia acontecendo, se via de fora, sentado na janela às suas costas, olhando por cima de sua cabeça careca a aula e os debates inflamados sobre temas supérfluos.
Sua cabeça, ali na frente, fervilhava de divagações e comentários sobre os assuntos. Citava exemplos, rebatia respostas e até arriscava prever os rumos da conversa. Pensava em outras abordagens, esquecidas pela turba que expunha seus conhecimentos e pontos de vista. Isso tudo ele viu, dali da janela, alheio.
Dali ele pensava em simplicidade. Pensava em sair, pela janela mesmo, para outros endereços. Dali saíam soluções mais sensatas e humanas para seus próprios problemas. Ou pelo menos soluções em potencial. Sentado na janela atrás da última cadeira da segunda fila ele suspirou fundo e engoliu um suspiro engasgado que lhe vinha juntar com seu duplo ali embaixo. Evitou ser tragado de volta para a rotina que já o consome sem nenhuma satisfação.
Nesse instante fez-se uma pausa. Na aula, nas falas e nas tensões. Sorrisos de verdade surgiram em vários rostos, braços se espreguiçaram rumo ao sol bobo da manhã. Ele ainda se demorou ali, remexendo papéis que deveria devolver: um primeiro passo?
Devolvidos os papéis, pensou num café e se foi. Sentou-se com os seus. Nessa hora tudo se separou novamente, e ele se viu lá de cima, da beiradinha de alguma nuvem, olhando as conversas e risadas ali embaixo. Sorriu.
Desceu da sua nuvem, buscou suas coisas - água, papel e música - e tomou seu rumo. Não saiu à francesa, mas também não explicou suas razões. Um até amanhã bastou.
Um aceno, um olhar individual a quem olhava, uma explicação velada para aqueles que a pediram."

terça-feira, 8 de junho de 2010

"Just go for a ride...boa temática essa. tenho gostado e visto como tenho feito isso cada vez com mais frequência. e tenho visto e admitido o quanto tem me feito bem.

não tenho que arrumar namorada e, ao mesmo tempo, não tenho que ficar sozinho.
não tenho que guardar tanto rancor assim. e mesmo que eu guarde, que lembre ou faça pouco uso dele.
não preciso fazer sempre o melhor de mim. não preciso ter sempre um comentário inteligente na ponta da língua.
não tenho que lembrar de tudo.
não tenho que ir a todos os lugares ou ficar mais do que o que programado. também não tenho que ficar programando coisas, sejam elas: namoro, rolo, festa, cerveja, emprego, prova, post no blog ou hora de dormir.
não tenho que me sentir magoado, mas também não tenho que negar se me sentir assim.
não tenho sono e tem hora que não tenho é vontade de acordar.
tenho saudades mas não tenho que dar um nome a elas.
tenho coisas que precisam ser feitas, tenho coisas que poderia ter feito e não fiz, tem coisas que não deveria fazer e fiz assim mesmo.

tenho todas essas paranóias, mas não ligo se as cumpro, as faço, as apago.
tenho certeza de três coisas: sou humano, bom e falível."

segunda-feira, 7 de junho de 2010

"Foi lá com a intenção de amarrar as pontas soltas, como dizem por aí. Foi, chegou, olhou, buscou e abraçou. Sorriu, cantou e até chorou.
Teve hora que pensou em estender a estada, teve hora que quis nem ter ido.
No fim das contas, percebeu que na verdade, foi lá e desamarrou de vez as pontas. Desfez alguns laços criando outros. Desatou nós na garganta e aqueceu frios na barriga com abraços e beijos na testa.
Levou-se por todos os cantos que precisava ir ou que acabaram sendo visitados.
Reviu-se em pessoas há muito perdidas, reviu-se no passado, na mesmice que não desaparecera. Reviu-se e alegrou-se por admitir que amadurecera.
Entristeceu-se, em parte, por perceber que outros, tão cheios de potencial, continuavam iguais.
Apertou novas mãos de outras terras, comuns na coincidência.
Voltou-se para a direção de casa, respirou fundo o ar frio da manhã luminosa e atou às costas as alças da mochila, que pedia, inquieta, para cair de novo na estrada.
Fechou a porta atrás de si e desceu as escadas, de volta ao beliche, à colcha de retalhos, à sua janela e a sua nova vida."

terça-feira, 1 de junho de 2010

"Tem hora que o melhor a fazer é calar, Já tinha ouvido isso várias vezes; hoje constatei.
Constatei que silêncio te ajuda a conseguir visualizar o todo das coisas. Desde coisinhas bobas, brancas, até coisas que achamos enormemente ininteligíveis e poluídas.
Entende-se os todos que ali estão, se exibindo e zombando da nossa dificuldade em os ler.

Agora devo tentar outro patamar - o de transmitir esse silêncio a quem possa precisar. Um apoio nas costas antes de subir degraus altos ou uma mão estendida para vencer um
barranco.
Pretendo estar lá, à espera por quem quer que seja.
Em silêncio, sorrindo e disposto."

domingo, 30 de maio de 2010

"Hoje o dia teve música, do começo ao fim.
Preencheu e me encheu de sorrisos e refrões cantarolados. De estrofes inteiras cantadas a plenos pulmões, sem pressa ou vergonha de quem pudesse estar olhando.
Música de te acompanhar pelas calçadas, à medida que o vento bate na cara e as árvores fazem sombra nos carros.
Música que não conhecemos, que passamos a conhecer e músicas que nos surpreendem por serem tocadas.
Música feita na hora, com alma e sorriso, de novo.
Músicas que viram trilha sonora para a lua que desponta detrás de uma serra, num céu azul marinho ponteado aqui e ali de estrelas e aviões. Nessa hora gostaria, não nego, de ter alguém no abraço, para chegar no ouvido e, colando os rostos, mostrar o espetáculo lá em cima."

sábado, 29 de maio de 2010

Gato morto

"Hoje assisti a um monte de vídeos de internet, desde os que me fizeram gargalhar, passando pelos que me fizeram "fofuchar" e culminando fim de noite, num que me fez chorar. Chorar por constatação e por indignação. Chorar fundo e doído e sozinho.
Constatação por saber que onde estamos é ruim, egoísta e insensível. Indignação por constatar (sim, tem conexão com a constatação anterior) que existem pessoas que ainda pensam de maneiras medievais, irrevogáveis e incompatíveis com nosso ser, nosso fazer. Indignação por ver que a vida ainda exerce seu poder de "tapa na cara" de quem pára para assisti-la, não sobre quem a examina ou descreve sua sequência.
A vida, nós e os outros, todos eles, na árvore, recinto, home range ou planeta, pulsa e nos impele a lembrá-la. A toda hora. Ela não se importa que olhemos seus prodígios e nos surpreeendamos a cada passo. Ela sabe como nos sentimos. A vida nos sente e nos guia, por meio de cavernas escuras e vales floridos, ou por misturas de ambos e algo mais que não saberia explicar ou discriminar Algo que eu não me atrevo a fazer.
A vida nos pede que lembremos dela."

segunda-feira, 24 de maio de 2010

"É indo e vindo, desfazendo o tradicional, que percebemos a grandeza e a beleza de estar vivo. Por mais elementar e corriqueiro que possa parecer, tudo carrega consigo um poder inimaginável de mudança, de troca. De busca por melhoramento.
Nessas idas, nos raros momentos em que tudo se cala, descortinamos as dúvidas e assumimos os estados presentes. Nos vemos de fora, de longe, examinando todos os elementos da cena, analisando e extrapolando possibilidades para uma percepção cada vez mais profunda.
Tomamo-nos para ser como estamos. Como nos tornamos e devemos seguir.
Nos vemos melhores, mais firmes contra possíveis tremores. Temores.
Nos deixamos sair e ser, de forma única. Da única forma.
Relemos nossos parágrafos separando-os em novos textos, mudando a compreensão e mantendo o sentido.
Nos deixamos respirar e ver.
Nos pegamos querendo novas horas particulares. Idéias claras, necessárias para continuar fazendo o bem e o bom.
A vida traz à tona ela mesma, quando imaginamos estar tudo afundando."



*Com esta são 100 postagens aqui. Há um bom tempo, em tempos difíceis para mim, criei esse espaço, esse refúgio que faço para minhas emoções. Aprendi a usar as palavras de maneiras que não conhecia. Fiz mais amizade com elas do que antes, quando somente as lia. Agora as faço, as gravo - aqui ou no papel de verdade. Os tempos difíceis também fizeram e ainda fazem suas idas e vindas, mas agora me aproveito delas aqui.
Espero que consiga agradar, de alguma forma, quem dedica seu tempo a ler o que está aqui. Agradeço as visitas e os comentários, anônimos e assumidos, confesso que me alegram.
Mais uma vez, OBRIGADO.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Hoje senti mágoa.

"Mais uma vez contradigo a mim mesmo aqui. Falei que não ia falar, mas não tem como. Aqui é minha igreja, onde curo minhas feridas. Onde transbordo e deságüo.

Hoje passei raiva, de verdade, raiva de gerar rancor e de atrapalhar seu dia, estragar seus planos. Vinda de um lugar onde se esperaria pessoas menos ligadas a tantas vaidades. De pessoas que se mostraram não-pessoas. E se mostraram idênticas ao restante dessa raça nojenta na qual tenho que me incluir. Tenho que me categorizar.

Hoje repensei continuamente se é isso que desejo para mim...me agregar a essa corja suja, egoísta e falsa, que domina o horizonte das perspectivas. Repensei tudo, repensei o não desistir, o não se deixar abalar. Repensei a maturidade e a coragem, que acabam levando tudo ao ponto onde está agora. Vi exemplos claros da inversão do básico que meus avós e pais e amigos me ensinaram - respeito. Agradeço por ter nascido, crescido e convivido com pessoas com quem pratiquei esses conceitos abstratos e esquecidos.

Repensei a lógica das coisas, a lógica dos cotidianos e a insuportável e cansativa cultura do receio, do pé atrás, do comedimento. Vi rostos perderem a cor e gargantas engolirem em seco a partir do momento que levantei a mão. Vi sorrisos se desfazerem em "não-acreditos" e "como-assins".
Vi caras de velório, de segundo lugar em copa do mundo - caras de não saber onde enfiá-las. Caras de conhecimento prévio somadas a medo e apatia. Somadas a dependências e recomendações. Algumas caras de puro não-entendimento.
Também vi olhares de consternação e surpresa; vi alguma inquietação, mas não me atrevo a atribui-la a minhas colocações. Ou minhas heresias, a quem couber.
Chorei de raiva, lágrimas grossas, lentas. Frente ao único porto que avistei (e que se mostrou seguro). Porto que se mostrou um igual. Se mostrou mais humano, menos terreno e soldado a peças e publicações.

Infelizmente é isso o que tenho. Tenho uma passarela, uma casa de espelhos, uma fogueira das vaidades, onde se faz amizades, e também, colaboradores. Onde sua vivência pessoal, sua pessoa e seus sentimentos não valem, contam ou fazem sentido, com raras e sorridentes exceções.
Tenho também um livro não-escrito, cheio de páginas difíceis de ler, mas que me grudam e me fazem teimar.

Não sei minhas decisões futuras. Como já disse, repensei muita coisa e sinto que muitos de meus receios prévios se mostraram fundamentados. Senti que posso continuar do mesmo tamanho, sem preocupar com falta ou insuficiência.
Sejamos melhores calados e fazendo o bem.
Deve bastar."
"Deveria escrever algo aqui, para exteriorizar, como dizem por aí.

Não vai. Nem escrever, nem falar, nem desabafar de alguma forma voluntária.
Não vai deixar barato. Não vai deixar desmerecerem tua vida e luta.
Não vai atacar na mesma moeda. Não precisa, pessoas assim se atacam sozinhas, se mordem sozinhas.
Não vai baixar a cabeça nem desviar o olhar. Não vai ter sorriso ou palavra.
Não vai parar ou desistir. Não vai encarar como uma barreira. Não vai.
Não vai ter situação, nem desculpas nem ponderações. Não vai ter respeito.

Vai continuar a política, a opinião. Vai persistir o questionamento.
Vai aumentar desprezo e rancor.
Vai seguir mais forte, carrancudo e mau-encarado.
Vai transitar por onde bem entender. Pisa onde quiser aí dentro.

Se quiser, ele vai até aí te enfiar a mão na cara, filha da puta."

terça-feira, 18 de maio de 2010

Logo eu venho

"Tem o rumo definido, o café forte, passado e quase tudo escrito.
Mochila já quase cheia, as pilhas na lanterna e idéias nas pontas dos dedos.
Espera também por mais idéias. Melhores idéias, inéditas.
Parágrafos que ainda estão por terminar se juntam aos quilômetros do misto-quente de asfalto e chão batido ainda por pisar. Noites geladas talvez na beira da escada de um casario ainda incomum. Da mesma forma o fogão à lenha e a cama, ainda estranhos ao olhar.
Aguarda o silêncio e o barulho de mato. Prevê o silêncio e a algazarra dentro do peito.
Já dá o sorriso de ver o céu azul, de tremer no vento frio e de cheirar o verde do peitoral da janela.
Torce por fotografias novas, quem sabe? Sabe que tem muito a dizer e compartilhar, não vai deixar que tudo passe só por letras e tabelas. Sabe que as lembranças ainda estão por criar.
Estão ainda por lembrar.
Voltando eu te conto."

sábado, 15 de maio de 2010

"Sabe o dia que você quer alguém por perto só pra ficar calado? Para ter alguém que te acompanhe num silêncio longo e sincero.
Um dia, tarde e noite de silêncio, reflexão muda, concordância aos sorrisos e olhares.
Um ou vários momentos de simbiose, de fusão, de cumplicidade à mostra.
Sem rua, sem pressa, horário ou caminhos.
Só estar parado, atado.

Atado ou não, estou aqui, espero por você, que em um momento isso aconteça e se repita por noites sem fim.
Por muitos e muitos anos, atados."

quarta-feira, 12 de maio de 2010

sem graça

"tadpoles escaping from my hands, flowing under white bridges and flying over my bald head and jumping into the space between my dreams and my pillow. the lizards make noise while they drink endless beers and sing silent songs with their bifid tongues, smelling your scent that invades the house through the keyhole. your scent tonight is green and pink and makes all lights shine and spark with nymphs and bugs.
the clock says that it's late. the clock and not the rabbit. the rabbit has gone into his hole, taking some guys that wanted to see the matrix.

...e eu volto a pensar em português assim que o relógio bate suas onze horas, me enchendo com seus sininhos. Os grilos sumiram, e os foguetes do futebol, também. Os meninos pararam de jogar bola e agora jogam pedras nos passarinhos. Daqui a pouco espantam todos e quem sofre são as vidraças. Os ônibus sentem o frio e sacolejam mais que o normal, batendo suas partes soltas e ensurdecendo seu recheio de gente. O céu brinca de esconde-esconde entre as nuvens, deixando transparecer um pedacinho assanhado de azul de vez em quando. As letras brancas se embaralham na minha lente de óculos de aros pretos, e mil farelos esbranquiçados invadem o salão. Os violões dos seresteiros entopem os dedos com notas truncadas, derramam músicas de rádio AM no colo dos porteiros e das matronas cachaceiras debruçadas no balcão..."

terça-feira, 11 de maio de 2010

terminando com !

"Frio em Belo Horizonte é, na minha opinião, paradoxal. Muito. A cidade continua linda, cheia de vida, mas essa vida corre sempre em direção às salas, escritórios e outros locais quentinhos. Não sentem o vento que vem avisar de olhar para cima, pro céu azul e pro horizonte límpido. Não enfrentam os bancos gelados em troca do abraço morno do sol.
As pessoas se empertigam, ficam lindas mesmo, mais do que nunca, elegantes. Mas é algo exagerado. Frio em BH é algo que se resolve com moletom, mas dá para constatar que algumas sensações térmicas são importadas. Outro paradoxo; entendo perfeitamente que todos ficam à espera para tirar tudo do armário, o que é ótimo! Botar as cobertas no sol, os gorros e meias para lavar, pendurar cabides com sobretudos enormes virados do avesso. Mas BH fria não exige um casaco para escaladas everésticas nem botas para neve.
De qualquer forma, é inegável a presença do frio. Que traz à vista outros paradoxos, como os botecos lotados, calçadas cheias e conversas altas.
Faz bem esse frio, vindo assim de supetão, talvez faça esse gelo que se forma no coração de alguns se quebrar. Talvez numa dessas lagarteadas ao sol, o gelo derreta e a frieza evapore e faça transbordar um monte de abraços. Quem sabe faz sorrisos olhares e amores pela rua afora!"

segunda-feira, 10 de maio de 2010

"Muitas coisas na cabeça, de ontem hoje e outros dias além. Ocasiões que eu gostaria de escrever, descrever. Faltam-me memória e espaço. Resolva-se isso logo.
Surgem inúmeras idéias, assuntos, que eu gostaria de discutir com pessoas que vejo, hoje agora, como ausentes e faltosas. Gostaria ainda de conversar com você.
Realmente, cansei de toda essa urgência, essa pressa por algo intangível.
Cansei da auto-cobrança, idiota. Cansei da teimosia em concretizar tal idiotice.
Quero força para decidir."

sábado, 8 de maio de 2010

isso, hoje ontem já.

"Acho que é a vez que mais tarde posto aqui. É, são cinco e 15 da manhã e cheguei há pouco da rua, da obra, pra ser mais exato, e quem tiver que entender vai entender.
Encontrei o amigo, o cara que completa, que faz sair de casa, que faz motivar mutuamente, que pergunta e indica.
Encontrei gentes também, pequenas, vendendo "bis brancos" que compramos e ele comeu. Ganhou. Se satisfez.
Gente comum, fazendo a mesma coisa que eu e meu amigo.
Gente bonita, elegante, impecável, tem hora.
Gente que pisa no seu pé ou derruba cerveja gelada na sua canela.
Gente grande que empurra os outros, achando que é melhor que todos.

Volto pra casa revigorado, teimo em vir aqui, escrever. Me deparo com discretos abraços, saudades descaradas e um reconhecimento singular. Sutil e silencioso.
Volto, sento e escrevo, pensando em música e harpa, e vozes e no zumbido que o som alto, tocando "B-52's" criou no eu ouvido.
Nessa volta deixei partes que estavam já penduradas e também partes que não se soltavam de forma alguma.
Deixei as partes seguirem seu caminho, por onde devam percorrer, causando saudade, dor, sorriso e suspiro em quem quer que mereça.
Por que não, nós mesmos não merecemos tal agrado?"

quinta-feira, 6 de maio de 2010

"A cabeça dói, os olhos ardem e os ombros câimbram.
Cansaço diminui insignificativamente, mas a duração das viagens só aumenta.
Unhas crescem, saudade sem motivo, também.
Café novo, pão dormido e a mesma escova de dentes.
Sapo no saco, depois na caixa, dali pro formol.
Gente, gente e mais gente.
Gente que conserta o que me dá canseira, gente que se maquia dentro do ônibus, ficando mais bonita ainda. Gente legal, com conversa boa na saída e sorriso sincero. Gente que não responde email e gente que faz barulho no corredor.
Fazer o quê, né? É gente, gente e mais gente...

É, vendo por esse lado, até que ele não quer tanto mais que tudo se exploda."

quarta-feira, 5 de maio de 2010

"Ele anda meio que querendo que tudo se foda. Que se explodam convenções e estatutos. Mesmo que tais caracteres sejam seguidos à risca todos os dias. Por ele e por outros. Já explodiu vários, de falar mal da vida dos outros a parar de querer desesperadamente uma namorada ou alguém. Deixou de nutrir expectativas quanto a um futuro - próxio ou distante, que nunca terá como saber se vai haver; já que, vislumbrando ou divagando um futuro faz, invariavelmente com que este mude. O rumo potencial das coisas é sempre invisível, obscuro. Mas teimamos em repetir os "E se..." diários.
Ele gostaria de seguir, com calma, em direção às suas tarefas conhecidas, sem temor ou espera por paisagens seguintes, por possibilidades. Quer só ir, seguir o caminho, ser a flecha, o alvo e a trajetória, tudo numa coisa só, se é que isso é possível.
Quer parar de sentir-se cansado, esgotado, esmagado. Quer sentir-se e só.
E espera que isso baste."