"Bom, quando me dei conta que estava ouvindo música, percebi que eram uns doidão lá de Seattle que tocavam o terror no palco e onde quer que estivessem.
Depois, começei a escutar cinco cabeludos da Inglaterra, que tinham um zumbi por mascote. É, zumbi, isso mesmo.
Depois desses, ouvi outros cabeludos, também do Reino Unido, onde o cantor gostava de comer morcegos vivos. Daí descobri uns caras aqui de BH mesmo, que faziam um puta som da pesada! Eram quase vizinhos e eu não sabia. Nessa época me apresentaram uns figuras americanos que tocavam musiquinhas mais curtas, impossíveis de esquecer, igual calçar o allstar pra ir pra escola. Não dei muita bola no começo, mas como eu disse, não parava de cantar as músicas deles um segundo sequer. A partir disso foi uma cacetada de bandas de cabeludos, bem pesadas, umas tinham logotipos tão embaraçados quanto o cabelo dos respectivos integrantes.E se não me engano, essas eram bandas dos estaduzunidos, em sua maioria, rs.
O que mais gostei de ouvir foi um negão canhoto nascido em Seattle e morrido em Londres. Esse
tocava guitarra que era uma beleza! Até hoje arrepio escutando o que ele aprontava.
Conheci gente nova, e com isso, banda nova. Dessa vez foram uns malucos da Califórnia, que tocavam bem rápido e com poucos acordes. Bem legal, dava pra agitar um bocado! Daí ouvi também uns mulekes da Inglaterra, todos cheios de alfinetes e tal...legalzim o som. Mas o som dos quatro de calça jeans e couro era melhor, sem dúvida! Fui procurar mais coisa parecida, e acabei chegando a coisas da Bélgica, Holanda, Alemanha e tal, muito mais rápido, com pouquíssimos acordes também. E como gritavam, os danados! Nessa levada, chegou na minha mão um disco duns conterrâneos, onde até esmeril virava instrumento.
Aos poucos fui descobrindo umas bandas que faziam um som meio que parecido, mas melhor que os caras da Europa. Tinha uma galera da boa em São Paulo capital, ABC paulista, e acabei conhecendo gente que nem eu e que também queria fazer um som parecido, gente de norte a sul do Brasil, só que nós gravávamos em fita. E era um tal de manda fita pra lá, recebe fita de cá...
Nessa mesma época, talvez paralelamente, me veio a vontade, sei lá de onde, de saber o que diabos um véio barbudo, alagoano dos brabo, fazia de som. Foi a melhor coisa que já tinha ouvido até então, depois e junto com o canhoto-guitarrista.
Junto com esse fui atrás de outros malucos que tocavam trompete, piano, sax e afins, tanto gringos quanto brasileiros. Ouvi uns caras que mandavam bem no violão, bem melhor que os cabeludos nas guitarras.
Passei por uns caras, três amigos, garotos ainda, de NY, depois outros dois, que pelo nome deviam ser irmãos, e que a química entre eles era bem bacana. Prodígios, uns caras e uma mina, que eram da Alemanha (mas que não podiam tocar lá), que aprontavam uma zueira dos infernos, boa!
E mais tantos doidões fazendo música sem instrumentos de verdade. Até ir ouvir os caras tocarem no meio do mato, de madrugada eu fui, a pedido de uma ex-namorada.Dessa turma ouvi um punhado de bandas, que hoje sei que são "estilos", "vertentes" e etc, toda essa conversa de gente que manja de som.
Ao mesmo tempo eu ouvia, em casa, meio que às escondidas, um doidão que sumiu pela
Índia e voltou, com a cítara e a tabla; ouvia também o já mencionado velho barbudo, o que irritava a supracitada namorada.
Depois, acho que meus ouvidos tavam cansados de tanta pauleira, que procurei algo mais calmo e mais linear pra ouvir nos fones de ouvido...descobri um paulistano que andava de skate e que fazia umas letras rimadas certinho, com uma métrica espetacular e cheias de elementos bem cotidianos.
Daí conheci mais coisa que brasileiro fazia, com pandeiro, violão e palavras, também bunito que só. Conheci três gatonas, balzacas que cantavam músicas que pareciam do tempo da minha vó. E também uns caras do sul que faziam música que se cantava dando risada e falando palavrão.
O mestre das festas universitárias do nordeste também tocou lá em casa, irritando e acordando muita gente, por sinal. Do nordeste e centro-oeste também ouvi um bom punhado de bandas bacanas pra danar! E aqui em BH descobri mais um maluco de NY que misturava faixas e mais faixas e trechos de vídeo e oscambau, bão tamém! E na sequência descobri um que fazia parecido e até melhor ao vivo, aqui perto de casa e com um controle de videogame.
Disso eu fui parar na Jamaica, ouvindo música boa e cheia de chiados, em disquinhos pouco maiores que um cd - que era o que havia de melhor em "primor e qualidade" na época dos cabeludos. Esses pratinhos de vinil, com uma faixa de cada lado, rapaz, que sonzera tem ali! E dali de volta pros negão dos trompete, foi um pulo. Nessa veio outro paulistano que rima e improvisa com uma facilidade sem igual, e que canta palavras bonitas que dá vontade de ter uma namorada pra usar os versos dele pra ela.
Apareceram também umas minas, bonitinhas, com vozes bem legais, uma tocando harpa, outras violão e cantoria. Uns quatro ou cinco, ou seis negrões, tocando sem ligar na tomada, e por aí tô indo...
Bom, isso é o que eu consegui me lembrar e o que consegui descrever, porque teve nesse meio tempo, uma caçambada de som que acabo de me lembrar, mas que não sei como descrever. Engraçado como a gente ouve tanta coisa, esquece outro tanto...e quando se dá conta, já ouviu coisa pra caramba!
E quanto a você?"
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