terça-feira, 5 de outubro de 2010

"Numa conversa entre amigos, o papo era sobre coisas que fizeram, que não lhes agradava tanto. Como uma página de livro que deveria, se pudesse, ser arrancada.
O outro argumentava que seria e preferia, simplesmente, ao invés de arrancar tal página, melhor deixar de ler a mesma com tanta frequência, simplesmente deixar sumir a marcação que para ela atraía a atenção.
Completou com a constatação essencial que, desse livro, as páginas não saem e a tinta não borra.

O complicado é que tem horas que as páginas novas, mesmo lidas, permanecem em branco, sem revelarem seu conteúdo. Ficam um bom tempo como que escritas com tinta invisível, que só nos aparece na lembrança daquela primeira leitura. Não há forma de reler com outro olhar, com outra crítica, autocrítica. Não há como grifar, marcar, copiar e entender. Isso só mais adiante, quando crescemos e aprendemos a ler o outro idioma que se esconde nas palavras ali escritas.

Falando em palavras, as do Galeano me acompanharam ontem, ao ouvir a chuva que se arrastava em trovoadas de sintetizador...
"Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais."

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