terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"O jornalista Tomás Eloy Martínez cita as mulheres como sóis nos quais a noite jamais pousa. Sim.
Sóis. Irradiantes de força e acontecimentos, criadores de sentimentos e sentidos.
Mulheres também são noites, e isso quem diz sou eu. Noites puras, negras. Noites com ou sem estrelas, que não nos deixam desvelar seus segredos, a não ser que assim desejem,criando em nosso horizonte a passagem enigmática de uma estrela cadente.
Isso nos esclarece confundindo ainda mais, já que o brilho logo se desfaz, deixando um novo manto de segredos encobrindo as perguntas recém-respondidas.
Essa constante alternância entre lampejos de entendimento e silêncios de curiosidade nos faz amá-las tanto e sempre. Nos faz esperar eventos espetaculares - chuvas de meteoros e auroras boreais - que iluminem teus sorrisos e meus olhos."

domingo, 27 de dezembro de 2009

"Um dia confuso, parado. Parece que mesmo lavando o rosto, o sono ainda persiste.
Um sono pesado, que nos faz arrastar pelo dia e a tarde, nos faz pensar demais, lembrar mais ainda.
Dia cinza, chuvoso agora, começo de noite sem distinção, sem as marcas de algum pôr-do-sol.
Dia preenchido por pensamentos e conversas imaginárias, possíveis ou não, desejadas e não.
Calor e suor, memórias recentes, pegajosas mas nem por isso incômodas. Saudades e afins.
Um dia que tirou o gosto das coisas, o sabor e os aromas. Tirou a luz dos objetos e deixou tudo sem contraste ou definição. Capítulos que não satisfazem, linhas que não se completam, não nos completam."

sábado, 26 de dezembro de 2009

Ontem

"Não foi forçado nem nada. Foi bom e isso bastou. Viu e fez e disse coisas boas. Sentiu coisas boas e ruins também. Mas sentiu, e isso também lhe bastou.
Pensou em amor quando viu casais na rua, numa cena bonita e quase inesquecível. Em especial, um casal ao longe, numa rua vazia, lavada pela chuvarada da tarde, andando de braços dados, contra a luz amarela dos postes da mesma rua. Não se via rostos ou cores, apenas a sombra de suas silhuetas que denunciavam sua presença ali.
Percebeu o amor ali, e teve vontade de dizer: "Meu amor." a alguém, talvez ao próprio casal.
Meu amor, no sentido de uma parte de si, indissociável, tal como um braço ou perna. Um amor seu, de ambos, não uma posse, mas um estado, uma razão.
Meu ou seu amor, todo, resumido, se fosse possível, em ombro, pescoço e colo. Resumido em carinho, suspiro e olhares.
Resumido num amor em paz. Amor quieto, calmo e que acalma. Amor para se deitar e dormir seguro, encolhido no abraço que te protege.
Amor assim."

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

"É ou foi inevitável. Volta-se a sentir uma tristeza chata, persistente - por vezes infundada. Volta-se a lembrar de outras horas e varandas, sofás, canecas, chuvas, melodias e gentes.
Geralmente não gosta-se de pensar em tais coisas, não gostamos de ver nossa miséria emocional, o quão fracos podemos ser.
Pessoas solitárias parecem-se tão cheias de algo a dizer, tão lotadas de conhecimento e ensinamento, que chega a parecer errado tirar delas sua solidão que é, ao mesmo tempo sua bagagem. Não bagagem no sentido de fardo, mas no sentido de conteúdo, vivência.

Relendo o que escrevi nesses últimos dias, revejo também como temos nossos momentos de solitude. Momentos de aprendizado e ensinamento que nem sempre percebemos. Nessa hora o "faz parte" realmente faz parte, sentido. Fazemos parte dele. Nos falta o estalo para percebê-lo como nossa parte.

Por fim, não gostei daquele filme, "Marley e eu". Não porque dizem que o cachorro morre no final, mas porque o filme fala mais dos donos que não demonstram um pingo de carinho pelo cachorro e do roteiro que só mostra as merdas que o cachorro faz ou provoca. Filme idiota, rs."

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

"Ontem saiu para comprar pão, mas saiu contra gosto e contra vontade. Estava chovendo e ele preferia ficar deitado, misturado aos seus lençóis, fundido à sua preguiça.
Teimou em vestir blusa ou casaco, botas ou mesmo um chapéu. Teimando, saiu.
Chovia uma chuva estranha, nem quente nem fria, nem grossa nem fina. Apenas chovia, e isso era o que causava a inquietude.
O caminho até a padaria era curto e, geralmente, ele podia sentir o cheiro das guloseimas, quente no ar, logo quando virava a esquina. Dessa vez não. Dessa vez não sentiu.
O que sentiu foi o cheiro das árvores, cheiro-verde, por assim dizer. Sentiu o aroma das gotas que conseguiam vencer a barreira das folhas, daquelas que despencavam aos solavancos após uma ave alçar seu vôo ou mesmo o cheiro das gotas que desciam, todas unidas, tronco abaixo.
Sentiu e parou, estacado, abaixo de uma grande árvore, imponente e cansada sob o peso de suas folhas viçosas e seus galhos idosos. Parou ali, atrapalhando a passagem das senhoras e suas sombrinhas, afrancesadas com seus trejeitos. Parou e olhou para cima, sem nenhum receio ou cerrar de olhos para alguma gota que viesse lhe saudar. Olhou e viu acima de si o céu mais azul que poderia conceber.
Descobriu que a chuva já parara há algum tempo, tal como ele, que ficou ali, fincado, sentindo, sem se dar conta da situação. Ficou, se molhou encharcando, e se descobriu sorrindo.
De repente, virou a cabeça, como que empurrado por uma mão invisível - era o cheiro do pão que saía chiando do forno, e que lhe chamava, avisando que a tarde apenas começava e que era preciso um café novo para acompanhá-lo."

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"Recebendo uma ótima notícia hoje (depois eu acabo contando qual foi), percebo que minha ficha ainda não caiu. E fico meio para baixo com isso, meio que frustrado.
Não caiu quanto a me virar, sozinho, desacompanhado de alguém especial a quem contar essa notícia tão boa. Parece que a notícia em si perde a graça e passo o dia todo com olhar besta de quem perdeu, e não de quem tenha ganhado alguma coisa.
Me vieram coisas como estímulo mútuo, compartilhar e sorrir, coisas do tipo.
Mesmo assim não consegui digerir isso ainda. Uma coisa para a qual me dediquei durante todo esse ano que passou, e mesmo assim não fiquei assim, muito animado...sei lá.
O que quero dizer não é que estou triste, nem que me chateou lembrar de alguém que não merece e que sei não dar mínima para tudo isso. Mesmo que desse, não me diz mais respeito.
Não gostei foi de deixar essa carência boba vir à tona, deixar ela quase tomar conta, desanimando o dia, pesando os olhos e dando vontade de dormir.
Tudo bem, vou achar alguém, aquele bom amigo, que mereça ouvir a notícia e que vai retribuir, vai recompletar.
Quanto a alguém para amar, ainda espero por uma boa notícia."

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"Domingo foi um dia bacana. Posso até dizer que foi perfeito, completo.
Uma tarde linda, um calor danado, cerveja gelada em quantidade, boa companhia que há tempos não se via.
Tinha um filhotinho de gente, de seis meses, olhando tudo com uma fome de ver que dava gosto. Sentia cada milímetro das coisas com os olhos, quase tirando pedaço. Não dava a mínima para nós, humanos adultos, babando contente sua vidinha que ali começava.
Como será que receberíamos essa dádiva de apenas olhar as coisas, sem ter aquela ânsia de entender ou dar sentido a tudo? Saberíamos aproveitar? Saberíamos ser daquela forma tão simples?
Esse filhote de gente é parte integrante de um casal de amigos que há tempos eu não via, reencontrados nesse domingo bacana. Foi ali o reparar no estado do dia, no céu, nos sorrisos das pessoas, na mesa colocada no meio da rua, porque na calçada o dono da casa em frente não gostava, da música espôntanea tocada pela turma lá dentro do buteco. Muito, mas muito longe de casa, mas sentia a antiga varanda tomando a vista, tamanha era a tranquilidade.
A hora de beber chegou e passou, sem susto, sem trauma e sem teimosia para acabar. Comer atum e tomar chope. Ouvir chorinho e ver mais amigos, boníssimos amigos. Encontrar novos amigos, uns que não saíam da memória; pessoas com sorrisos marcantes e todo aquele potencial para serem algo muito além de amigos."

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

"Por fora e por dentro, é tu e tudo. É dor sem corte, é ver e olhar.
Pisar a terra molhada e sentir o cheiro sobe da grama.
Sentir o céu te cobrir, sentir e sorrir.
Deitar aonde quiser, olhar para o fundo de tudo, ouvir o silêncio de tudo.
Sigamos em frente, mesmo sem vontade."

sábado, 12 de dezembro de 2009

"O que você já fez que eu não? Tudo, provavelmente!
Lógico, Limão, sua anta; você acha que é o centro do universo?
Mas o ponto é outro: paradoxos, comportamento paradoxal - uma droguinha bem legal que descobri ontem e já vi que estou usando toda hora. O Bom que essa é barata e não preciso me submeter a nada para consegui-la, exceto pensar.
Pensar em possibilidades destoantes, horizontes nada convencionais, desafiantes da tão aclamada lógica e da tão sublime, e que gosta de me fugir, razão.
Auto estradas ruins que se enchem, comportamentos indevidos que se repetem instantaneamente.
Pare para pensar como vemos isso quase sempre, como nos deixamos levar por coisas como isso quase todos os dias. Nos deixamos e felizes!
Incongruentes, impensantes, inatos e inacabados, todos nossos comportamentos.
Pense bem."

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

lais de guia, prussik e fiel

"Paradoxos à parte, ontem meu coturno morreu, coitado. Depois de dezesseis anos de muito barro, cerveja e shows, o véio não aguentou e entregou os pontos, literalmente - a sola se abriu como uma bocarra de jacaré, um dos lados do cano rasgou-se em mais ou menos um palmo de extensão, fora os buracos espalhados. Quando reparei que tinha rasgado, já indo abrindo a boca pra xingar, quando pensei: "Peraí, tenho essa merda desde meus treze anos! Já tava passando da hora de rasgar!"

É com essa constatação que me veio à cabeça outra forma de pensar, de levar e de agir. Tem coisas que arrastamos conosco durante um tempo enorme, senão por toda nossa vida, das quais não nos damos conta que já tiveram seu tempo, que está na hora de deixarmos tais coisas irem embora. É inevitável, tudo vai ter que acabar. Tudo tem que ser acabado. E acho que mais importante, temos que aprender a acabar com as coisas, a reconhecer os prazos de validade, a ignorar os laços sentimentais, às vezes fruto da convivência, que nos atam a peças que já perderam seu valor. É hora de andar. Buscar o novo, o desacostumado e o ainda estranho a nós mesmos. Hora de encontrar algo que nos deixe intrigado com suas manias e trejeitos. Alguém que nos deixe curioso e inquieto, em busca de mais detalhes explicativos de seu funcionamento.

Busca-se laços, às vezes à força, nos enlaçamos sem saber ou querer. Laços, voltas, tranças e nós, daquele tipo que apertamos forte pra ter certeza que não vai soltar. Nos embaraçamos mais e mais, indiferentes aos avisos e sinais cegos à razão e felizes pelo fazer, pelo ser, pelo existir. Ansiosos por sentir, nos enredamos em cordas e barbantes, qual um filhote de gato e seu novelo de lã, absortos no deleite, hipnotizados pela insistência em nos confundirmos ainda mais num redemoinho de fios à nossa volta."

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

"Sonhei com cachorro, de novo. Dizem que é sinal de dinheiro à vista; por mim podia ser sinal de cachorro à vista. Ia ser muito mais legal!
Nunca imaginei que ia sentir tanta falta de um pulguento safado por perto.
Cachorro é tipo um melhor amigo que não fala, sabe? Mas sabe te consolar de uma maneira inconfundível e indefinível. É bom isso.
Acordar de mau humor e ver que ele não tá nem aí para isso.
Chegar em casa encharcado, pego de surpresa pela chuva, e o bendito faz questão de te dar aquelas duas patadas no ombro.
Sentir-se triste, sentar em qualquer beiradinha e lá vem ele, com algo na boca, seja um sorriso ou algum brinquedo babado.
Distrair-se um instante e ser cutucado com um focinho gelado.
Se cansar de tanto pular e correr atrás dele, esbravejando de mentirinha.
Sair pra passear e tomar milhões de puxões e trancos na guia, até que o descoordenado se acalme.
Chegar do passeio e vê-lo pular no pote d'água e sapatear, quando todos achavam que ele iria beber água.
Resolver dar banho e querer deixar tudo pela metade, pois o sacana não sossega um instante.
Esquecer um prato com qualquer coisa ao alcance e perceber que, segundos depois, o prato está limpinho.
Fazer pipoca e saber que logo vem um co-piloto pra vigiar as que caírem no chão.
Assistir aos comportamentos mais estranhos e inexplicáveis que você pode imaginar.
É mais ou menos isso."

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

"Gente medíocre no supermercado.
Eu no supermercado.
Plástico demais.
Gasto demais.
Penso demais.
Sinto demais.
Não quero.
Não vou.
Vou deixar.
Vou largar.
Vou sumir e estudar.
Vou aceitar.
Tudo.
Vou resignar.
Vou conformar.
Seguir sem sentir.
Seguir sensato.
Fingir sensato.
Andar sensato.
Calar.
Doer.
Olhar e andar. Pra longe disso.
Pra perto de mim."
"Choque de realidade durante a madrugada. Fazia tempo que não aconteciam. Fazia tempo que não perdia o sono assim.
- É, é a idade chegando. Discordo.
Choque ao encarar que está na hora, infelizmente, de abandonar uma parcela muito significante da minha vida. Está na hora de deixar sumir, esmaeçer. E dói saber que é o mais sensato a fazer.
Não, não é crise de piedade.
É confuso e angustiante ver isso acontecer. Geralmente só percebemos isso depois, quando vamos procurar por algo e vemos que se foi, se perdeu. Mas ver o processo em ação, ver as coisas se esvairem pelos dedos, ver que não dá mais para viver com a cabeça lá e aqui. Não dá.
Falar nisso, me faz sentir conformado demais, uma vez que sempre questionei a necessidade da sensatez.
- Você está racionalizando demais as coisas.
Às vezes sinto como se minha função por lá tivesse acabado, que me mudaram de turno. Sinto que não tem por que esforçar, ajudar, consolar ou intrometer em assuntos nos quais minha opinião não vai fazer a mínima diferença - patético isso. Eterna mania de pensar que é indispensável.
- Ninguém vai ter pena de você, me disseram uma vez.
Sinto pena de mim mesmo por ficar imaginando se fui embora e deixei alguém lá que espera por mim. Ridículo.
- Vai te fazer bem, dizem.
..."

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Precisava sair, mas estava com medo de encontrar, por acaso, quem ele não queria. Queria mas não queria, queria mas sabia que não devia.
Embatucado com a questão, saiu, temeroso porta afora, como um animal que sai de sua jaula pela primeira vez. Saiu, decidido a tomar caminhos diferentes dos usuais.
Talvez tenha sido isso que lhe pôs um sorriso novo na cara. Tal como o animal recém saído da gaiola, agora eram as surpresas em potencial que lhe agradavam. Ansioso e inquieto, seguiu em frente, quase inconsciente, rumo a seu destino. Ruas, casas, árvores e calçadas diferentes. Pessoas, cachorros e até o canto dos passarinhos se mostrava novidade.
Aonde ia já não tinha mais importância, o fim era simplesmente o ato de ir, o caminho.
Seguiu em paz, contornando quarteirões e praças, ouvindo as rotinas de vizinhanças desconhecidas. Outros horários de almoço, outras melodias nos rádios, outras crianças dando risadas.
Sentiu como se tivesse mudado de cidade, de estado. Sentiu-se livre e anônimo. Sentiu-se por completo.
Se chegou a seu destino, nem mesmo ele saberia dizer. Agora seu destino não era apenas um; eram todos os possíveis, todos os pontos que pudessem ser chamados de "aonde ir" e que merecessem uma pausa. Mercearias, lojinhas de badulaques e botecos se apresentavam e convidavam. A vida em si, parecia mais animada por aqueles lados.
Você ainda pode encontrá-lo, hoje ou amanhã, por algum caminho que esteja seguindo. Se o vir, mande um abraço meu."

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

"Tomei gosto por chuva quando voltei. Antes eu não gostava tanto.
Passei a gostar, a sentir falta, até.
Chuva fina e morna, pesada-gelada, com vento e pedrinhas de gelo misturadas.
Chuva tem me feito pensar e recordar.
Nutrindo e suprindo o que possa estar faltando. Sempre falta algo.
Chuva lembra sapo, que lembra mato, que lembra noite escura e estrelada.
Estrelas brilhantes num pano opaco, furado por ruídos que só a noite tem ou faz.
Noite escura assusta e acalma ao mesmo tempo. Lembra inquietação ao passo que nos envolve e nos convida.
Convida ao chá mate, ao violão.
Nos faz lembrar de atiçar o fogo, senão o banho é gelado.
Noites assim são boas para se ver a silhueta das montanhas contrastando com a luzinha fraca do céu.

Chuva também lembra café de caneca, lembra braços arrepiados de repente, sejam meus ou nossos.
Lembra alguém dentro do abraço e no caminho da boca.
Lembra um beijo na orelha, sem estalar, porque estalado não combina com chuva; tem que ser beijo manso, beijo-cafuné.
E cafuné, talvez vocês não saibam, mas lembra uma colcha de retalhos que tenho aqui, daquelas da vovó - que esquentam esfriando e vice-versa.
Isso tudo lembra suspiro, e suspiro, irremediavelmente, me lembra chuva."

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

chuva e cachorros não combinam

"Disse lhe que ia sair, mas que não sabia a que horas voltaria. Perguntou-lhe se deveria esperar em casa, acordado, ou se também poderia ir pra rua. Ela não soube responder, sua inquietação acabou deixando ambos confusos. Percebeu que cada um acabaria tomando um rumo diferente.
Há muito que não se falam, abertamente, sobre o que lhes aflige. Deixam isso para as pequenas implicâncias cotidianas - as manias de cada um, os não-feitos e os lapsos.
Ele sai com o cachorro, mesmo com o chuvisco da noitinha que começa; pega duas mochilas, a sua e a do cão, veste sua capa de chuva e pega o brinquedo. Saem para brincar, sem saber onde.
Já ela, desce a rua em sentido oposto, num passo apressado e tenso. Dois quarteirões adiante, toca o interfone de um pequeno prédio, onde duas amigas-irmãs, ou irmãs-amigas, moram. Demora um pouco e ela entra, sacudindo a sombrinha do lado de fora.

A noite se prolonga com o fim da chuva e os bolinhos, de chuva, que já estavam a caminho. A capa se torna um incômodo abafado e os bolinhos ficam como que deslocados do contexto. Celulares estão de castigo no fundo das bolsas, calados, enfim.
No apartamento térreo, com jeito de casa do interior, dois gatos preguiçosos vigiam a rua sem o menor interesse nos chamados das donas. Já na praça, deserta por enquanto, o cachorro se diverte como quem vê o mar pela primeira vez. O brinquedo pendurado no canto da boca, dividindo espaço com um sorriso canino.

Nesse momento os seus olhos se cruzam, à distância, quando ambos olhares se cruzam com os olhares vivos do cão e dos gatos. Nessa hora eles se conectam e se precisam.
Ela digita uma mensagem com um gato no colo enquanto ele liga, sua outra mão brigando por um brinquedo babado de borracha.

Olhando de cima e ao mesmo tempo seria possível ver um portão se abrindo e um um zíper de mochila se fechando. Dois beijos, dois abraços, duas promessas de amanhã eu te ligo, um rabo abanando e uma capa dobrada às pressas.

Não demora para se encontrarem na porta de casa.Nesse instante desaba a chuva, que parecia esperar que estivessem no alpendre para lavar o mundo de novo."

domingo, 29 de novembro de 2009

precário e/ou patético?

"Boa pergunta.
Se é precário ou patético, por quê? Por esperar coisas que não se esperam? Ou por achar que vai conseguir enfiar na cabeça dos outros que ser bom não é errado nem faz mal?
Minto, ele não espera, ou pelo menos se obriga a não esperar. Ele se força a seguir em frente, ele força sua adaptação ao novo endereço, colchão e vista da janela. Se obriga a não desejar amores ou alegrias. Apenas a conseguir seguir em paz, em linha.
De tudo que passa por sua cabeça, a solidão declarada, inegável, é a que mais confirma sua presença, todos os dias, em qualquer caminho que ele faça. Mesmo não estando literalmente sozinho, ele sente necessidade de mais, de algo mais, de tudo mais, apesar de não saber quais itens comporiam seu todo.
Por mais que saiba e sinta os benefícios de estar assim, quase sozinho, ainda assim ele reluta. Reluta em admitir que mudanças profundas estão a caminho, já há algum tempo. Reluta em crer que tudo vai se ajeitar.
Em diversas ocasiões ele se pega de surpresa, constatando significados das coisas simples que o cercam, mas que nem sempre é dado o devido crédito.
Coisas como equilíbrio em dia de chuva fria e sol se revelando no céu lavado.
Coisas como conseguir definir coisas boas em que pensar, quando memórias persistentes resolverem clamar um lugar.
Coisas que cansam, doem e fazem suspirar.
Por outro lado, coisas o fazem sorrir - flertar, sorrir e elogiar, recebendo um sorriso tímido de volta - deixando um rastro de tranquilidade e abastecendo o coração com um novo estoque de palavras, às vezes esquecidas.
Está na hora, mais uma vez, de esticar as pernas, espreguiçar e deixar de lado as expectativas, as teimosias de ter tudo na hora em que se resolve querer. Deixar os tremores e ansiedades desnecessárias em qualquer canto, junto com memórias teimosas e cicatrizes.
Está na hora de se por à prova."

sábado, 28 de novembro de 2009

"Alma lavada. De novo. Com vodka e música.
Cara limpa, coração leve e barba feita.
Chuva fria em dia quente, o cheiro do chão sobe até o nariz e me enfeitiça. Dá vontade de me enterrar na terra úmida, macia.
O sono vem melhor, mais forte que antes. Vem e me pega de jeito.
Não sonho com nada, não que me lembre.
Acordo e me jogo de novo nessa coisa que chamamos vida."

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"Velocidade espantosa das coisas em trânsito me faz ficar sempre surpreso.
Em menos de uma semana, tudo que eu queria ter ou ser ou fazer já sumiu quase completamente da minha cabeça.
Tomei decisões, desta vez firmes, que me assustei com minha convicção. Achei que ficaria com um aperto no coração ao pensar nisso, mas não. Fiquei e estou bem.

Óculos.
Menos viagens.
Mais viagens.
Atividades físicas.
Menos álcool.
Melhores companhias.
Mais capítulos.
Mais frutas e verduras e legumes.
Bonsai.
Jabutis.
Barba.
Cabelo.
Sem bigode.
Mais cores.
Mais música.
Mais dias e noites.
Mais rede.
Menos rede.
Prestar menos atenção.
Prestar mais atenção.
Dar mais valor.
Gostar menos.
Gostar mais.
montanhajanelaruabutecosamigosmarcachoeirasolchuvavento
gritarberrarrabiscarestudarpassarbebercomersubirdescerVIVER."

terça-feira, 24 de novembro de 2009

"Diz uma parte de uma letra de uma música de um cara muito bacana - chamado Parteum - do qual já citei algo aqui, que diz o seguinte: "(...)Por mais que a gente pense diferente, a gente sente que em algum lugar do mundo tem alguém que pense igual à gente, que olha em volta antes de olhar pra frente(...)".
Pois então, é isso. Acho fundamental isso, apesar de não conseguir discorrer por muito tempo sobre esse tema.
Acho bacana, talvez baste."

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mais bagunça

"É impressionante como o humor muda de lado, não? O meu então, nem se fala. De manhã estava numa boa, disposto e tudo mais, agora no começo da noite estou inquieto.
Resolvi reler o post anterior e me senti simplesmente patético.
Proferindo elogios a um alguém que não existe; será isso algo como esperar que alguém apareça e clame tais palavras para si? Ou será apenas uma carência deslavada?
Uma coisa que posso dizer, com certeza, é que fico feliz por ter tantas boas lembranças que me fazem escrever coisas bonitas (a meu ver...). Isso me anima e empurra.
Mas quando consigo ver o que escrevi "de fora", sei lá. Me surge à cabeça justamente o nome do blog: precário.
Mas, peraí: agora me pergunto: o amor é precário? Amar é precário? Esperar um amor ou um alguém de tal forma é precário? Não sei responder. Alguma sugestão?
Confuso, muito confuso. Uma torrente de emoções sempre antagonistas, divergentes, ensurdecedoras.
Bem, sei lá o que vai sair disso tudo. Espero, pelo menos, que eu consiga sair."
"Um carinho faz falta. É o que tenho comentado bastante esses últimos tempos com um amigo aqui. Amigo mesmo, sem adjetivos. Aquele a quem se permite silêncios prolongados durante a conversa. Amigo amigo. Ponto.
Faz uma baita falta um carinho especial, um afago sincero e despreocupado. Um olhar que seja, um suspiro tão profundo que te faz suspirar junto, de puro êxtase. Pura alegria e agradecimento por tê-lo presenciado.
Faz falta um colo, um ombro, um aperto de estalar as costelas.
Faz falta aquele curto momento, primeiro momento quando se reencontra, em que se pára, estático, olhando, vendo através das coisas, vendo dentro de quem se reencontrou. Momento curto, mas que faz o tempo parar à nossa volta. Que faz o céu intensificar a sua cor no momento, faz o ar sossegar e os pássaros darem uma pausa na melodia. Faz a boca secar, faz arrepios e sorrisos.
Nesse momento é que percebemos nossa boa sorte, percebemos nós mesmos e aos outros e ao mundo, ao todo.
Fazem falta as tardes quietas, caladas em abraços.
Fazem falta as conversas, guiadas por olhares ininterruptos e suspiros, mais uma vez, indeléveis da memória.
Faz falta o cheiro de preguiça depois de um cochilo que veio sem avisar, fruto da segurança do teu corpo. Falta o instante antes de você abrir teus olhos, instante em que se demora porque sabes que te admiro.
Fazem falta as palavras que nos saem à boca puras, suaves e precisas. Palavras.
Faz falta o sussurro de um elogio, o brilho da pele e a marca de teu cheiro, perfume denso, vivo, que me faz dormir e acordar. Que me lembra de ti até em sonhos.
Faz falta a certeza de poder te dizer, um dia, quem sabe, que vou ficar pra sempre contigo, que pra sempre te cuidarei e que para sempre serei teu.
Só teu."

domingo, 22 de novembro de 2009

"Mais um. Mais lama, lama lama.
putz, fim de semana brabo, encardido, fui parar onde não devia, descobri o que não precisava, mas enfim...
Continuo empolgado, apaixonado, abestalhado. Continuo teimoso e alcoolizado.
Saudade e mais saudade, vontade junto com saudade. Vontade de saudade.
Amigo, forte e essencial. Sempre.
Ansiedade e livros, muitos e grandes.
Tudo fluindo na cabeça, lembrando da matéria até quando não é hora. Ótimo.
Sustos e choros. Crises. Filmes.
Perfume e sair sem óculos, ver a noite embaçada por uma vez, pelo menos.
Calor, rua vazia e encostar em árvores, elogiá-las, falar com elas.
Onde será que estou?"

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Estou começando a achar que logo eu deleto esse blog, tem hora que me canso dos escritos que deixo. Sei lá.
É sazonal, tem horas que escrevo coisas tão bacanas, que realmente me agradam, mas na maioria das vezes não me satisfaço e tenho vontade de apagar alguns posts. Uma mistura de arrependimento com frustração com desânimo e uma pitada de tristeza.
Mas não consigo. Nem minhas memórias eu consigo apagar, por que apagaria o que escrevo?
Não, não vou apagar e ponto.
Tampouco sei o que espero com esse blog, sendo que não deveria esperar nada. Eu sabia disso quando comecei, tinha em mente que seria uma ótima forma de botar pra fora o que me apertava. E realmente é. Me viciei em me esforçar pra conseguir passar pro papel de forma clara e aprazível toda aquela bagunça que faz redemoinhos dentro da minha cabeça careca.
Fico feliz por conseguir, às vezes.
Me satisfaz conseguir expor meus sentimentos de forma que eles se tornem inofensivos, bonitos, plausíveis e não dignos de pena.
Deixa meu dia mais brilhante, minha noite mais inspirada, meu sorriso mais aberto.
Faz passar o calor e ferver o sangue. De alegria e de saudade.
Faz a saudade se mostrar como aquela montanha que vemos ao longe, da janela do carro ou do ônibus; serena e eterna. Gostosa de olhar, até cansar, até dormir com os dedos da saudade te fazendo cafuné."
"Hoje continua calor, continua com previsão de chuva e continua sendo sexta-feira.
Continuo tranquilo, feliz e em paz.
Continuo focado e estudando muito.
Nada de notícias novas, sejam elas boas ou ruins. Tudo linear.

Estava pensando aqui; Galeano gosta de vinhos, ruas e fotos. Neruda adora trigo, céu e violinos. Milan Kundera gosta de paredes e espelhos. Calvin gosta do Haroldo e eu gosto de chuva.
Gosto de outras coisas também, mas a que mais tenho gostado é de chuva. E de noites, com ou sem luar. Gosto de dar risadas altas, espalhafatosas, contagiantes. Gosto também de cochichar carinhos e olhar olhos, abertos ou fechados.
E você? Do que gosta? Gosta de pão de mel ou de doce de figo? De café ou de goiaba?
Gosta de torresmo frio? De rabiscar sem pensar? De correr pra abraçar quem você gosta, ou teima em gostar?
Aí, acabou que tudo isso que perguntei é exatamente do que gosto.
Outra coisa que descobri que adoro é ser surpreendido numa rodoviária, de manhazinha, por uma pessoa linda, ainda com cara de sono e sonhos.
É isso que mais gosto, agora..."

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"É, esse último post foi bem pessoal.
Pois é, foi. Foi sim, sem dúvida.
Não tenho problema em confirmar, nem porquê negar - senti saudades, sim. Aliás, sinto ainda.
Não vou falar de quem, quem é o alvo dessas saudades sabe.
Cansei de ter que levar algumas coisas como algo que vai me fazer mal. Essa saudade é algo que, com toda certeza, só tem me feito bem. Me traz à tona. Me acorda, não consigo esconder.
Além da simples frase, não tenho muito mais a dizer:
Não, eu não te esqueci, independente de quão confuso e/ou rápido nossa convivência.
Me fez bem, me completou, me fez sentir saudades."

Saudade (e vontade) de ontem ser hoje

"Antes eu gastava horas na frente do computador. Hoje não suporto muito mais do que vinte minutos.
Antes eu tinha todo um itinerário de coisas para conferir, diariamente. Hoje me basta a comunicação pessoal e escrever aqui.
Antes eu ansiava por mensagens e novas fotos. Hoje me conforto com a caixa vazia.
Antes eu discutia. Hoje eu mando beijos e cheiros.
Antes me esquecia da cama e do sono. Hoje me esqueço de ontem.
Hoje tudo simples. Antes tudo cansativo.
Hoje o tempo rende. Hoje o tempo voa.
Ontem chorei de dor e de raiva. Hoje não choro, sonho e sou.
Ontem teimava. Hoje Também.
Hoje eu vôo, pulo daqui pra lua ou pro alto do Everest.
Hoje eu danço sentado, rio digitando, amo escrevendo.
Hoje me lembro desses ontens, tão presentes ainda.
Hoje me lembro de nunca me esquecer.
Do ontem e do hoje.
De mim e de meu quase amor. Amor não transbordado, não revelado, não acontecido.
Lembro de olhos distantes que, fechados, se lembravam do contorno da minha boca. Os meus, por sua vez, lembram do teu cheiro, teus cabelos e tua testa que sente cócegas."

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

"Clima de praia, depois do banho...um ventinho manso, besta até.
Água do filtro de barro, chinelo de dedo e cabelos molhados.
Colcha de retalhos limpinha, travesseiro na janela pra tomar sereno.
Algum livro, que ainda não sei qual (os pego no escuro a cada noite).
Amanhã, uma folha de caderno novinha me espera, ao lado de um novo capítulo do calhamaço que tenho que ler. E um lápis com ponta nova também.
Amanhã vai ter uma caneca daquelas de café, a ser bebida no solzinho fresco das oito e meia.
Uma camiseta limpa.
Meias só se surgir compromisso com pessoas.
E o principal esses dias: na cara um sorriso democrático e no bolso um belo de um "FODA-SE"..."
"Mais uma semana que já passou da metade.
Não que tenha passado despercebida, pelo contrário.
Toda detalhada, esmiuçada até não mais poder.
Dissecada, observada, analisada com rigor científico.
Descrita convenientemente, ou não.
Anotada, escrita, lida e relida.
Sentida, ventada e chovida.
Cafeinada, acelerada, atropelada.
Até o momento bem vivida e bem morrida.
Satisfatória, impossível de questionar ou reclamar.
Ouvida em notas altas, distorcidas, quase histéricas.

Uma semana até então simples, cotidiana, meio apática, pode-se dizer; mas nunca uma semana desperdiçada ou obsoleta.
Por mais que as peças do quebra-cabeça de ontem e de hoje se misturem, não perdi o foco, não perdi a ordem nem o rumo.
Não me perdi, pelo contrário:
me achei, mais uma vez..."

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Lá no mar...


"Junto com calor vem chuva. E bota chuva nisso! Achei ótimo!
Fiquei que nem criança, na janela vendo os raios, o vento e tentando pegar pedrinhas de granizo que caíam.
Fiquei ali, por quase uma hora, no escuro, botando ordem na casa, pensando no fim de semana cheio de vida que tive, com uma grande amiga, linda, vindo me visitar! Casa com energia renovada.
É impressionante como surgem tantas novidades em um espaço de tempo tão curto. Faz mesmo é que a gente pare pra pensar que essa velocidade toda acontece toda hora, todos os dias, conosco. Ajuda a entender um pouco mais esse carnaval que é a vida.

Para finalizar as surpresas, recebi um email sem palavras, contendo apenas 3 fotos, de um remetente que eu jamais imaginaria receber algo novamente. Não vou mentir, essa pessoa sabe que fotos de filhotes de bichos me fazem sorrir feito bobo; sabe que eu ia adorar. Mas eu é que não sei o por quê de me enviar...gostaria que tudo fosse mais límpido nesse aspecto, mais simples. Também não vou mentir que me deixa um pouco chateado receber apenas as fotos, gostaria de receber um bom dia, um tudo bem, um até logo. Mas não, infelizmente.

Vou torcer para essa chuvarada lavar isso, tanto daqui, quanto de lá, que escorra enxurrada abaixo, e se misture a todas as outras tristezas lavadas e escorridas cidade afora. Lá longe, no mar..."

domingo, 15 de novembro de 2009

"calor, calor e calor. e cerveja. e música, alta.
sentar na janela, fingindo que é varanda.
risadas, risadas e sorrisos, casa cheia, igual comida com tempero diferente.
noite bem dormida, amnésia de vodka e drinks de verão.
cerveja que não se acaba, macarrão que não dá vontade de parar de comer.
mudança de hábitos, comprar chocolate mesmo sem vontade e jogar na gaveta, uma hora eu como.
feriado que cai no domingo, cidade vazia, esquisita, parecendo que se escondeu de todos seus moradores.
inquietação por eventos que estão por vir. provas e festas.
antecipação do porre que vou tomar quando descobrir que entrei. da ressaca que vou sentir no day after. da gritaria que vou aprontar.
animação pra ir pra praia algum dia, que seja logo, com os amigos maconheiros e dar risada deles completamente malucos e eu bêbado. tô doido pra ver a noite na praia, pra me irritar com o barulho incessante das benditas ondas, pra dar risada, pra tomar sol e queimar a careca.
bons amigos, reencontrados. novos amigos apresentados.
coisas boas que vêm sem aviso, quando a gente deixa simplesmente o fluxo seguir.
cachorro bobo, chorão, que se chama José. Filhote de sucuri, pé de cacau e cachos de orquídeas.
céu azul, limpinho, limpinho. vento sem vergonha, passando de vez em quando, deixando vontade que vente mais.
é...é isso aí, vida boa, sem poder reclamar de nada."
Estou em casa, em paz. recebi uma grande amiga, cheia de vida e de boas recomendações. Ela é linda. temo que eu me deixe sentir por sua beleza, que ocupa e descreve muitas, mas muitas coisa boas e bonitas que existem e que estão me fazendo perder o sono e atiçando a vontade de elogiar.
Provavelmente eu não deva sucumbir.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

"Outra vez encontrei as palavras que acredito, pelo menos por agora, descreverem o que estou sentindo e passando: "Nao foi uma epopeia, nao foi uma aventura, nem desafiante foi. Foi um retiro, um exilio, um dialogar consigo mesmo em tom cordial. Foi como a paz deve ser." São linhas do Diogo, um bom amigo que está na Índia.
Linhas mais do que inspiradoras; são sinceras e brilhantes...
Agradeço mais uma vez, pela sorte de ler tais palavras, pela beleza das mesmas e pelo fato de conseguir discernir o significado destas. Por perceber que não é difícil ficar em paz, apesar da teimosia que sempre criamos, basta querer.
Basta deixar a boca sorrir quando ela assim quiser. Deixar os olhos chorarem quando for inevitável, sem heroísmos ou ataques de orgulho. Basta deixar nossa voz agir livre, seja para gritar a plenos pulmões, soltar asneiras e gargalhadas ou sussurrar carinhos.
Basta permitir que a vida siga, plácida e luminosa, por dentro e através de nós, sem erguer muros e sem cruzar os braços.
Olhar para onde quer que a vista deseje, até além do alcançe físico, perscrutando o inverossímil e o irreal. Espiando os sonhos alheios, as lembranças de todos. Cerrando os olhos para o brilho de uma surpresa.
Fazer tudo que possa surgir no horizonte das mudanças de rumo."

It's the proof that love is not only blind, but deaf

"Get on your dancing shoes...taí uma coisa que tenho feito demais! Dançar, pra tudo e com tudo!
Seja com rock n roll agitado e intenso, com samba cantado e pintado, breakcore esquisito, skinhead reggae velho e chiado, enfim, até com as músicas que só tocam na minha cabeça eu danço, e danço até cansar!
Danço pulando feito um retardado, fingindo que sei rebolar ou sambar, balançando a cabeça e os dedinhos ou inventando passos e caras e bocas, num salão imaginário, bem por aí...
Não precisa de cerveja no copo, nem pista de dança lotada, só o espaço que eu ocupe já dá. E se tiver alguém por perto, ou entra na dança ou leva um esbarrão.
Notícias boas ou ruins? Dá pra sacudir. Só moedas na carteira depois daquela noite? É pra sacolejar! Cabeça meio doendo em frente aos livros? Levanta e dança, meu filho.
Posso parecer um palhaço, mas nem ligo. Quem dança sou eu, se quiser dançar comigo, está convidado, pode começar!"

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

" De noite, depois de brigar um tempão com o lençol e o travesseiro, eu decidi me render, botar os óculos e levantar da cama. Duas e pouco da madrugada, com terapia marcada para as 7 e mais um pouco. Vamos lá.
Dessa vez o que me cutucava era a dúvida, semântica, ortográfica ou estrutural, talvez todas juntas, sobre meus escritos precários.
Quando eu escrevo "Eu acho, eu sinto, eu choro e etc", o faço no sentido de falar sobre mim ou de tentar fazer o leitor pensar em si? Se eu falar "Nós sentimos, gostamos, sorrimos, e etc", falo de mim e do leitor, do leitor e seu alguém, de mim e você?
Na tv dizem para desconfiar de pessoas muito simpáticas, muito prestativas, muito atenciosas. Quer dizer que agora as qualidades das pessoas, que já são coisas raras, devem ser motivo de desconfiança? Não era pra ser o contrário? Não seria melhor valorizar essas virtudes e espalhar sementes de coisas boas por toda parte?
Ainda bem que veio da tv, daí não preciso dar muito crédito. Medo é imaginar quantas pessoas levarão isso a sério.
Bota medo nisso."

terça-feira, 10 de novembro de 2009

"O Galeano disse esses dias: "...Hoje prefiro dizer muito com pouco.", o Parteum disse, já faz um tempo: "Eu não te evito, eu falo pouco porque penso bem melhor quando calo a boca e escuto." Comigo tem sido parecido; eu até me esforço, morro de vontade de escrever um post longo, denso, mas não consigo me demorar em palavras. Acho que sou melhor em me demorar em sorrisos idiotas, olhares perdidos, flertes imaginários e banhos de chuva propositados.
Acho que a tela do computador não me hipnotiza mais como antes, não me seduz como antes. Tenho pressa para escrever, mas também para sair logo da frente dessa peça. Igual McDonald's, a gente fica doido pra comer lá, mas quando come, não vê a hora de sair. Dizem que são as cores que eles usam.
De noite tenho esquecido de carregar comigo o lápis e o bloco de anotações. Com isso, as idéias que tenho acabam se perdendo entre um sonho e um resmungo.
Sonho e resmungo a noite toda, reviro a colcha de retalhos e coloco o travesseiro de castigo. Creio que seja por causa das idéias que não pus no papel; elas, inquietas para se traduzirem em palavras ficam me atazanando para que eu acorde e as mude de endereço.
Será?"

domingo, 8 de novembro de 2009

jabá pra quem merece

É, isso mesmo, jabá.
Tem um amigo daqui resolveu escarafunchar a Índia de mochilão, chama-se Diogo, e é a cara do Jack Black. Ele criou o blog http://losthippies.wordpress.com contando suas impressões da viagem.
Vale a pena parar um pouquinho e dar umas boas risadas com seus posts!
Boa sorte aí, Diogão!

"Tire seu sorriso do caminho, que quero passar com a minha dor..."

"Sábado desses eu fui pro samba. Como sempre acontece, de tempos em tempos, quando tudo corre bem na minha vida.
Fui, bebi e sambei. Sem pressa, sem vergonha e sem nada na cabeça.
Cantei alto letras lindas, cantei as alegrias e tristezas de viver, como só um bom samba sabe fazer.
Bebi em paz, em pé, copo de plástico. Cerveja de buteco, na beira do morro, atendido com um sorriso e uma educação melhor do que qualquer outro lugar onde eu já tenha ido.
Vi a vida ali, na face e no corpo de muitas pessoas boas, simples e despreocupadas. Vi as crianças subindo onde não deviam, mas que era o melhor lugar da festa.
Vi tanto sorrisos e abraços, como eu nunca havia visto antes. Sorrisos de todos para todos.
Em paz."

sábado, 7 de novembro de 2009

Hoje continua calor

"No fim das contas, ainda não entendo nada. E sei que não vou entender nunca. Mas não faz diferença, também, se eu descobrisse como funciona e resolvesse contar a alguém, será que entenderiam?
No fim das contas é tudo igual. Igual e completamente díspar ao mesmo tempo.
Não dá pra querer entender aquilo que foi feito para não ser entendido, mas sim, descoberto, aprendido aos poucos, de forma que nunca nos lembremos da lição passada; que nunca consigamos juntar todas as partes que já temos e montar, ao menos, um esboço.
O importante é seguir, seja sonhando ou acordado, sóbrio ou quimicamente alterado, tenso ou plácido.
E nada de ficar olhando para trás o tempo todo..."

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

"O café continua me alimentando, enchendo a barriga e ajudando a cabeça a olhar só para um lugar. O açúcar do café ajuda a diminuir a tremedeira bizarra que os remédios causam. A tremedeira ajuda a manter o pescoço erguido, para que eu lembre de não abaixar a guarda de uma vez por todas. A guarda alta me remete à tudo que veio me encher o saco um dia e que consegui enfrentar e derrubar. As lutas me lembram de que preciso continuar correndo se não quiser ser mais um pedaço de carne ambulante na superfície dessa terra. Correr me lembra que um cd ficou com alguém que não vai devolvê-lo. Isso me faz pensar como somos mesquinhos involuntariamente e como pessoas negam palavras, sorrisos e abraços com a mesma facilidade com que negam moedas a mendigos e votos aos políticos.
Isso me lembra, mais uma vez, de como as pessoas são estranhas e egoístas. Me lembra de me afastar delas ante que seja tarde demais e eu passe a agir como elas. Me lembra da grandeza de todo o resto, inclusive das pequenas coisas, que não são notadas pela maioria e que fariam uma enorme diferença no esquema todo.
Bom, se ninguém olha, então eu vou."

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

"Como eu disse antes, as pessoas são estranhas, muito estranhas.
Nunca vou entendê-las, por mais que eu seja uma pessoa também.
Quisera eu não fazer parte disso."
"Mudança de rumo, de novo.
Retomadas, pedidos, saudades.
Sorrisos diários, sinceros e sem motivo.
Paradas bruscas e vislumbres inéditos.
Detalhes minúsculos, vivos.
Sons, cheiros, cores, texturas, sabores e aromas.
Lápis novos, na caixa.
Discos velhos, com chiados em formato digital.
Café e cerveja. Livro e travesseiro. Chinelo e poça d'água.
Wasabi e shoyu. Gengibre e atum. Manjericão e tomate. Cebola roxa e salame.
Chorinho e amigos. Fotos e risadas.
Janela e sossego.
Beliche e celular desligado.
Garagem e lembranças.
Jornal e idéias.
Por fim, paz de espírito.
Felicidade."

Cena um, take um - dane-se.

"Pessoas são realmente estranhas. Vejo-as em espaços amplos sempre encolhidas, entocadas. Vejo-as em dias azuis sempre sombrias, pálidas. E sinto-me cada vez mais e menos estranho por teimar em sentir justamente o oposto do que elas sentem. Por teimar em viver o oposto do que elas vivem. E vejo em seus rostos a admiração e a surpresa.
Vejo dias tão luminosos, tardes tão preguiçosas e noites tão serenas que me surpreendo a cada momento. Esmiuço os detalhes, excluindo da cena tais pessoas, inexpressivas e temerosas, frias e falsas em seus modos e humores. Por mais que retire itens, sempre fica mais completa.
Sempre fico mais completo.
Sempre me completo, com as faltas que antes preencheram meus dias. Tais vazios ainda estão presentes, indispensáveis na hora de ver e sentir e viver. Se fundem a trilhas sonoras dissonantes, palavras desconexas, expressões debochadas e sorrisos sinceros.
Afinal, ter vazios consigo não ocupa espaço, pelo contrário, libera os lados, os braços, os olhos e os corações.
Sempre fico mais completo."

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Skingead reggae

"Ouvindo skinhead reggae (ou early reggae, se preferir) pra combinar com o fim de tarde de luz perfeita e cerveja de quarta-feira, é inevitável não querer uma varanda de volta. Ou um quintal, quem sabe? Com um cachorro grande e amistoso deitado bem embaixo dos meus pés e os elementos que eu descrevi logo acima, seria perfeito.
Perfeito, sim. Eu não tocaria em mais nada, não alteraria nada, seria um fim de tarde perpétuo, infindável, imutável. Mais uma vez, perfeito.
Claro que tem mais um tanto de coisas que poderiam ser acrescentadas, por mim ou por você, muitas coisas. Só que dessa vez, elas não entrariam. O cenário perfeito seria esse e ponto.
Eu, cachorro, varanda, cerveja, musica e fim de tarde.
Poderia alternar o pôr do sol abafado com uma alvorecer gelado, a cerveja poderia revezar com canecas de café transbordando, a música também poderia mudar, sem problema. Até o cachorro; em vez de estar deitado, estaria com o rabo abanando e a língua de fora num sorriso bobo, coisas que só cães sabem fazer, e são os únicos que o fazem com a mais pura sinceridade.
Mas nada mais seria acrescentado, acredite. Por mais que você ache que eu vá me render e tecer um parágrafo dedicado a amores desconhecidos, está enganado.
Eu, cachorro, varanda, cerveja, musica e fim de tarde..."

vindo de volta

"Faz uma semana que estou tapando buracos. Boto pedras em cima deles, como se quisesse aprisionar embaixo delas algum mau-espírito. Andei quinhentos quilômetros listando os buracos que devem ser tapados e de quantas e de que tamanho de pedras eu iria precisar. E olha que são menos do que eu pensava. Ótimo assim.
O círculo está se fechando e muitas coisas estão ficando quietas, serenas. Por mais que tenha tido surpresas e sustos ao olhar dentro de alguns buracos, continuo firme na tarefa; tapar e tapar.
Sem problema."

terça-feira, 3 de novembro de 2009

não pertenço mais

"Mais uma noite que eu custei a dormir sem saber o motivo. Estava cansado, meu corpo pedia descanso, arrego, ao mesmo tempo que sentia falta de outro corpo, de outro ombro, cintura e braços enroscados em sua volta. Meu corpo, coitado, reagiu, recuou, colou-me à parede, na tentativa patética de simular alguém por perto. Só assim consegui dormir. Patético, mais uma vez.
Ainda assim tive um sono agitado e tenso, sonhei com tinta preta manchando coisas que não devia, cobrindo até minha visão. Sonhei que fugia, que me perseguiam, que eu estava em casa e que tinha meu cachorro de volta.
Acordei com um gosto estranho na boca, gosto que não sei definir - não era dos melhores.
Ainda estou estranho, comi sem vontade e um nó vem se contorcendo na garganta - mau sinal - hora de abrir as portas e as janelas, deixar ventilar e respirar.
Hora de procurar amigos e árvores, muros de arrimo da alma e do coração.
Hora de botar o pé no dia, sentir o cardápio de hoje e descobrir algo que me tire esse gosto ruim da boca."

(escrito durante uma crise de choro em Poços de Caldas, no mês de outubro - obrigado à pessoa que me ouviu e me tranquilizou quando eu precisei, obrigado mesmo!)

Hoje, 03/11

"Hoje é aniversário de minha mãe. Fico feliz por estar aqui, junto dela e por estar em paz.
Bebi cerveja, fiz palhaçada e criei este blog.
Estou realmente feliz, satisfeito com o que tenho.
Satisfeito comigo, simples assim.

Minha mãe ganhou flores, de uma tia distante.
Nunca senti tanto perfume em casa quanto hoje. São lírios, lindos e vistosos.
Enchem todo o apartamento de frescor e imagens. Quase saudades.

Mais um dia positivo, proveitoso.
Mais um dia em que mudei o curso das coisas em meu caminho, sem hesitar.
Mais uma vez que bagunçei minha bagunça e defini novos parâmetros a serem observados.
Mais uma vez que olhei para minhas saudades e sorri."

BH, 05/10, de noite

"Mais uma vez estou confuso. E mais uma vez não sei por quê. Tive um bom dia, proveitoso e com boas notícias.
Mas agora, no começo da noite, que por sinal está linda e fresca, parece que me falta algo. Será que minha cabeça se esqueceu de algo? Não...Está tudo aqui, estão todos aqui, inclusive os de maior valor, de quem sempre nos lembramos quando procuramo sentido para estar e continuar vivos e sãos.
Acho que me falta é coragem. Sinto que uma nova e confusa bifurcação se aproxima, com opções tentadoras, à mostra parcialmente.
Temo que sejam más notícias, que sempre acompanham minhas mudanças. Temo que sejam do tipo surge travestidas de boas novas, mas que são baldes sem fundo de desilusões e choro e dor.
Dor. Meu corpo parece como o de um animal assustado, acossado por um predador invisível e implacável, sempre certeiro.
Estremeço como se esperasse um golpe súbito, seco.
As palavras saem e soam feias, pegajosas. Palavras que não deveriam ser escritas, ou pronunciadas.
Talvez nem pensadas."

me leva embora?

"Sorte do dia, pode ser pra você ou pro seu amigo, mas sei qu vai cair como uma luva: Seja feliz, sincero, honesto e interessado no
bem-estar das pessoas que gosta; isso é garantia para que alguém fique incomodado - seja com sua felicidade ou apenas com sua
existência - e te surpreenda com disparates dignos de ânsia.
Sorte do dia, pra você, apenas: apesar de tudo isso, você ainda pode sonhar e andar pela rua pensando na sua música favorita,
segurando pra não cantá-la a plenos pulmões, sorrindo pra que ninguém entenda e ao mesmo tempo com vontade de estar em outro lugar do universo.
Isso você pode. Ou melhor: DEVE."

Colcha de retalhos no beliche

"Ontem sonhei coisas e mais coisas. Coisas que me levaram de volta no tempo e no espaço.
Sonhei com coisas em forma de pessoas e abraços e cobertores.
Sonhei com choro e com sorriso, com rancor e saudade.
Mas sonhei, e isso me basta."

Foco

"Preciso de foco pra câmera que tenho na minha cabeça.
Pra poder fotografar céus mais azuis, dias de vento, andorinhas, assobios, suspiros e dragões.
Tenho certeza que guardei, mas na bagunça da vida, esqueci onde ficou."

P.s.: foda-se o foco, sigo desfocado mesmo...rs

Proto

Proto texto para protagonizar um início bizarro, sem nexo ou noção.
Proto-carta, proto-coisa, proto-being.
Proto.
Antes, cedo - primordial (pretensão minha).
Motivado, empolgado, feliz e despreocupado.
Intenções obscuras e desejos inexistentes.
Atitudes impensadas e reações nulas.

Pode ser que seja eu tudo isso que foi descrito até agora
pode ser que não seja ninguém que você conheça.
Pode ser sua vó, velha e morta, de bermudão na esquina,
pode ser sua mediocridade sem fim, insistindo em existir.

Precário.
Foi assim que me rotularam uma vez,
foi assim que me perceberam certa vez.

Precário.
Não me importo.

Bom proveito (se houver)...