"Hoje ele estava num humor, assim...ordinário. Tão comum em seu bem estar e resignação que as coisas e as leituras renderam bem.
Estava tudo tão azul, normal, sem frio nem calor, besta até certo ponto. Estava bom, pensou quando foi se deitar. Até procurou algo para se inquietar, mas não conseguiu uma palavra que pudesse deixá-lo chateado.
Um dia sem palavras ruins. Bom isso, anormal até.
Perguntou-se como era possível. Um dia sem palavras ruins mostra-se um dia com cerca de cinqüenta por cento menos palavras pronunciadas. Por sua vez, com metade das palavras não ditas, supõe-se que houve, nesse todo dia, menos ocasiões para palavras serem ditas - boas ou más. Buscando-se a causa de menos ocasiões propícias a palavras, pensou em dor de garganta. Mentira, está saudável como há tempos não ficava. Portanto, concluiu, a causa de menos palavras ditas em ocasiões de palavras foi sua falta de pessoas a quem dizê-las.
Percebeu, então, que não houve pessoas em seu dia. Nem chatas nem legais. Não houve. Passou o dia de boca fechada, falando algo sozinho, aqui e ali, comentando uma coisa qualquer consigo mesmo.
Percebeu que, se não houve pessoas boas ou más durante seu dia, na verdade não houve ninguém em seu dia. As palavras que pensa terem sido boas, na verdade não foram ditas, foram pensadas. Nem mesmo sozinho ele falou. E essa ilusão correu ao longo do dia, mascarando a vida à sua frente, de forma que ele não soube relembrar se realmente o dia foi azul, sem contratempos ou chuvoso.
Não sabia onde havia ido, não sabia se havia vivido.
Dormiu bem, vejamos como acorda."
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