quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

sem título que se funcione.

"A situação mais comum, cotidiana, te faz ver que você não é tão pouca coisa. Ou talvez também o é.
Outras situações te fazem ver que você é um bocado diferente, ou pelo menos se sente.
A vida toda te faz faz ver o quanto ela não é nada fácil de se entender. Te fazem ver que não é um autômato que a finge.

Os dias e as conversas que se sobrepõem acumulam dúvidas - sobre você e seus atos/gostos/gostares. Pensares/imaginares/sorrires...sobre palavras e sentimentos que não deviam, mas acabam tornando-se plurais e deveriam, talvez, fluir singulares de sua boca. Deveriam, talvez, satisfazer a necessidade de palavra de quem os precisa, os evita, os ignora. Deveriam, talvez em segundo plano, lembrarem-se que o mundo todo é, ainda, plural. Disso tudo se culpa e sente também.
Disso tudo se sente e se foge, também.
Disso tudo se dói, se suspira e se procura em si mesmo e nos desenhos que resolveu começar.
Nisso tudo se acha, se vê e se dissolve.
Esperando que a passagem se pague, torce para que um outro lugar seja possível, tal qual o amor/paixão/sorrisos/abraços que você viu escondido debaixo da colcha de retalhos que era da sua vó e que ainda teima em mantê-la."

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

"Entender pessoas é algo que ninguém sabe ou gosta de fazer. Cheguei a essa conclusão. Mesmo que consigamos, não vai ser algo de que nos orgulhemos, já que sempre vão sobrar dúvidas.
Pessoas que nos foram sempre positivas e que aparecem, como que do nada à nossa porta, com cara de bosta e humor de assoalho. Pessoas que resmungam sem porquê e contaminam conscientes. Que imploram por ajuda sem saber, mas não sorriem quando são consoladas. E se sorriem, fingem um sarcasmo burro e pegajoso. Falso em essência.

Como sempre escrevi, a eterna teimosia em acreditar que o que se pensa e sente vai vir em recíproca. Vai ser transmitido pelo ar afora, vai contaminar corações e mentes...toda essa balela tilelê do caralho. Não vão, por mais que esperemos isso.

De qualquer forma, sigo feliz, já que aprendi outra lição."

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

"Sair com mais de um destino e um meio único de transporte. Sair para olhar e ouvir o que a cidade te deixa à mostra, o que ela insiste em te mostrar e você teima em não admitir.
Um bom punhado de ruas que te permitem deslizar, andar e cair.
Um outro punhado, por enquanto maior, de árvores e sombras e folhas que te acolhem no caminho.

Foi possível ver a cidade agindo de noite. Existindo, num domingo à noite, com todos seus componentes que nem sempre se evidenciam nas imagens cotidianas. Talvez mais evidentes nas imagens que nos chegam de outras capitais. Outras capitais mais cantadas, de forma urbana, que se amoldam às vivências que resolvemos inserir e que se adaptam às vivências nossas de cada dia.

No sossego que a música escolhida te traz, refazem-se condutas, promessas e apostas. Define-se parâmetros e coisas a serem refeitas. As ruas, vazias, de certa forma, te levam a parar nas esquinas e imaginar outras ruas tão singulares quanto aquelas que criaram a intersecção.

Nessa noite toda conheci uma janela nova. Lá tive um vislumbre de um potencial alguém. Na mesma janela, deixei também uns suspiros e uns olhares distantes. Suspiros meus pra mim mesmo.
Quando voltarei ainda não sei.
Nem quero saber."

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

"A chuva agora vem em intervalos imprevisíveis, sempre surpreendente e reconfortante. Intervalos que se mostram necessários, precisos. Tenho achado sempre um bom motivo na chuva. Uma razão justa que me faça não desgostar ou maldizer os temporais de primavera quase verão.
Acaba que tenho mais visto e ouvido que tomado essas chuvas todas, de longe, do alto, quando, em certas horas, gostaria de estar me encharcando lá embaixo, levando pedradinhas de granizo na careca. Da janela tenho assistido às chuvaradas que molham a escrivaninha, que me fazem tirar o passarinho da janela e tirar as tomadas da parede."

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

"Na hora de ficar quieto todos se perguntam os porquês. Me perguntam o que houve, o que me fizeram, quem foi e que dia.
Mas tem hora que só ficamos quietos. Só. Por ficar mesmo, por não ver necessidade em falar mais. Não há a urgência de dizer. Basta o calar. Calar da voz e dos ouvidos. Um estado de silêncio em duas vias, da parte de quem diz e de quem escuta.
Uns chamam de tristeza, outros depressão, alguns de orgulho ou frescura. Mas acho que não se trata de nada parecido.
Tem hora que penso ser só passageiro, tem hora que tenho medo que tudo que já foi volte a assombrar. E no fim das contas, chego à conclusão que não é nada mais que uma vontade de ouvir o que faz som por dentro. Ouvir o que fica abafado enquanto escutamos os outros e aos outros.
É hora de ouvir-se mais."