"- E então, você vem? - disse para a amiga que há tanto não via.
- Poxa, cara, tô aqui te esperando! Vai demorar?!? - botando pressão no enrolado do fulano.
- Olha, vou te falar sério: fiquei aqui te esperando, mesmo sabendo onde você estava e que não viria. Sabia que não viria, por pena e por vergonha do que aprontou. - assim ficou registrado na secretária eletrônica.
- Não, já disse que não vamos nos ver mais. Aliás, nunca nos encontramos, portanto, não espere que eu apareça. - falou, terminando rápido para acabar algo que não devia ter começado.
É. Tem hora que penso nessas frases, sendo que talvez só tenha dito as duas primeiras, pelo que me lembre. Penso como devem ser ditas, essas e outras - até mais significativas - a todos os instantes do dia. Todos os dias.
De noite os temas talvez tornem-se mais extremos - alegria ou o oposto, preto no branco. A noite é boa pra intensificar as coisas.
Eu fico pensando em frases para dizer, se surgir a ocasião e se eu me lembrar, claro. Claro que não vou lembrar. Ocasião, como a palavra já se apresenta, é ocasião.
Nas ocasiões que tive soube dizer o que precisava ser dito, com a rispidez ou a ternura necessárias, em toda a intensidade que se pode esperar. Ouvi também respostas na mesma forma e teor.
Me pergunto se penso nessas frases por vontade de ter alguém para dizer ou apenas porque tenho imaginação fértil. Acho que um pouco dos dois, dessa vez sem pender para nenhum lado. Posso dizer com certeza que já tive momentos de dizer coisas assim, bonitas e inspiradoras. E posso dizer também que foram apenas momentos, em um caso ou outro. Bons e maus, dignos ou não de saudade. Tive e bastaram.
Houve também quase momentos, quase suspiros e palavras engasgadas, balbuciadas de cabeça baixa. Tive e tenho quase saudades, se é que isso existe. Que já tive um quase amor, isso é fato. Parece estranho, mas tive. Se ainda o tenho? Não sei responder. Acho que não tenho e nem terei a resposta. Nem sei se quero tal resposta.
Quero seguir, perguntando a mim mesmo o como seria das coisas, pessoas e lugares. O estranhar e entranhar antes durante e depois. Entranhar - dá frio na barriga isso.
Quero seguir assim, sorrindo besta para o céu em plena segunda-feira, fingindo que sou o Jimi hendrix do ponto de ônibus, o cronista do quarteirão.
Desse jeito eu levo bem as coisas, ou ao menos tenho levado, aprendendo à medida que sigo."
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