"Tomei gosto por chuva quando voltei. Antes eu não gostava tanto.
Passei a gostar, a sentir falta, até.
Chuva fina e morna, pesada-gelada, com vento e pedrinhas de gelo misturadas.
Chuva tem me feito pensar e recordar.
Nutrindo e suprindo o que possa estar faltando. Sempre falta algo.
Chuva lembra sapo, que lembra mato, que lembra noite escura e estrelada.
Estrelas brilhantes num pano opaco, furado por ruídos que só a noite tem ou faz.
Noite escura assusta e acalma ao mesmo tempo. Lembra inquietação ao passo que nos envolve e nos convida.
Convida ao chá mate, ao violão.
Nos faz lembrar de atiçar o fogo, senão o banho é gelado.
Noites assim são boas para se ver a silhueta das montanhas contrastando com a luzinha fraca do céu.
Chuva também lembra café de caneca, lembra braços arrepiados de repente, sejam meus ou nossos.
Lembra alguém dentro do abraço e no caminho da boca.
Lembra um beijo na orelha, sem estalar, porque estalado não combina com chuva; tem que ser beijo manso, beijo-cafuné.
E cafuné, talvez vocês não saibam, mas lembra uma colcha de retalhos que tenho aqui, daquelas da vovó - que esquentam esfriando e vice-versa.
Isso tudo lembra suspiro, e suspiro, irremediavelmente, me lembra chuva."
Nenhum comentário:
Postar um comentário