"Pessoas são realmente estranhas. Vejo-as em espaços amplos sempre encolhidas, entocadas. Vejo-as em dias azuis sempre sombrias, pálidas. E sinto-me cada vez mais e menos estranho por teimar em sentir justamente o oposto do que elas sentem. Por teimar em viver o oposto do que elas vivem. E vejo em seus rostos a admiração e a surpresa.
Vejo dias tão luminosos, tardes tão preguiçosas e noites tão serenas que me surpreendo a cada momento. Esmiuço os detalhes, excluindo da cena tais pessoas, inexpressivas e temerosas, frias e falsas em seus modos e humores. Por mais que retire itens, sempre fica mais completa.
Sempre fico mais completo.
Sempre me completo, com as faltas que antes preencheram meus dias. Tais vazios ainda estão presentes, indispensáveis na hora de ver e sentir e viver. Se fundem a trilhas sonoras dissonantes, palavras desconexas, expressões debochadas e sorrisos sinceros.
Afinal, ter vazios consigo não ocupa espaço, pelo contrário, libera os lados, os braços, os olhos e os corações.
Sempre fico mais completo."
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