"Boa pergunta.
Se é precário ou patético, por quê? Por esperar coisas que não se esperam? Ou por achar que vai conseguir enfiar na cabeça dos outros que ser bom não é errado nem faz mal?
Minto, ele não espera, ou pelo menos se obriga a não esperar. Ele se força a seguir em frente, ele força sua adaptação ao novo endereço, colchão e vista da janela. Se obriga a não desejar amores ou alegrias. Apenas a conseguir seguir em paz, em linha.
De tudo que passa por sua cabeça, a solidão declarada, inegável, é a que mais confirma sua presença, todos os dias, em qualquer caminho que ele faça. Mesmo não estando literalmente sozinho, ele sente necessidade de mais, de algo mais, de tudo mais, apesar de não saber quais itens comporiam seu todo.
Por mais que saiba e sinta os benefícios de estar assim, quase sozinho, ainda assim ele reluta. Reluta em admitir que mudanças profundas estão a caminho, já há algum tempo. Reluta em crer que tudo vai se ajeitar.
Em diversas ocasiões ele se pega de surpresa, constatando significados das coisas simples que o cercam, mas que nem sempre é dado o devido crédito.
Coisas como equilíbrio em dia de chuva fria e sol se revelando no céu lavado.
Coisas como conseguir definir coisas boas em que pensar, quando memórias persistentes resolverem clamar um lugar.
Coisas que cansam, doem e fazem suspirar.
Por outro lado, coisas o fazem sorrir - flertar, sorrir e elogiar, recebendo um sorriso tímido de volta - deixando um rastro de tranquilidade e abastecendo o coração com um novo estoque de palavras, às vezes esquecidas.
Está na hora, mais uma vez, de esticar as pernas, espreguiçar e deixar de lado as expectativas, as teimosias de ter tudo na hora em que se resolve querer. Deixar os tremores e ansiedades desnecessárias em qualquer canto, junto com memórias teimosas e cicatrizes.
Está na hora de se por à prova."
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