segunda-feira, 19 de abril de 2010
Sprout and the bean
"Essa mina aí em cima é gringa e toca harpa. Só sei disso e que ela escreve e conta músicas lindas, que me aplainaram as idéias difusas e incoerentes da cabeça. Sei o nome dela também, mas isso não vem ao caso.
Algumas de suas músicas me levaram a lembrar de coisas e pessoas. Coisas como abraços, pessoas como as que já não sei se existem. Ou pessoas que ainda não me existem. Me lembraram pão.
Me fizeram escrever isto. Me fizeram respirar e endireitar a postura. Me lembraram de chorar, mas só lembraram, porque as lágrimas ainda estão sendo feitas e não houve nada que as fizesse sair.
Sementes espalhadas e conversas de girinos.
Grama, água e violão.
Vozes no escuro, atrás de uma porta de rua, onde a chuva castiga e nos pede para abrir. Uma voz que nos é comum, é a nossa própria voz que ecoa quando batemos a cara nessa porta escura.
Uma tarde fria e escura também, por nuvens carregadas que trazem o vento.
Luz de abajur, fraquinha e aconchegante. Clichê.
Música que me faz piscar e ver que muita coisa se desfaz nesse meio tempo. Lembranças que ainda teimam em surgir e que não têm mais o mérito de povoarem minha cabeça. Me lembrar do que ainda está por fazer. Música que faz coçar a cabeça, olhar para os lados, pensar em quem se gosta ou se gostaria, que estivesse por perto para ouvir música junto.
Sorrir e ouvir junto.
Abraçar junto.
Chover junto, viver junto, talvez para sempre, talvez só até o fim do domingo.
Piscar e suspirar junto, perguntar o motivo do suspiro junto. Perguntar o motivo do sorriso junto. Perguntar sem falar, responder sem dizer, fazer sem ouvir, insistir em continuar abraçado, por mais que a hora chegue e o telefone te lembre da sua vida que ainda passa por trás.
Musica com água, com chuva, com beijo molhado. Com óculos embaçado, por respiração perto ou por choro e lágrima. Nariz vermelho, escorrendo e vontade de esconder debaixo da cama.
Música que te busca lá no fundo, te aperta e te assusta com tamanha beleza e simplicidade. Música com vida e com doce, chocolate.
Música que realça silêncio e sorriso. Que atrasa compromissos, perde ônibus ou faz pegá-lo mais cedo só para levá-la para ver os carros da janela junto consigo.
Estalos, passos e suspiros de novo. Estrelas entre árvores à noite, cachorros e mendigos. Frio que não senti, mas que fui eu quem o dispersou, fui eu quem o abraçou.
Música que te bota no ritmo, eixo ou rumo, que te empurra para frente, igual fila para comprar bala no recreio.
Te leva, te faz.
Te traz."
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