terça-feira, 27 de julho de 2010

Retalhos de sono REM

"Ontem e anteontem sonhando bizarrias, estranhezas e até comédias. Devaneios sem um pingo de noção, que misturam todos os lugares por onde passei, todas as pessoas que conheço e todas as emoções que consigo entender que sinto.
Faltas, vontades, saudades, raivas cotidianas, risadas trôpegas com cerveja.
Tudo isso misturado como tintas de diferentes cores pingadas num galão de branco, ou preto. Ouros pretos, cabos verdes, belos horizontes e até poços de calda, tudo misto, tudo fluido e moldável. Moldado de acordo com sabe-se lá o que governa tais viagens noturnas, gente, coisas, lugares e ações completamente fora de lugar e que resultam num quadro sutil e simples. Compreensível apesar da quantidade de elementos.
Isso sem contar todos os outros componentes que vi apenas lá, os quais não me acompanharam depois de desperto."

domingo, 25 de julho de 2010

"As coisas boas acabam aparecendo, devagar, plácidas. Chegam sem que as percebamos e tomam seus lugares, decididas. Trazem sempre consigo uma paz indescritível, que nos faz olhar para o espelho com menos profundidade.
Essas coisas boas surgem na forma de palavras, escritas ou faladas, que brotam sabe-se lá de onde, nas horas em que menos se imagina. Andam em mão-dupla, estacionando sempre que têm vontade.
Coisas boas também são trazidas por amigos, de longa data ou não, de perto e principalmente de longe. Amigos que te dizem o que você nunca está preparado para ouvir. Que te confessam tranquilidades e suspiros. Amigos que te deixam inquieto, doido para vê-los logo, estando eles onde quer que seja, te criando vontades de conhecer novos lugares, de fazer novas andanças.

Até que enfim as coisas boas chegaram; ou melhor, até que enfim eu as percebi aqui, espalhadas por toda a parte em mim."

quarta-feira, 21 de julho de 2010

"A cabeça tá vazia. Bom ou mau sinal?"

terça-feira, 20 de julho de 2010

"se cuida"

"Hoje ainda é dia do amigo. Como se precisasse de uma data escrita para exercer tal estado de espírito. É bom, pois nosso coração nos guia a chamar quem merece realmente, de amigo.
Estreita-se laços sem nem mesmo perceber.
É uma data que merecia um destaque maior, mais efusivo, talvez. Por outro lado, é uma data que comemora-se cotidianamente, sem pudores e sem rigores calendarísticos.
São abraços apertados, preocupações e felicitações sem motivo, pela existência, simplesmente.
São brindes, sorrisos, risadas que surgem de lá de dentro, que nos buscam e nos desafogam.

Ontem ouvi uns músicos nova-iorquinos, os quais reforçam sempre o caráter orgâncio, não só musical, mas pessoal, humano de suas músicas. Música tocada por pessoas para pessoas. Na rua ou onde quer que elas estejam. A essência, na minha opinião, de ser humano, pela nossa necessidade intraespecífica de nos relacionarmos. Não adianta, só temos à nossa própria e única espécie para nos comunicarmos e nos entendermos, por mais que este último seja mais difícil de se atingir.
Aliás, o quão bem nos faz esse entendimento, essa inquietação de querer sempre estar falando, teclando, olhando ou tocando alguém.
Como gostamos, por pior que se portem alguns de nossos conspecíficos, buscamos e precisamos conforto e alegria em nossos irmãos.

Esses músicos, tal como vários outros, me pareceram cansados de todo essa impertinência contemporânea. Cansaram-se de ver carrancas e pesares, pelas ruas pelas quais andam; resolveram mudar isso à sua maneira.

Aqui mudo a toda hora, em toda linha. Mudo de rumo e de foco. Nunca da minha vontade de aproximar, sempre, meus opostos, meus extremos. Amigos do sul com o do norte, da escola com os do trabalho. Os trago para casa e marco com todos no caminho dos outros, esperando que nessa intersecção amizades se reatem, revejam, se confirmem e se fundam.
Tornem-se um, dois, vários, todos."

domingo, 18 de julho de 2010

" Me entristece ligar e ouvir não
Me entristece não ligar e imaginar o sim
Me desnorteia lembrar do bom
Me desanima olhar pra mim

O dia que passa sem alguém
A noite, de estrelas, com ninguém
A nova ordem que se repete
A velha melancolia que se apresenta

Uma tentativa falha de traduzir em poesia algo que nem eu soube digerir. Outra tarde vazia, meio vazia, com e sem vontades, com e sem sorrisos.
Uma necessidade de atenção que transita entre a carência e a infantilidade, que me divide entre análises e abandonos de realidade. Necessidade de conversa que nem sempre se supre com o que tenho em mãos. Necessidade da conversa viva, física, palpável. Carência de abraços, que lembro não ser só minha. Carência de coragem, talvez.
Mas ao mesmo tempo, confusão dentro da cabeça, enjoada que te cutuca. Medo de ligar, ouvir o que não se deseja e piorar por isso. Medo de não ligar e despediçar uma boa hora, uma boa conversa.
Escrever linhas medíocres como forma de dar vazão. Escrever tédio em linhas feias."



sábado, 17 de julho de 2010

Como se faz?

"Estou misturando e confundindo idades. Quantos anos eu tenho se quero me embebedar em casa, num raro fim de semana em que fico quase sozinho em casa?
Quantos anos tenho ao desistir de tomar cerveja e comer coxinha num buteco pé sujo ali na esquina?
Quantos seriam no caso de querer receber amigos, em casa, numa noite de sábado, igual hoje, para algo de comer e algos de beber, vários algos de ouvir? Seriam 18, 20, ou seriam vinte e nove, trinta?
E para ligar o John Coltrane, trilha sonora de café com chuva, quantos anos seriam necessários?
Evitar a rua e ficar por conta de filmes do Truffaut falando de gente morta?
Desistir de abordar uma morena bonita que retribuiu teu flerte?
Reparar demais nas casas e janelas cheias de risadas?

Como fazer para nos entendermos com nós mesmos? Essa eterna briga de vontades, essa peleja de desistências?

Confuso e confuso.
Vou ver tevê com minha nova colcha de retalhos."

quarta-feira, 14 de julho de 2010

"Lua, frio, chá e simpatia. Ao lado, me tirando o sossego desde a chegada, parada na frente do carro, fotografando sei lá o quê. Desde então a vi pelos corredores, no almoço e na janta. Mas foi vê-la sentada no degrau, só que nem eu me sentia, que me despertou a vontade de conhecê-la. Mais simples do que eu imaginava ou tentei fazer ficar. Foi bom, o sorriso era lindo e as bochechas também. Pediam um beijo estalado, que não tive motivo para dar. Valeu cada segundo sentado ali, ou ali, no degrau ou cadeira, vendo-a de frente, lado ou costas. Valeu despedir com um sorriso e um elogio. Completou a passagem por um lugar que tomei como meu, um céu que me esconde e me acolhe, uma imensidão que me amplia a alma e afaga o coração."

domingo, 11 de julho de 2010

"Anteontem, quinta-feira, resolvi subir mais um degrau. Na verdade, subi sem nem mesmo perceber. O tempo foi ficando para trás, com cores diferentes no horizonte e novos sorrisos no álbum. Alguma cumplicidade discreta, possível, talvez.
De cima desse novo patamar, vejo agora meu chão, novo chão. Diferente do antigo chão que costumavam me roubar, e que me passou agora, com a cara dos últimos ladrões estampadas na foto de um amigo.
Vejo também meu novo redor, com suas partes, almas presentes, carinhosas e maduras, sinceras e modestas. Simples no todo. Vejo afinidade, vejo objetivo e me vejo em paz.
Vi no sul de Minas tenho mais uma cidade para visitar e conhecer, que tem no nome a minha cor favorita. Tenho também outro canto, escondido aqui perto, encravado no cerrado, ofuscado por um céu que me tira as palavras. Lá posso ir e ficar sozinho, comigo e com os outros.
Vejo as conversas que não se acabam, sempre deixando coisas por dizer e sorrisos por trocar. Dessas conversas me surge vontade de olhar de perto, de abraçar e olhar de novo. Dessas conversas firmo o pé no novo degrau. Firmo a alma e o coração para não deixarem nunca de bater, pulsar, viver.
"A vida pede para ser vivida." me disse meu pai numa conversa das muitas que sempre temos, das várias que surgem e tomam corpo. É dessa vida que me faço substância, que me moldo e me consolido no estar aqui agora, nem antes/ontem ou depois/amanhã.
Vi também que a passada para uma nova fase não foi só minha. Foi ao meu redor, como se contagiada pela mudança vizinha. Sinto mais segurança em quem realmente dela carece. Mais segurança em si mesmo, frente a mudanças bruscas, de hábito e de rumo.
Vi e continuo vendo afinidade e objetivo. Vejo paz aqui, para mim e para você."

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Idas que parecem voltas


"E aí? Como foi? Pra mim foi ótimo, providencial, até.
Fui num dia, estiquei mais dois, vivi todos feito muitos, demais!
Fui e cheguei, no mesmo passo, com pesos diferentes a carregar. Deixei vários no caminho e na estada. Na estrada de volta, não deixei nada, só a saudade de algo bom que não sei nomear.

Vi de tudo um pouco.
Assisti notas musicais furando a pele, cores saindo dos violões, sorrisos dançando.
Olhei pela esquina da igreja, enorme, incólume e silenciosa. Lá dentro paz em forma de arte, rubis transmutados em gotas de sangue. Sinos majestosos guiados por mãos pequenas, olhando curiosas lá de cima.
Vi calor nas acolhidas, nas novas mãos que apertei, novos abraços que ganhei. Sabores novos, esquecidos por um tempo, que me fizeram esquecer. Mas também me lembraram do calor que pode existir numa tarde de inverno, espremida entre duas noites geladas só no vento - o calor das acolhidas e abraços fez tudo se aquecer.
Futebol na rua, entre o cemitério e o buteco, copo de cerveja e rua de pedra. A rotina que não muda, a missa que chama e a água que abençoa.

Pensei também um bocado. Revi e refiz conceitos, recriei meu passo, meu jeito de andar. Olhei as fotos e tirei novas. Pensei em fotos pra tirar, com a máquina e com a memória. Não escrevi uma linha enquanto estive fora. Daqui para frente elas vão saindo, na medida em que for hora de compartilhar, emprestar para todos nós palavras novas e velhas, para dar alento a quem precisando esteja. Pra dar sorriso a sorrisos chateados, dar abraços em corações, e empurrões para lágrimas, em último caso."

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"De novo essa mania de pensar enquanto observa o que está do lado de fora da janela. Pensar demais e em tudo. De formas até obssessivas.
Pensar no que a mina da frente está pensando, se suas olheiras são de noite mal-dormida ou de choro que não deixa dormir de jeito nenhum.
Pensar se quem está a seu lado está sentindo a serenidade que emana de você mesmo, numa esperança vã de criar contatos, laços momentâneos numa cidade enorme e sem rosto.
Pensar no que o poodle da senhora estaria pensando e querendo dizer ao subir no banco da praça, abanar o rabo e deitar-se, como quem convida o amigo a sentar-se também.
Pensar nas milhares de músicas que devem estar tocando nos milhares de aparelhinhos plugados à orelha de cada um e tentar adivinhar se alguém ouve a mesma música que você, em algum lugar do planeta, que seja.
Tentar não levar os pensamentos a patamares que não cabem, que não ocorrem e raramente vão satisfazer.

Lembrar do horizonte na imensidão de algum campo, que te puxa e te acalma, te lava a alma e oferece repouso entre todos os tons de cor e som que estão ali, todos os dias."