"Tem um amigo meu que é bobo e chora vendo filme. Chora de soluçar, não é mentira. Eu garanto.
Esse meu amigo também é palhaço que só vendo; faz de tudo pros outros ficarem felizes, nem que para isso seja necessário passar por situações ridículas. Faz de tudo por sorriso ou gargalhada dos outros.
Ele gosta de beber cerveja e dá risadas altas e contagiantes quando está sentado em alguma mesa de buteco. De vez em quando, inventa de ser garçom e vai buscar a garrafa ele mesmo, só pra bater papo com o dono do bar e com os garçons de verdade.
Ele sempre tem alguma novidade, uma coisa pra te contar, uma idéia maluca que ele inventa na hora, olhando para o que quer que esteja passando pela rua.
Gosta de fazer comida, apesar de não ser tão bom cozinheiro assim. Gosta de ver todo mundo enchendo o prato, lambendo os beiços.
Adora fazer bagunça, dar uns gritos estranhos em meio a saltos incompreensíveis. Pular no sofá, aumentar o volume e chutar alguma coisa no caminho, mesmo que machuque o pé. Daí fica mancando, mas continua na mesma maluquice de antes. E acaba que todo mundo se contagia e surta junto, fazendo do lugar um hospício.
Gosta de fazer as coisas bem-feitas, sabe? Seja trabalho ou hobbie; não sossega enquanto não estiver satisfeito.
Faz e toma café feito um louco. Tanto que outros amigos fazem questão de tomar um café feito por ele; eu sou um desses. Então fica tomando café, conversando empoleirado em alguma grade, agachado no solzinho de inverno ou ouvindo o jazz do John Coltrane, com a chuva lá fora e o pão, quentinho, na mesa.
Faz bagunça no quarto, empilha livros ao lado do travesseiro e desenhos na mesa. Dorme de janela aberta e acorda com qualquer barulhinho. Às vezes acorda com falta de ar, e acaba dormindo sentado. No inverno, dorme com um moletom enorme, com um capuz que cobre toda sua cara e ele fica parecendo um guaxinim.
Gosta de abraçar o cachorro dele, bem apertado.
E sei também de uma coisa, mas não conte pra ninguém: ele quase sempre chorava abraçado com esse cachorro, depois que todos iam embora ou quando aconteciam coisas chatas. Coisas que ele não controlava, mas queria.
Coisas que não eram culpa dele."
Muitas vezes não somos sinceros com nós mesmos. Definir pode ser tanto limitar quanto enganar...
ResponderExcluirAlém disso, ficamos sem falta de ar quando descobrimos que não existe controle, e sim vontades. Próprias, incitadas, criadas, cultivadas, mantidas, ignoradas, ad infinitum.
Sendo assim, a culpa é de todo ser humano. Sem definições ou limitações.
caro "Anônimo", como vc percebeu, eu falava de mim mesmo; curioso pois a falta de ar é algo muito pessoal, q só uma pessoa havia presenciado...interessante vc se focar em um detalhe tão discreto, e discorrer sobre controle e vontades, quando a falta de ar eu não podia controlar.eu não tinha nenhuma outra intenção ao mencioná-la...
ResponderExcluirde qqer forma, obrigado por ler e comentar!