"Outro dia me veio à cabeça a função das coisas, mais precisamente do alpendre.
Alpendre, varanda, sacada...todos com as mesmas. várias funções.
No caso, agora serviria para fingir que sumi, que desfiz em poeira, pra longe desse ruído que me cerca: tevê, máquina de lavar, torneira. Tudo isso rodeia de uma forma tão ensurdecedora que chegar a fazer suar, palpitar. Com certeza seria um bom lugar pra se esconder, no escurinho, olhando a rua, os carros, as gentes, seja no mesmo nível, seja lá de cima, do alpendre suspenso do prédio.
Serve também para sentar depois do almoço, aquele almoço. Sentar e deixar o tempo passar enquanto se saboreia os últimos estalos dos temperos. Sentar para não "fixar a vista" depois de comer, pra não passar mal - sempre diz a minha mãe. Sentar e pensar que rumo tomará a tarde, a noite. O domingo ou mesmo a segunda-feira corrida. um bom alpendre, quaisquer cinco minutos revigoram como banho de cachoeira ou cerveja gelada na ressaca.
Falando nisso, foi no meu alpendre-varanda que tomei as melhores cervejas de minha vida, com meus grandes amigos, que sentem a falta de tal cômodo tanto quanto eu. E foi sentado no sofá ali espremido que trouxe pão quente e café recém coado para aquela que realmente mereceu. Café com pão com Coltrane. E aquilo venceu até a chuva que caía tentando nos intimidar. Me vence no quesito saudade até hoje.
Alpendre é para sentar no canto, desenhar no chão e engatinhar. É pro cachorro esfriar a barriga numa tarde calorenta. É para lavar no sábado cedo e ficar olhando a água evaporar rápido. É pra mudar móvel de lugar, debruçar na grade, sentar nos degraus. É para juntar todo mundo e tirar foto, é pra onde duas pessoas sempre vão, numa festa de casa cheia, se por acaso ainda não são um casal.
Queria um alpendre assim, portátil, para carregar para o serviço, para lugares onde ele se faz necessário.
Lugar onde o silêncio é cobertor, onde a saudade senta do lado e o amor flui pelos poros."
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
terça-feira, 16 de novembro de 2010
e assim, renascendo, se compra o pão de manhã.
"É hora de andar com as próprias pernas, sem esperar que outras te acompanhem. Não que isso seja ruim, mas que no momento não urge. Não deixa o tempo mais lento, não no sentido que preciso ter.
É a hora de pular o muro e correr pelo terreno cheio de mato da descoberta e da falta de pressa. Tal como fazíamos quando pequenos. O universo do conhecer não tem limites e te empurra cada vez mais adiante. Nesse universo, estar só ou acompanhado é opção. E ambas são excelentes escolhas.
Escolhas de amar de forma imprudente, leviana, talvez. Escolha de seguir o caminho e escolher pela adversidade do cascalho e rispidez da água gelada.
Resolução indefinida do que se quer, mas certeza absoluta de onde se vai e como vai chegar. Certeza plena de calos e tropeços. De chuva fria, de noite lamaçenta. De lua pálida lá em cima, mas de campo limpo e silencioso cá embaixo, em frente aos olhos.
Outros olhos que te vigiam de longe e de perto, mais perto que se gostaria, mas escondidos da vista que se encheria de júbilo e surpresa e medo.
Vidas de todos os tamanhos e origens, sem pressa por vivê-las, sem medo que possam acabar.
Trechos longos a transpor, que vão te consumir em dores nas costas e suor no peito. Cama que te espera, te acolhe como um ninho, chuveiro que te benze, como o céu.
Tudo isso tenho pela frente.
E tudo isso não troco por nada."
É a hora de pular o muro e correr pelo terreno cheio de mato da descoberta e da falta de pressa. Tal como fazíamos quando pequenos. O universo do conhecer não tem limites e te empurra cada vez mais adiante. Nesse universo, estar só ou acompanhado é opção. E ambas são excelentes escolhas.
Escolhas de amar de forma imprudente, leviana, talvez. Escolha de seguir o caminho e escolher pela adversidade do cascalho e rispidez da água gelada.
Resolução indefinida do que se quer, mas certeza absoluta de onde se vai e como vai chegar. Certeza plena de calos e tropeços. De chuva fria, de noite lamaçenta. De lua pálida lá em cima, mas de campo limpo e silencioso cá embaixo, em frente aos olhos.
Outros olhos que te vigiam de longe e de perto, mais perto que se gostaria, mas escondidos da vista que se encheria de júbilo e surpresa e medo.
Vidas de todos os tamanhos e origens, sem pressa por vivê-las, sem medo que possam acabar.
Trechos longos a transpor, que vão te consumir em dores nas costas e suor no peito. Cama que te espera, te acolhe como um ninho, chuveiro que te benze, como o céu.
Tudo isso tenho pela frente.
E tudo isso não troco por nada."
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Hora de escrever
"Hora de escrever. Não me pergunte por quê. Só sei que bateu a vontade, creio que na hora certa.
No sábado eu descobri que havia renascido. Assistir a uma aula que, em certo momento, parecia um espelho, um retrato. Um dia todo de desafios, de cobranças e mudanças de atitude. Um dia inteiro em que as ações foram acertadas, infalíveis. Impensadas a seu modo, sem deixar dúvida ou arrependimento.
Ainda no sábado, curti a tarde e a noite, que terminou cedo parecendo que era tarde. Curti as conversas, acontecidas ou não. Curti os sorrisos, os cabelos e as risadas. Tudo regado a chuva, regado a vento e a um horizonte branco de nuvens.
Esse renascimento me levou e ainda leva, durante a semana. Curando as tristezas antes que elas cheguem, abrindo o abraço sem saber quem vai estar dentro.
Me toca de leve, como roçar de folha caindo da árvore, ou respingo de chuva na janela do ônibus - desperta sem assustar.
Esse renascer recarrega o ânimo, estimula a continuar sendo o que se acredita, olhando em frente, para aquilo que talvez se deva.
Encoraja a explicitar seus sentimentos, encoraja a tomar coragem e a perder o medo da perda. Antecipa a alegria, mesmo que advinda de resultados não tão alegres.
Esse renascimento muda tudo. Em mim e ao redor.
Muda o tom da paisagem, o cheiro das coisas e o tamanho das horas.
Encolhe as distâncias, estreita os laços e aperta o coração."
No sábado eu descobri que havia renascido. Assistir a uma aula que, em certo momento, parecia um espelho, um retrato. Um dia todo de desafios, de cobranças e mudanças de atitude. Um dia inteiro em que as ações foram acertadas, infalíveis. Impensadas a seu modo, sem deixar dúvida ou arrependimento.
Ainda no sábado, curti a tarde e a noite, que terminou cedo parecendo que era tarde. Curti as conversas, acontecidas ou não. Curti os sorrisos, os cabelos e as risadas. Tudo regado a chuva, regado a vento e a um horizonte branco de nuvens.
Esse renascimento me levou e ainda leva, durante a semana. Curando as tristezas antes que elas cheguem, abrindo o abraço sem saber quem vai estar dentro.
Me toca de leve, como roçar de folha caindo da árvore, ou respingo de chuva na janela do ônibus - desperta sem assustar.
Esse renascer recarrega o ânimo, estimula a continuar sendo o que se acredita, olhando em frente, para aquilo que talvez se deva.
Encoraja a explicitar seus sentimentos, encoraja a tomar coragem e a perder o medo da perda. Antecipa a alegria, mesmo que advinda de resultados não tão alegres.
Esse renascimento muda tudo. Em mim e ao redor.
Muda o tom da paisagem, o cheiro das coisas e o tamanho das horas.
Encolhe as distâncias, estreita os laços e aperta o coração."
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
de novo. chorar na chuva cansa.
"Enquanto começo a escrever, a merda do facebook está carregando, com todas as promessas de contato e socialidade que nenhuma realidade poderiam te oferecer.
Depois de tantas coisas, confrontando tantas outras coisas, você vê que nada disso te satisfez ou te satisfará. Você vê que é hora de parar de tentar, parar de insistir nisso tudo.
Parece que é hora de admitir sua condição. Que é tempo de se dedicar a aquelas verdades que te confrontam quando tudo que achamos e nos foi dito ser possível, assumindo a veracidade de que nada disso que lhe dizem, sugerem, estimulam ou torçam, seja real.
Talvez seja hora de se botar nos eixos, admitindo a falta cotidiana que somos, aceitando a carência diária que nos preenche. Seria, talvez ideal, reconhecer nossa fraqueza e incapacidade, de poder chegar a quem quer que achemos merecer, e dizer que gostaríamos de estar perto, fazer parte, tocar junto, mútuo.
Não sei o que se passa, não faço a mínima idéia. Gostaria de ter perspicácia ao menos para perceber essas sutilezas e de poder tomar a frente, fazer acontecer da forma que acredito ser digno, respeitoso, sincero.
Gostaria que fosse menos difícil entender as pessoas, e que fosse, igualmente capaz de dizer algo que as suprisse."
Depois de tantas coisas, confrontando tantas outras coisas, você vê que nada disso te satisfez ou te satisfará. Você vê que é hora de parar de tentar, parar de insistir nisso tudo.
Parece que é hora de admitir sua condição. Que é tempo de se dedicar a aquelas verdades que te confrontam quando tudo que achamos e nos foi dito ser possível, assumindo a veracidade de que nada disso que lhe dizem, sugerem, estimulam ou torçam, seja real.
Talvez seja hora de se botar nos eixos, admitindo a falta cotidiana que somos, aceitando a carência diária que nos preenche. Seria, talvez ideal, reconhecer nossa fraqueza e incapacidade, de poder chegar a quem quer que achemos merecer, e dizer que gostaríamos de estar perto, fazer parte, tocar junto, mútuo.
Não sei o que se passa, não faço a mínima idéia. Gostaria de ter perspicácia ao menos para perceber essas sutilezas e de poder tomar a frente, fazer acontecer da forma que acredito ser digno, respeitoso, sincero.
Gostaria que fosse menos difícil entender as pessoas, e que fosse, igualmente capaz de dizer algo que as suprisse."
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