"Dia estranho e calorento. Boa vontade matinal derrubada por gente imbecil. Bom dia ao trocador, bom dia à moça que se sentou ao lado, bom dia ao porteiro e ao segurança. Bom dia ao restante.
Por um tempo durou o sol morno a aquecer as costas, o cheiro do café ali embaixo e a passarinhada fazendo rasante na cabeça da gente.
A mesquinhez se mostra assim que raia o dia. E parece que só eu a vejo. E mostrá-la aos demais causa surpresa. Mesquinhez tornou-se, de tão comum, algo alienígena, novo, quase herético. Absurdo alguém falar disso!
Mas é. Está e faz questão de gritar para chamar atenção, por mais feia que seja. Como dizem, é feia, mas é gostosa - atrai todos a se pegarem com ela.
Bom, o estrago já estava feito e durou o resto do dia, infelizmente e por mais que tentasse arrancar um sorriso e quebrar as pernas desse estorvo.
Bom, o que piora isso é que falta, já cansei de me queixar aqui, alguém. Alguém, que nem o tiozinho do balcão de classificados. Alguém para quem se possa resmungar disso. Resmungar de como as pessoas podem ser sacanas e estragar seu dia num piscar de olhos, sem motivo, só para satisfazer seus malditos egos.
Eu já devia estar acostumado a tudo isso, mas a eterna crença na mudança de paradigma da humanidade sempre me passa rasteira. Normal. Vou me acostumando. Só que seria melhor ir acostumando com alguém por perto pra poder comentar como as coisas continuam tudo na mesma toada.
Bom, no fim das contas, é o que vi hoje: continuamos escrevendo sobre finais felizes. Não importa o que acontecer(depois toma rasteira e reclama)."
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Procura-se
"A secretária do jornal não soube como reagir diante do pedido categórico do cliente, debruçado no balcão.
-Classifique como quiser: namorada, parceira, amiga, consultora, colega, amor ou paixão ou alguém. Desde que escreva e publique - disse.
Procura-se moça bonita, daquelas de tirar o fôlego, de fazer virar o pescoço, de sentir frio na espinha ou arrepio na nuca. Pode ser, também, que essa beleza toda só se mostre para você, sem que ninguém mais ao redor a perceba como você percebe.
Essa beleza não dá pra definir se é física, química ou espiritual. É daquelas que surgem, emanam da pessoa como geada na grama de manhã cedinho. É algo quase fantasmagórico. Por isso arrepia tanto a gente.
Procura-se aquela pessoa que vai te ajudar a viver. Te ajudar a curtir, ainda mais, o viver. A pessoa que só com os olhos ou a voz, te acalma e te faz sorrir de novo, por pior que seja a tensão. É de quem a energia que falei antes surge e se, te alimenta. De onde, provavelmente, vai vir sua pressa, suas vontades, seus gastos e extravagâncias.
Procura-se pessoa que sinta junto, que saiba te ouvir fingir ser poeta. Que sente contigo, ou que leia uma linha bacana do livro por cima de seus ombros. Que debruce no seu colo como gato-criança. Que te distraia sem o mínimo esforço de seus afazeres, que te roube ou te dê tempo. Que reclame pedindo, com manha, que você vá buscá-la se chover. Que a leve se ela se atrasar. Até ali, na esquina, no portão, no ponto de ônibus ou na frente do serviço.
Procura-se quem fique pensando em sumir no mapa, em alguma cidadezica pequena, pequena, cercada de cachoeiras e matagais. Mas que também adoraria ter um apartamento no quinto, sexto andar, com uma varandinha besta, com cadeira, almofada ou rede, onde vocês vão sentar e ver a cidade esfriar e resolver ir dormir na segunda de noitinha, quando o calor expulsar os dois da cama.
Alguém que goste de música. Que dê sorrisos escancarados só de pensar naquela banda. Que te puxe da cadeira pra dançar junto com ela, botando o som lá em cima e os sapatos lá pra baixo da mesa da cozinha. A que faça ou mereça um ataque de cócegas que só pára com falta de ar. Que caia com você no tapete da sala, olhando ambos feito bobo o teto com a lagartixa no cantinho.
Procura-se a solução para uma tarde ou noite mal dormidas, por causa de trabalho, gripe ou amor. O motivo para passeios sem rumo, sem hora e sem nem mesmo se preocupar com o clima. A que fica linda com qualquer roupa, porque é ela que está vestindo. A que chega com o filhotinho no colo e nas mãos a sacola com brinquedo, lacinho, vasilha e coleira. A ração? Ih, amor, esqueci!
Procura-se, mesmo sabendo da aparente raridade desse alguém."
-Classifique como quiser: namorada, parceira, amiga, consultora, colega, amor ou paixão ou alguém. Desde que escreva e publique - disse.
Procura-se moça bonita, daquelas de tirar o fôlego, de fazer virar o pescoço, de sentir frio na espinha ou arrepio na nuca. Pode ser, também, que essa beleza toda só se mostre para você, sem que ninguém mais ao redor a perceba como você percebe.
Essa beleza não dá pra definir se é física, química ou espiritual. É daquelas que surgem, emanam da pessoa como geada na grama de manhã cedinho. É algo quase fantasmagórico. Por isso arrepia tanto a gente.
Procura-se aquela pessoa que vai te ajudar a viver. Te ajudar a curtir, ainda mais, o viver. A pessoa que só com os olhos ou a voz, te acalma e te faz sorrir de novo, por pior que seja a tensão. É de quem a energia que falei antes surge e se, te alimenta. De onde, provavelmente, vai vir sua pressa, suas vontades, seus gastos e extravagâncias.
Procura-se pessoa que sinta junto, que saiba te ouvir fingir ser poeta. Que sente contigo, ou que leia uma linha bacana do livro por cima de seus ombros. Que debruce no seu colo como gato-criança. Que te distraia sem o mínimo esforço de seus afazeres, que te roube ou te dê tempo. Que reclame pedindo, com manha, que você vá buscá-la se chover. Que a leve se ela se atrasar. Até ali, na esquina, no portão, no ponto de ônibus ou na frente do serviço.
Procura-se quem fique pensando em sumir no mapa, em alguma cidadezica pequena, pequena, cercada de cachoeiras e matagais. Mas que também adoraria ter um apartamento no quinto, sexto andar, com uma varandinha besta, com cadeira, almofada ou rede, onde vocês vão sentar e ver a cidade esfriar e resolver ir dormir na segunda de noitinha, quando o calor expulsar os dois da cama.
Alguém que goste de música. Que dê sorrisos escancarados só de pensar naquela banda. Que te puxe da cadeira pra dançar junto com ela, botando o som lá em cima e os sapatos lá pra baixo da mesa da cozinha. A que faça ou mereça um ataque de cócegas que só pára com falta de ar. Que caia com você no tapete da sala, olhando ambos feito bobo o teto com a lagartixa no cantinho.
Procura-se a solução para uma tarde ou noite mal dormidas, por causa de trabalho, gripe ou amor. O motivo para passeios sem rumo, sem hora e sem nem mesmo se preocupar com o clima. A que fica linda com qualquer roupa, porque é ela que está vestindo. A que chega com o filhotinho no colo e nas mãos a sacola com brinquedo, lacinho, vasilha e coleira. A ração? Ih, amor, esqueci!
Procura-se, mesmo sabendo da aparente raridade desse alguém."
sábado, 16 de outubro de 2010
"Gente escrota e mal educada tem em todo lugar. É o que dizem sempre.
Tá, mas é porque tem em todo lugar que tenho que tolerar? É por isso que tenho que aceitar chiliquinhos de grosseria e babauquice por causa de problemas que, com certeza, são da sua conta e só você sabe quais são?
Não tem jeito de tentar desfazer isso? Desarmar-se? Fazer o oposto do trivial? Já falei isso aqui. Fazer o inesperado até mesmo para você e suas convicções? Difícil? Quer dizer então que já tentou.
Bom, o lance é que isso tudo que se faz, ressoa a sua volta e contamina todo um universo ao seu redor. Estraga o dia de muitas pessoas e você nem percebe. Ou percebe e julga que sua posição te permita e até te justifique tais palhaçadinhas.
Olha, acho que pra curar isso, seria bom pegar um busão, daqueles bem lotados, dar uma volta no centro, de dia, ou de noite, ver o que existe no mundo que engloba e engole o seu num piscar de olhos, todos os dias e que faz tudo que você acha ser a maestria do cosmos a seu favor, se tornar a coisa mais insignificante. É aí que você se vê no espelho. Sozinho, amargurado, perdido.
Torço e não torço para que isso te aconteça, já que decidi, há um bom tempo, que vou mais é fazer o inesperado à opinião do mundo.
Torço também, para que você faça parecido e note o que te acontece ao redor."
Tá, mas é porque tem em todo lugar que tenho que tolerar? É por isso que tenho que aceitar chiliquinhos de grosseria e babauquice por causa de problemas que, com certeza, são da sua conta e só você sabe quais são?
Não tem jeito de tentar desfazer isso? Desarmar-se? Fazer o oposto do trivial? Já falei isso aqui. Fazer o inesperado até mesmo para você e suas convicções? Difícil? Quer dizer então que já tentou.
Bom, o lance é que isso tudo que se faz, ressoa a sua volta e contamina todo um universo ao seu redor. Estraga o dia de muitas pessoas e você nem percebe. Ou percebe e julga que sua posição te permita e até te justifique tais palhaçadinhas.
Olha, acho que pra curar isso, seria bom pegar um busão, daqueles bem lotados, dar uma volta no centro, de dia, ou de noite, ver o que existe no mundo que engloba e engole o seu num piscar de olhos, todos os dias e que faz tudo que você acha ser a maestria do cosmos a seu favor, se tornar a coisa mais insignificante. É aí que você se vê no espelho. Sozinho, amargurado, perdido.
Torço e não torço para que isso te aconteça, já que decidi, há um bom tempo, que vou mais é fazer o inesperado à opinião do mundo.
Torço também, para que você faça parecido e note o que te acontece ao redor."
terça-feira, 5 de outubro de 2010
"Numa conversa entre amigos, o papo era sobre coisas que fizeram, que não lhes agradava tanto. Como uma página de livro que deveria, se pudesse, ser arrancada.
O outro argumentava que seria e preferia, simplesmente, ao invés de arrancar tal página, melhor deixar de ler a mesma com tanta frequência, simplesmente deixar sumir a marcação que para ela atraía a atenção.
Completou com a constatação essencial que, desse livro, as páginas não saem e a tinta não borra.
O complicado é que tem horas que as páginas novas, mesmo lidas, permanecem em branco, sem revelarem seu conteúdo. Ficam um bom tempo como que escritas com tinta invisível, que só nos aparece na lembrança daquela primeira leitura. Não há forma de reler com outro olhar, com outra crítica, autocrítica. Não há como grifar, marcar, copiar e entender. Isso só mais adiante, quando crescemos e aprendemos a ler o outro idioma que se esconde nas palavras ali escritas.
Falando em palavras, as do Galeano me acompanharam ontem, ao ouvir a chuva que se arrastava em trovoadas de sintetizador...
"Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais."
O outro argumentava que seria e preferia, simplesmente, ao invés de arrancar tal página, melhor deixar de ler a mesma com tanta frequência, simplesmente deixar sumir a marcação que para ela atraía a atenção.
Completou com a constatação essencial que, desse livro, as páginas não saem e a tinta não borra.
O complicado é que tem horas que as páginas novas, mesmo lidas, permanecem em branco, sem revelarem seu conteúdo. Ficam um bom tempo como que escritas com tinta invisível, que só nos aparece na lembrança daquela primeira leitura. Não há forma de reler com outro olhar, com outra crítica, autocrítica. Não há como grifar, marcar, copiar e entender. Isso só mais adiante, quando crescemos e aprendemos a ler o outro idioma que se esconde nas palavras ali escritas.
Falando em palavras, as do Galeano me acompanharam ontem, ao ouvir a chuva que se arrastava em trovoadas de sintetizador...
"Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais."
domingo, 3 de outubro de 2010
pauleira
"Intensidade. Foi isso que rolou essa semana toda. Semana intensa, desde quinta passada, talvez. Roubada que escapei, beijo, suor, cerveja a rodo, visita à terra dos ancestrais, busão que quase perco, gatinhas, breja cos turta, caminhada extenuante até em casa, coisas que li e escrevi e fiz bem feito, conversas, ajudas, chuvas torrenciais de primavera, gororoba mequidonalds, mais chuva, sapo em vários lugares, umas palas, coração na boca, revelações pra quem sabe alguém ouvir, samba no bairro velho, notícia boa do bairro velho, aniversário à vista, com pizza e breja e friends, camiseta que ficou bonita, pitanga que não pára de aparecer, jabuticabas filhotes, esquema massa no antigo endereço, ansiedade de ver os amigos, de botar o som, de entregar camiseta. Músicas legais demais, tipo trilha sonora do rolê, sentado no ponto de ônibus e vendo a cidade pulsar ao seu (e meu) redor.
Perder o medo, fazer o que se decide assim, no estalo.
Mandar tomar no **, desbaratinar, acordar e quebrar as expectativas de todos com seu bom humor e bom dia, fazendo o oposto do que esperariam de você.Fazer isso prolongar a alegri que começou faz tempo, espalhando e contagiando os outros, perto e longe, conhecidos ou não.
Foi assim que eu fiz esses dias."
Perder o medo, fazer o que se decide assim, no estalo.
Mandar tomar no **, desbaratinar, acordar e quebrar as expectativas de todos com seu bom humor e bom dia, fazendo o oposto do que esperariam de você.Fazer isso prolongar a alegri que começou faz tempo, espalhando e contagiando os outros, perto e longe, conhecidos ou não.
Foi assim que eu fiz esses dias."
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