quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Tal como hoje

"Acorda-se tentando imaginar como está o céu, com receio de olhar pela fresta da cortina e constatar que o cinzento permanece. Cinzento tão aguardado, fresco e com chuva que espantou o mormaço e o mau humor. Acorda-se e percebe que o cinzento que surgiu recentemente, tão aguardado e não conseguido, ainda continua e aumenta de intensidade. Toma uma forma inesperada. Pesada por si só. Sente o que antes não teve forças para fazer concreto, por fraquejar ao ver a tristeza. Sente o lado oposto, a tristeza sentida do lado de lá do muro. A iminência da ausência e o medo do abandono. O que antes seria o ideal, o correto, agora se assume como saudade. O que antes era corriqueiro e normal, agora se faz presente, intenso e pulsante. Agora se faz notar a todo momento, revirando poeiras há muito quietas. Busca-se, porém, seguir adiante, relembrando cheiros recentes, sorrisos ainda crus e cumplicidades recém descobertas. Busca-se o foco oculto nas fotos já tiradas, nas divergências musicais veladas. Busca-se o seu. Aqui e ali. Faz-se abrindo a janela. Vendo tudo começar de novo, à medida que o café te esquenta a ponta do nariz dentro da caneca."

Nenhum comentário:

Postar um comentário