"Outro dia reparei que me faz falta poder ver telhados. Isso, de cima. Não sei por que mas adoro olhar os telhados e as vidas que seguem ali. Sejam essas vivas ou não. Plásticas ou orgânicas. Sejam essas quais forem.
Gosto de ver os lagartos que se escondem embaixo de chinelos com as tiras arrebentadas.
Gosto de admirar as pequenas plantas que resolvem florescer na sujeira acumulada no bojo plástico de uma pipa velha caída ali.
Gosto de acompanhar o ciscar teimoso de pombas burras.
Tem horas que só o horizonte não basta aos olhos.
Talvez fosse melhor um horizonte com horizontes mais amplos e luminosos, com menos chuvas incertas e mais geadas surpresa. Mais horizontes coloridos, anunciando frio ou noite abafada.
Anunciando que toda essa canseira disfarçada, toda essa angústia idiota e teimosa vai se desfazer.
Avisando que o sol lá vem, seja na estrada, na janela, no caminho de casa.
Quero mesmo é que eu sorria."
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